Hidrovias e saneamento: demandas de MT na pauta da Engenharia

Brasília, 29 de setembro de 2017.

"Conselheiro federal pelo Crea-MT, eng. civ. André Schuring"

Na próxima semana, Cuiabá (MT) recepciona profissionais da área tecnológica para debater questões relacionadas à gestão adequada e sustentável dos recursos hídricos.

Durante o Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o 8º Fórum Mundial da Água, organizado pelo Confea em parceria com o Crea-MT entre os dias 2 e 4 de outubro no Hotel Deville Prime, especialistas terão a oportunidade de contribuir tecnicamente para os desafios enfrentados atualmente na localidade, como o tratamento adequado da água para consumo humano. “Os profissionais de Mato Grosso têm algumas dificuldades com trato da água e com o saneamento. Nossas cidades têm índices muito baixos de tratamento de resíduos. É uma forma de discutir, de tentar melhorar as questões relacionadas a água, saneamento e saúde”, alerta o conselheiro federal pelo Crea-MT, eng. civ. André Schuring, em entrevista concedida ao site do Confea.

Igualmente importante é a questão relativa ao escoamento de produção agrícola pelo modal fluvial a fim de reduzir o custo logístico, conforme sugere o conselheiro federal: “Nós escoamos muito pouco por hidrovias na região Centro-Oeste. Se partindo de Mato Grosso, por um porto que tem em Cárceres, chamado Morrinhos, você conseguiria fazer uma rota que chegaria ao expoente do Prata, até Foz do Iguaçu. Isso facilitaria muito o transbordo”. Confira a íntegra da entrevista:

 


Site do Confea: Nos Preparatórios de Campinas, Manaus, Colatina e Camboriú foi ressaltado que é dos profissionais da área tecnológica que se espera a maior contribuição para o Fórum Mundial. Qual sua avaliação sobre a iniciativa de o Sistema Confea/Crea e Mútua promover esse ciclo de palestras com foco principalmente nas soluções para a crise hídrica?

André Schuring: É uma iniciativa muito boa, que faz com que o meio técnico possa aguçar a sua identificação técnica com as apresentações que têm sido feitas em outros estados. O Preparatório de Mato Grosso vai ser a quinta reunião, e isso se reveste de uma importância muito grande porque profissionais do Brasil inteiro estão imbuídos nessa identificação com o Fórum Mundial da Água, que vai ser realizado no ano que vem.

 

Site do Confea: Mato Grosso é um dos lugares com maior volume de água doce no mundo e considerado a caixa-d'água do Brasil. Foi, inclusive, classificado como Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera pela Unesco. É o único estado brasileiro a abranger três biomas diferentes (Amazônia, Cerrado e Pantanal). Que contribuições profissionais da área tecnológica de todo o país podem apresentar durante o evento preparatório na capital mato-grossense?

A.S.: Mato Grosso é um dos estados brasileiros identificados pela biodiversidade. Lá nós temos os ecossistemas Pantanal, Cerrado e Amazônia, além da nascente do Rio Paraguai, que fica na cidade de Alto Paraguai. Os profissionais do estado têm algumas dificuldades com trato da água e com o saneamento. Como em todo o Brasil, lá tem os mesmos problemas. Nossas cidades têm índices muito baixos de tratamento de resíduos, principalmente da questão da própria água. Os rios têm os mesmos problemas que o Brasil inteiro tem em relação à poluição. É uma forma de discutir, de tentar melhorar as questões relacionadas a água, saneamento e saúde. A falta de saneamento significa que você vai ter um problema muito sério no futuro em relação à saúde, porque a maioria das doenças é decorrente da falta de tratamento conveniente, tanto do esgoto, quanto da água de consumo.

 

Site do Confea: Cuiabá fica no centro geodésico da América Latina, ou seja, localizada exatamente no meio do caminho entre o Atlântico e o Pacífico. Isso significa fácil escoamento da produção?

A.S.: As safras ainda são levadas infelizmente por rodovias, mas precisamos discutir essa questão de logística ligada a hidrovias, que passa a ser um modal diferencial, uma possibilidade de escoamento que hoje não existe. Nós escoamos muito pouco por hidrovias na região Centro-Oeste. Se partindo de Mato Grosso, por um porto que tem em Cárceres, chamado Morrinhos, você conseguiria fazer uma rota que chegaria ao expoente do Prata, até Foz do Iguaçu. Isso facilitaria muito o transbordo e a identificação de fornecimento para o Porto de Paranaguá, ou mesmo da Argentina, que poderia fazer a retirada desse produto. Isso pode ser discutido neste fórum: a utilização da água como via de escoamento da produção, como é em outros países, com vista à redução do custo de transporte.

 

Site do Confea: De acordo com integrantes da organização do Fórum Mundial da Água, o Fórum não vai ser brasileiro. Vai ser latino-americano, com o tema “Compartilhando água”. Eles utilizam como exemplo rios que passam por Espanha, Portugal e França. Se cada um for legislar sobre os rios à sua maneira, cria-se uma crise internacional. 33% do Rio Paraguai está no Brasil. O restante passa pela Argentina, pela Bolívia e pelo Paraguai. O senhor acredita que os profissionais de Mato Grosso podem levar experiências com esse tema para o Fórum Mundial de 2018?

A.S.: Essa situação é bem bacana porque nosso estado, como já falamos, é nascente de vários outros rios. A experiência de outros países com relação ao trato que se deva dar é bem-vinda porque na verdade o Rio Paraguai é internacional, apesar de 33% ficar em território brasileiro e o estuário ser em Buenos Aires, na Argentina. Qualquer dificuldade relacionada ao rio tem reflexo marcante nesses outros países. O fórum de discussão será uma oportunidade para compartilharmos que políticas nós tomamos aqui e que eles tomam lá. Outra questão que temos: não só esse rio, mas todos precisam de uma política, de forma muito marcante relacionada à mata ciliar, por exemplo. Nossos rios estão recebendo todos os dejetos do uso humano e não têm mais capacidade de diluição desse material todo. Hoje há uma série de problemas nas bacias do Pantanal, porque o lixo urbano está sendo carreado, o que mata fauna e flora. Isso precisa ser bem discutido.

Beatriz Leal e Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea