Gramado, 11 de agosto de 2023.
Na tarde desta sexta, dia 11, quando encerra a programação da 78ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia em Gramado, especialistas debateram o papel das engenharias, da agronomia e das geociências na política de mudanças climáticas, mostrando a contribuição dos profissionais nos estudos, coleta e análise de dados, e planejamento das ações para mitigar as consequências dos desastres naturais daqui em diante.
O painel "O Oceano Pacífico, as chuvas e a segurança hídrica: o exemplo de bacias hidrográficas" foi apresentado pelo meteorol. Lúcio Silva de Souza, professor docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ; a "Infraestrutura hídrica e drenagem urbana em tempos de mudanças climáticas" foi apresentado pelo eng. quím. Mauro Roberto Felizatto, professor pesquisador da Universidade de Brasília - UnB/ProfÁgua; e o tema "O meteorologista e a política oficial para o clima", apresentado pelo meteorol. Rômulo da Silveira Paz, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O debate foi moderado pelo eng. agr. Francisco Lira, conselheiro Federal.
Lúcio Silva de Souza apresentou diversos dados que evidenciam as mudanças climáticas nos últimos anos. Além disso, enfatizou sobre técnicas e mecanismos de estudo para previsões climáticas e de chuvas. “Porém, por diversos exemplos, identificamos falhas, pois existem sistemas que conseguem prever muito bem em um lugar e na cidade ao lado não funcionam, pois as ferramentas para previsão precisam estar adaptadas ao comportamento específico de cada localidade”, diz.
Concluindo, ele deixa algumas reflexões. Sabemos que o IOS afeta o clima do Brasil; sabemos pouco sobre a escala de bacias hidrográficas e regiões de área limitada (pequena); sistemas remotos ajudam mas não resolvem o problema de monitoramento; existe uma flagrante redução do monitoramento climático no país; sistemas de previsão (tempo e clima) dependem dos dados medidos; o monitoramento do oceano é praticamente inexistente. “É muito melhor investir nas ferramentas de monitoramento do que gerir a seca, reconstruir uma cidade inundada, mas o caminho ainda é longo pois há falta de monitoramento em diversas áreas, especialmente do oceano”, declara Souza.
Um participante questionou o pesquisador sobre as previsões para muito tempo a frente. Para Souza, “conseguimos responder com precisão a previsão da próxima estação, o restante é bastante difícil afirmar com certeza, pois os parâmetros existentes são muito distantes. O que eu acredito é na previsão sazonal, pois no restante a análise dos dados e os parâmetros atuais deixam muitas incertezas, que os colegas estão estudando para tentar diminuir”.
No próximo painel, o eng. quím. Mauro Roberto Felizatto falou da infraestrutura hídrica e drenagem urbana em tempos de mudanças climáticas. Mostrou dados de 2009 a 2018 e depois de 2019, deixando claro o aumento da ocorrência de desastres naturais. As enchentes, por exemplo, ocorreram 149 vezes em 10 anos, contra 194 em apenas um ano. Além disso, dados de episódios de terremotos, secas e fogo.
Das pesquisas citadas, ele destaca trechos que falam que a preocupação cada vez mais emergente é o impacto do aumento, em frequência e em intensidade, de eventos naturais extremos. São também preocupantes os impactos das mudanças climáticas e de outros eventos, como a urbanização desordenada, na elevação de riscos à vida e a qualidade e quantidade de água. De acordo com os estudos, a água é o principal parâmetro pelo qual as mudanças climáticas impactam os ecossistemas e o bem-estar social.
O palestrante seguiu mostrando gráficos com o aumento da temperatura da terra, da emissão de CO2 e de outros gases. “Na área do agro o aquecimento global afeta na produção e o maior impacto é nos cereais como o milho e o trigo”, explica. Para ele, a engenharia deve lidar com isso contribuindo nas pesquisas, busca de dados que são essenciais para este trabalho. “Os dados apresentados devem nos fazer refletir sobre o que queremos e como segurar essa onda, diminuir o pico e gerir as consequências”, diz.
O meteorol. Rômulo da Silveira Paz começa sua fala questionando o tema, pois “será que realmente existe uma política para as mudanças climáticas?”. Ele mostrou dados atuais do comportamento das chuvas e falou da dificuldade de tratar desses temas no ambiente político de interesses variados. Até a forma de falar é política, pois “o termo mudanças climáticas é midiático, na verdade é aquecimento global”.
“Nós, profissionais, temos o conhecimento, a possibilidade de pesquisar e temos que agir politicamente para as mudanças, não são os órgãos que vão fazer isso, as instituições, mas sim nós, profissionais”, destaca. Silveira Paz falou um pouco da história da regulamentação e das lutas da profissão e manutenção do título profissional. “Regulamentar a profissão foi muito importante em 1980, porque são profissionais ligados às questões ambientais e de desenvolvimento, que trabalham com pesquisas e questões de muita responsabilidade e de interesse de muitos órgãos”, conclui.
Na sequência foi aberto espaço de debate com a plateia.
Reportagem: Débora Irene Pereira (Crea-PR)
Edição: Beatriz Leal (Confea)
Equipe de Comunicação da 78ª Soea
Fotos: Studio Feijão e Lentilha