Geólogo convoca ação urgente contra crise ambiental em novo livro

Brasília, 16 de setembro de 2024.

Quer se engajar no movimento urgente para evitar mais devastação no planeta? Um ponto de partida é a leitura do livro Planeta Hostil, escrito pelo doutor em geologia Marco Moraes. A publicação expõe as duras realidades que enfrentamos, como as alterações climáticas e o esgotamento de recursos naturais, e também faz apelo contundente para que todos ajam contra uma grande catástrofe ambiental.

Ao longo dos capítulos, o geólogo formado pela Universidade Federal da Bahia, em 1980, e doutor pela Universidade do Wyoming (EUA) analisa uma série de impactos ambientais causados pela humanidade, como a pesca predatória e a queima de combustíveis fósseis, categorizando cada problemática como real, possível, alarmista e urgente. Para o pesquisador, os efeitos do que fizemos à Terra são amplos e graves, a ponto de ameaçar a nossa própria existência. “Tempos difíceis virão. No entanto, com boa informação, realismo e pragmatismo, podemos vencer o nosso maior inimigo, que, você já sabe, somos nós mesmos”, alerta Moraes, que adota uma linguagem acessível no livro para que o conteúdo alcance pessoas de diferentes perfis.  

Na entrevista a seguir, o especialista salienta como a geologia – ciência que estuda a estrutura e os processos da Terra – pode ser uma ferramenta essencial na busca por soluções para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, oferecendo caminhos para a preservação e recuperação do meio ambiente.


Confea: Enquanto geólogo, qual foi a motivação para escrever sobre mudanças climáticas? 
Marco Moraes: Nós, geólogos, por estudarmos a história da Terra, sabemos que o planeta viveu muitas mudanças climáticas que foram comuns ao longo da história geológica. E eu trabalhei até 2017 na indústria do petróleo, no Centro de Pesquisas da Petrobras. E, claro, na comunidade do petróleo era ainda mais intensa a discussão se o aquecimento global que nós estamos vendo, e que é real, era causado por ações humanas, pela emissão de gases de efeito estufa, pelas atividades humanas ou se era mais um ciclo natural, ou é, né, já que está acontecendo. Eu comecei os meus estudos por aí, quando eu deixei a vida corporativa em 2017 e fui responder a essa pergunta e a outras que eu fazia para mim mesmo sobre o que está acontecendo no planeta. No caso do aquecimento, eu concluí, assim como a maioria dos cientistas climáticos hoje concordam, que o aquecimento é, de fato, causado pelas atividades humanas. Além disso, eu encontrei uma série de outros processos de degradação ambiental do planeta que, então, me levaram a escrever o livro Planeta Hostil.

Confea: Quais os principais alertas que o livro Planeta Hostil sinaliza para o leitor?
Marco Moraes: O livro Planeta Hostil apresenta uma descrição abrangente dos processos de degradação ambiental. O aquecimento global, por exemplo, e suas consequências; entre as quais, as mudanças climáticas são as mais evidentes, mas não são as únicas. Há outras consequências do aquecimento global, como degelo, a subida do nível do mar. Enfim, o aquecimento não se restringe às mudanças climáticas, embora seja realmente mais dramático o efeito que a gente já está assistindo acontecer à nossa volta, mas existe muitas outras coisas acontecendo. Estamos aí com uma crise hídrica global e perda de solos férteis, ambos influenciados pelo aquecimento, mas também são resultado da atividade humana. Estamos vendo uma destruição intensa de ecossistemas marinhos e terrestres, que também são efeito do aquecimento, mas muito mais das atividades humanas. A pesca excessiva nos oceanos e a poluição química e plástica são cada vez mais intensas. Tudo isso está descrito no livro e são também tão impactantes, ao ponto de ameaçar a qualidade a própria existência da vida humana.

