Ética é abordada no FSM como mecanismo para a construção de um mundo melhor

Porto Alegre, 27 de janeiro de 2005


Desde de 2002 o Sistema Confea/Crea conta com um novo Código de Ética, determinação saída do IV Congresso Nacional de Profissionais (CNP). Entendendo que este é um assunto de extrema importância e que merece uma discussão permanente, o Confea realizou na manhã de hoje (27/01), dentro da programação oficial do V Fórum Social Mundial (FSM), a oficina “Ética Alicerce para a Valorização profissional”.

O filósofo e consultor do Crea-MG, José de Anchieta, primeiro palestrante da oficina, enfocou ética sob dois aspectos: os preceitos deontológicos e o ponto de vista ético propriamente dito, ou seja, o conjunto de valores da profissão.

Anchieta explicou que este segundo ponto de vista trata principalmente das bases que definem o mundo que se quer hoje e para as futuras gerações. “É uma perspectiva histórica mais aberta, retificadora dos nossos caminhos. É fundamentada no amanhã, na esperança, na intenção de promover justiça”, disse.

Com relação a primeira perspectiva, ele explicou se tratar de algo mais prático, que visa responder às demandas da profissão. “Seu primeiro alicerce é a competência atualizada. Estar a par do movimento da ciência.”

Entre os pontos que dificultam a prática da ética o filósofo destacou o individualismo. “Hoje, cada um tem seu projeto. Cada um tem sua autonomia. A grande dificuldade é construir uma  sociedade de sujeitos. Cada vez mais, a sociedade em que vivemos necessita de uma outra maneira de se organizar”, disse.

Falando sobre o entrelaçamento entre ética e conhecimento, Anchieta ressaltou que as profissões têm que ter interlocução. “Cada vez mais nós temos que saber ouvir o saber do outro”, disse, destacando também que não cabe mais discussão de reserva de mercado, os profissionais têm que ser proativos e se integrarem com outras profissões.

O segundo palestrante, arquiteto José Albano Volkmer, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil do Rio Grande do Sul (IAB-RS), chamou atenção para uma reflexão sobre honestidade no interesse social e humano. Ele levantou a questão sobre como o cidadão brasileiro poderá entender o papel do profissional da área tecnológica como de interesse social e humano.

Ilustrando a questão da ética social, Volkmer lembrou que atualmente a União Européia só aceita um país como seu membro, se além de atender a outras condições, este não possuir favelas. E lembrou que colocar fim ao quadro de favelas existentes no Brasil é uma ação de ética social a ser desenvolvida pelos profissionais da área tecnológica. “Devemos perseguir o que está no nosso Código de Ética e na Constituição Brasileira e eliminar de uma vez por todas este déficit habitacional vergonhoso do nosso país”, conclamou.

A terceira e última palestrante, engª de alimentos, Márcia Nori, sub-coordenadora do Colégio de Entidades Nacionais (CDEN) à época da formulação do novo Código de Ética, falou sobre as questões que foram levadas em conta para a elaboração do Código. Segundo ela, foram analisadas, entre outras questões, as conseqüências do desenvolvimento econômico atual como violência, desigualdades social e pobreza extrema. Além de situações de escândalos nacionais resultados da corrupção na política.  “A atual degradação moral nos leva a discutir ética”, afirmou.

A engenheira diferenciou moral de ética, destacando que a primeira trata da regulação de valores e não é estática, e que a segunda é a reflexão crítica sobre a moralidade e é voltada para a ação. “Enquanto a atitude ética é tolerante, respeita a diversidade e a pluralidade. A falta dela nos leva a auto destruição”, alertou, endossando a opinião de Volkmer com relação à prática da ética social pela área tecnológica. “Ela pode nos ajudar a combater situações indesejáveis como a pobreza”.


Bety Rita Ramos
Assessora de Comunicação Social