Engenheiros transformam casca de banana em bioplástico para embalagens

Brasília, 6 de maio de 2024.

Engenheiros estão revolucionando a indústria de embalagens com uma solução surpreendente: casca de banana. Aquela parte que normalmente vai para o lixo está se transformando em filmes bioplásticos 100% funcionais.

Com um processo simples, cientistas da Embrapa e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) converteram casca de banana em embalagens que não só acondicionam, mas também bloqueiam raios ultravioletas e são antioxidantes, o que ajuda a prolongar o tempo de vida de alimentos propensos a reações de oxidação, como é o caso de nozes e castanhas. E o melhor de tudo: zero desperdício.

Engenheira de alimentos Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo - Foto: Mariana Franzoni

A pesquisa abre caminho para uma gestão de resíduos mais sustentável, considerando que cada tonelada de banana processada pode gerar até 417 kg de cascas. Essa quantidade expressiva de subprodutos não foi ignorada pelo engenheiro químico Rodrigo Duarte Silva, que desenvolveu o filme durante o pós-doutorado, com apoio da Fapesp e CNPq e sob a supervisão da pesquisadora da Embrapa Instrumentação, a engenheira de alimentos Henriette Monteiro de Azeredo.  

“Minha maior motivação foi produzir materiais ecologicamente amigáveis, provenientes de fontes renováveis, que pudessem ser utilizados em substituição a plásticos convencionais não biodegradáveis, contribuindo assim para diminuir o impacto negativo gerado por estes últimos no meio ambiente. Além disso, os subprodutos de frutas, geralmente ricos em pectina, um polissacarídeo formador de filme, e em inúmeros compostos bioativos, normalmente são subutilizados nas indústrias, ou até mesmo descartados. Portanto, eles são uma matéria-prima com custo muito baixo, ou nenhum custo”, explica o engenheiro químico.

Engenheiro químico Rodrigo Duarte Silva - Foto: divulgação no Youtube 

O Brasil está entre os dez países que mais desperdiça alimentos. Além disso, as cidades brasileiras geraram 13,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos em 2022, ou 64 quilos por pessoa no ano, segundo dados da última edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 

O universo científico oferece diversas alternativas para mudar esse cenário, na avaliação da engenheira de alimentos Henriette. “Algumas abordagens se baseiam em evitar ou reduzir perdas e desperdícios, envolvendo campanhas de conscientização dos consumidores e melhorias nos processos industriais. Outras abordagens se baseiam em fazer uso das perdas e desperdícios para gerar energia ou novos produtos, como filmes, que é o que temos procurado fazer no nosso grupo”, comenta a pesquisadora.

Biofilme apresenta propriedades antioxidantes e proteção contra radiação solar - Foto: Maria Fernanda

Potencial 
Com pré-tratamentos que envolvem apenas água ou uma solução ácida diluída, o processo de transformação da casca de banana resulta em filmes que tiveram desempenho igual ou até superior a outros elaborados a partir de diversos tipos de biomassa, mas por métodos mais complexos e dispendiosos.

“Desde o início, esta tem sido uma filosofia do nosso projeto de pesquisa: conceber processos simples, rápidos e produtivos que utilizem reagentes pouco agressivos e tecnologias que possam ser escalonáveis, de modo a tornar o processo potencialmente viável tanto técnica quanto economicamente”, afirma Rodrigo.

Algumas propriedades mecânicas dos filmes são comparáveis às do polietileno de baixa densidade - Foto: Mariana Franzoni

Com planos de expandir o processo para uma escala piloto em um ano e meio, os dois engenheiros estão dedicados a tornar a descoberta ainda mais atrativa para o segmento industrial. Os próximos passos são realizar o experimento em escala aumentada e testar as aplicações. “O principal desafio é contornar o problema da sensibilidade do filme ao contato com água. Isso exige mais pesquisas e novamente mais tempo e recursos. Para isso, precisamos de mais financiamento, pois o projeto da Fapesp está se encerrando”, salienta Henriette que em parceria com o pós-doutorando Rodrigo estão inovando não apenas a indústria de embalagens, mas também a gestão de resíduos no Brasil.

Clique aqui para conhecer mais detalhes técnicos da pesquisa 

Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea, com informações da Embrapa e Fapesp