Doutor em geologia, Marco Moraes trabalhou na Petrobras de 1981 a 2017, tendo sido a maior parte da carreira no Centro de Pesquisas da Petrobras. Após deixar a vida corporativa, passou a se dedicar ao estudo dos processos de degradação ambiental do planeta e seu impacto no futuro da humanidade

Confea: O livro aponta soluções para o cenário crítico que vivemos, marcado por eventos extremos, como enchentes históricas e secas severas?
Marco Moraes: O livro parte do princípio de que, se quisermos resolver um problema, a primeira coisa que a gente tem que fazer é conhecê-lo. Então, o foco do livro é a descrição dos processos de degradação ambiental do planeta, mas evidentemente que se a gente quiser mudar alguma coisa, a gente tem que simplesmente parar de fazer aquilo. Mas obviamente parar de fazer aquilo, ou seja, parar de emitir gases de efeito estufa, parar de destruir ecossistemas, é algo que não pode ser feito de uma hora para outra. É preciso um processo e um esforço organizado para que isso ocorra. E as soluções são diversas, dependendo do lugar e do país. Não dá para um livro apontar soluções específicas, mas o livro aponta caminhos. A questão é que se a gente continuar no rumo que a gente está destruindo os biomas, a gente vai chegar a uma situação insustentável para a vida humana. A expectativa é que nós comecemos a agir de maneira mais efetiva para que isso não aconteça.

Confea: A contracapa do livro diz: “Tempos difíceis virão. No entanto, com boa informação, realismo e pragmatismo, podemos vencer o nosso maior inimigo que, você já sabe, somos nós mesmos”. Fale da importância da divulgação científica como ferramenta de educação ambiental. 
Marco Moraes: Quando a gente fala em educação ambiental, a gente geralmente pensa nos jovens, nas novas gerações, mas o fato é que a educação ambiental tem que ser feita para todos porque o planeta está se transformando. Então, é preciso que todas as pessoas saibam o que está acontecendo para que possam ter ações, como eu falei anteriormente, de preparação e adaptação para as transformações que agora são inevitáveis, de modo a torná-las menos graves. Então, é um processo de educação e conscientização ambiental que deve ser um esforço de toda a sociedade para que possamos enfrentar esse problema munidos de melhor conhecimento porque essa é a única maneira de tomarmos as decisões corretas para o futuro.

A minha expectativa é de que, munido do conhecimento propiciado pelo livro, cada leitor possa, dentro de sua área de influência, decidir como pode atuar no sentido de se preparar para as transformações que são inevitáveis e atuar no sentido de torná-las menos graves.

Confea: Qual o papel dos profissionais da geologia no movimento que é urgente para evitar mais devastação no planeta? Como eles podem usar o conhecimento científico e a tecnologia para minimizar a crise ambiental?
Marco Moraes: A geologia tem papel fundamental no esforço de entendermos as transformações do planeta e suas consequências. Não apenas no sentido de minimizar os danos, mas, tanto quanto possível, revertê-los. Áreas, como geologia de engenharia, hidrogeologia, geologia sedimentar, geoquímica, entre outras, são essenciais para entendermos e solucionarmos os problemas, como a crise hídrica, a desertificação e a perda de solos férteis, o avanço do mar e seus efeitos nas regiões costeiras e a dispersão de poluentes. Enfim, há muito em que a geologia pode contribuir nesse esforço de preservação e recuperação do planeta.

Confea: Como a nova geração, que está na universidade ou iniciando a carreira na geologia, pode contribuir para ajudar a humanidade a se preparar para os problemas que estão acontecendo com o planeta? 
Marco Moraes: Se eu estivesse iniciando minha carreira como geólogo agora eu estaria, sem dúvida, preocupado com o que está acontecendo com o planeta, mas também com muita energia e disposição para me juntar ao esforço de entender e resolver os problemas que estão ocorrendo. Quem está iniciando agora, por exemplo, viverá para ver e atuar na grande saga da humanidade, vamos dizer assim, em busca de uma economia mais justa e sustentável e de um planeta mais saudável. Fazer parte deste esforço, eu acho que, por um lado, vai requerer uma dedicação muito grande, mas também será um privilégio, se a gente conseguir reverter esta situação. Ou seja, fazer parte deste esforço neste momento, nesta época crítica para o planeta e para a humanidade, não deixa de ser um privilégio e deveria ser uma fonte de motivação para todos os profissionais.

Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: acervo pessoal