Duas visões sobre a Bacia do Rio Formoso

Brasília, 10 de novembro de 2017.

Nestas segunda (13) e terça (14), profissionais e pesquisadores que lidam com o perímetro irrigado pela Bacia Hidrográfica do Rio Formoso, a de maior produtividade agrícola do Estado do Tocantins, proporcionarão um importante debate sobre suas atuais condições de abastecimento, durante o Evento Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Mundial da Água, que transcorre nesse período, na Faculdade Católica do Tocantins. 

Enquanto o pesquisador da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Eng. Civ. Fernán Enrique Vergara, prevê dificuldades para a próxima década, o técnico da Secretaria de Planejamento e Orçamento, Eng. Agr. João Carlos Farencena, aponta avanços consolidados, decorrentes das ações do Comitê recriado há um ano, envolvendo os produtores, Estado, Ministério Público e a própria UFT, entre outras entidades.  

Pesquisador do tema, o gestor hídrico Fernán Enrique Vergara apresentará uma palestra sobre a “Gestão de Alto Nível da Bacia do Rio Formoso”, um trabalho que ainda está sendo desenvolvido e que deverá ser mantido pelos próximos anos. “Fizemos esse estudo ao longo deste ano. Temos bons indícios de que os irrigantes têm potencial para fazer um uso melhor da água. Já está bem abaixo da média normal, dos últimos anos”, diz, comentando que o sistema hidrológico da região é parecido com o da capital federal, marcado por um período de chuva e outro de estiagem. 

"Fernán Vergara: desafios para a Bacia do Rio Formoso"
Vergara considera que, atualmente, os produtores não podem aumentar a área plantada. “A gente vem desenvolvendo um pacto social envolvendo o Ministério Público, o Judiciário e o Estado. Vamos ter que caminhar muito para o uso da água com um volume menor. O sistema de drenagem é complexo. Os modelos de inundação e subirrigação demandam muita água. Estamos estudando mudar esses modelos. Para algumas culturas como a melancia, é viável essa mudança para o gotejamento, que exige uma vazão muito menor”.

O pesquisador aponta que é necessário, ainda, manter um projeto para a implantação do monitoramento de recursos hídricos na Bacia do Rio Formoso, cuja demanda de água para irrigação de áreas de arroz e outras culturas é muito ampla. “A Bacia tem tido muitos problemas, motivo da atenção também do Ministério Público e do juiz da comarca de Cristalândia, Wellington Magalhães, que também dará uma palestra no evento”. 

Para o engenheiro civil considera, a crise hídrica vem se ampliando nos últimos 10 anos e o país está apresentando indícios de que pode estar entrando em outro regime climático e um novo regime de disponibilidade hídrica. 

“São várias possibilidades, desde o El Niño, ao desmatamento e ao aumento da demanda de água. Tudo isso talvez tenha potencializado esse regime de disponibilidade hídrica. Até o rio Tocantins está em níveis críticos. O reservatório da Serra da Mesa está praticamente vazio. A sociedade precisa abraçar esse debate, agora promovido pelo Confea. Senão, teremos problemas ainda maiores a médio prazo, em questão de 10 anos”.

Ações e planejamentos

Técnico da secretaria estadual de Planejamento, o engenheiro agrônomo João Carlos Farencena apresentará um estudo sobre a metodologia aplicada ao plano estadual de irrigação, apontando ações a serem implantadas e um cenário da atual condição dos perímetros irrigados. Condições de solo, séries pluviométricas históricas, oferta hídrica e logística, em relação ao mercado nacional, local e exterior, via portos e aeroportos, ampliarão uma visão sobre o cenário de todo o Estado. “Vamos mostrar a capacidade do Estado para desenvolver a área de irrigação, um diagnóstico do potencial do Estado com solos passíveis de irrigação. São 13 ações preconizadas”.

Farencena, que trabalha com a irrigação no Estado desde 1979, reconhece que há uma redução dos índices de chuva, nos últimos três anos, mas afirma que esses dados não se refletem na série histórica maior de Tocantins. Segundo ele, a Bacia do Rio Formoso, que alimenta a Bacia do Rio Araguaia, concentra as chamadas “várzeas tropicais”, uma região de 120 mil hectares onde é produzido arroz, por inundação, de outubro a abril. “E a partir de maio, pelo sistema de subirrigação, a Embrapa desenvolve, desde 1982, soja para semente. São duas safras por ano. Se os rios forem perenizados, conforme é nossa proposta, passaremos ater três safras”.

A recriação do Comitê da Bacia do Rio Formoso minimizou o problema para esse ano, segundo o técnico. “Ano passado o período seco foi crítico. Tudo é definido em comum acordo, um trabalho constante. Temos representantes de 18 prefeituras. O efeito dessa moralização do consumo é gritante, uma experiência que pode ser multiplicada por outras regiões. Os rios onde tinha irrigação estão com água no fundo, enquanto os sem irrigação secaram. A atividade agrícola de irrigação é um redutor de água nesse sentido, uma solução para todas as condições ambientais do Estado. Temos potencial para ampliar bastante a nossa produtividade. O que precisamos é de ainda mais iniciativa governamental e de debates como esse promovido pelo Sistema Confea/Crea”.

Aplicativo e vazão outorgável

Entre as propostas encaminhadas pelo Comitê da Bacia do Rio Formoso, segundo o pesquisador da UFT, está a instalação de medidores, monitorados por meio de um aplicativo de celular. “A potência é grande e como é uma região agrícola, em um sistema que demanda uma resposta rápida, o aplicativo informará quanta água cada bomba está captando”.

Este deverá ser, em breve, um dos primeiros resultados do consenso negociado entre a sociedade civil e o Estado. O que se mostra cada vez mais urgente, diante da extrapolação da capacidade de vazão outorgável da Bacia, com 22 mil quilômetros quadrados e que envolve 18 municípios. “Hoje, o rio está com toda a sua capacidade de vazão permitida, voltada quase totalmente para a produção agrícola, já que a população dispõe de captação subterrânea, não captando água do rio”, diz.

Fernán Vergara considera ainda que a proposta é, depois da instalação desse sistema de monitoramento por aplicativo, revisar as outorgas para evitar o desperdício e dar maior segurança hídrica à região.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea