Conselho brasileiro de engenharia pede ajuda à Federação de EngenheirosÁrabes no caso do seqüestro no Iraque

Brasília (DF), 26.01.2005


Presidente do Conselho, Wilson Lang, aciona a entidade representativa dos engenheiros no Iraque pedindo empenho da classe de engenheiros para dar solução ao caso e manifesta preocupação com os profissionais da engenharia que estão expostos a ações terroristas

O presidente do Confea – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, engenheiro civil Wilson Lang, encaminhou hoje um pedido de ajuda ao secretário-geral da Federação de Engenheiros Árabes, Sr. Abel Alhadithi, para “acompanhar de perto o desenvolvimento dos acontecimentos” relativos ao seqüestro do engenheiro João José de Vasconcelos Jr., ocorrido no último dia 18. O representante brasileiro, que teve a oportunidade de conhecer e se relacionar com o secretário árabe em recente encontro na China, durante a Convenção Mundial de Engenheiros, pediu ainda que a Federação informasse ao Confea de “alguma ação que fosse possível realizar para ajudar a chegarmos a um final feliz neste episódio”.

A carta faz uma análise das ações terroristas no País e se solidariza com a situação do engenheiro seqüestrado, justificando que “nosso pesar pelo ato terrorista contra o engenheiro brasileiro é ainda maior porque somos cidadãos amigos, fomos contra a guerra promovida neste país e João José Vasconcelos Júnior foi para o Iraque a trabalho, certo de que estaria contribuindo para a construção de condições de volta a normalidade”. O presidente do Confea conclui o documento dizendo que “preocupa-nos como profissionais, cujo palco de trabalho é o mundo, ações terroristas como essa que ameaçam a livre circulação de profissionais, a segurança e a vida dos indivíduos, numa época em que os países do mundo vinham procurando abrir cada vez mais suas fronteiras e eliminando as restrições de entrada e saída para os cidadãos de outras nacionalidades, em busca do ideal da liberdade de circulação”.

Veja a carta na íntegra:

Prezado Colega,

Nos anos de 2000, 2001 e 2004, expressivas delegações de profissionais brasileiros participaram de eventos promovidos pela FMOI - Federação Mundial de Organizações de Engenheiros e realizados em Hannover, Moscou e Shangai. Em todos esses eventos o foco principal foi a discussão de melhores formas de combater a miséria, o atraso e a devastação produzida pelas guerras, bem como a recomendação de posicionamentos proativos dessas organizações, e de medidas concretas de seus profissionais, visando o desenvolvimento sustentável dos respectivos países. Apelou-se, e apela-se, para que esses profissionais lancem mão de seus amplos talentos, conhecimentos e criatividade a fim de auxiliarem a sociedade na superação dos obstáculos que estão a impedir a melhoria da qualidade de vida das populações. E, dentre tantos fatores contribuintes desse objetivo, reconhece-se o insubstituível valor da cooperação e do intercâmbio internacional nas áreas científicas e tecnológicas.

Foi nesse contexto de expectativas e de esperanças que aconteceu o lamentável atentado do último dia 18 de janeiro, do qual resultaram as mortes de duas pessoas e o seqüestro do engenheiro brasileiro João José Vasconcelos Jr, que a serviço da empresa brasileira Norberto Odebrecht trabalhava no Iraque. Essa ação veio somar-se a tantas outras que estão deixando a sociedade mundial extremamente preocupada com o agravamento da desestruturação política, social e econômica desse país. Contristados, constatamos que nessas circunstâncias não pode ser garantida a segurança pessoal dos cidadãos locais, bem como dos cidadãos de vários países, inclusive do Brasil, comprometidos com os inúmeros projetos da recuperação dos principais sistemas infra-estruturais afetados pela guerra.

Em vista disso, na condição de presidente da entidade brasileira que congrega engenheiros, arquitetos, engenheiros agrônomos, geólogos, geógrafos, meteorologistas, tecnólogos e técnicos sentimo-nos no dever de expressar nossa preocupação diante dos fatos ocorridos e manifestar nossa solidariedade com a situação angustiosa por que passam os familiares, amigos e colegas do engenheiro João José Vasconcelos Jr, que aprestava-se a voltar ao Brasil após um ano de trabalho empenhado na recuperação de usina termoelétrica atingida por bombardeios. Sabemos que a empresa Norberto Odebrecht e o Ministério das Relações Exteriores brasileiro têm envidado esforços no sentido de negociar a libertação do colega João José. Sabemos que as atenções ao caso foram reforçadas pelo envolvimento pessoal do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Sabemos também que inúmeras organizações internacionais ligadas à ONU estão fazendo gestões nesse sentido. Mas, independentemente de outras disputas políticas, ideológicas, étnicas ou religiosas e expressando o pensamento de milhões de profissionais de todos os continentes, que trabalham e participam da construção de um mundo melhor, vimos solicitar a solidariedade e o apoio do prezado colega, a fim de podermos acompanhar de perto o desenrolar dos acontecimentos e, na medida do possível, desenvolver ações que contribuam positivamente para um desfecho satisfatório desse lamentável episódio.

Acresce salientar o posicionamento histórico e incisivo dos brasileiros contra a guerra e em apoio à posição de cautela assumida pela ONU, em vista da ação praticada contra o engenheiro João José Vasconcelos Júnior ainda mais nos constrange, por serem os brasileiros amigos que historicamente vêm participando do esforços em prol do desenvolvimento do Iraque e dos países árabes.  Preocupa-nos também, como integrantes de profissões cujos desdobramentos se estendem por todos os países, que ações da natureza da praticada contra o profissional brasileiro na verdade possam ameaçar e inibir a todos que desejem - em tempos de aceleradas mudanças globais - dar a sua contribuição para superar os óbices do subdesenvolvimento nas várias regiões do planeta. Parece-nos que o momento atual apresenta-se adequado para assumirmos todos os compromissos consignados nos documentos básicos de nossas entidades representativas, quer as nacionais quer as internacionais, que podem ser resumidos numa só palavra: Ética. E em nome desta concitamos todos os colegas, em especial aqueles que vivem nos locais ou nas proximidades das zonas de conflagração, a unirem esforços em prol da libertação do engenheiro João José Vasconcelos Júnior esperando que tal atitude represente uma afirmação simbólica de nossos mais alevantados ideais. E que a Convenção Mundial dos Engenheiros – a WEC2008, a realizar-se em novembro de 2008, em Brasília, permita-nos comemorar as conquistas realizadas e sacramentar presencialmente este pacto de solidariedade e de amor ao próximo.

Brasília, 26 de janeiro de 2005

Engenheiro Wilson Lang
Presidente do Confea e Membro da
Academia Panamericana de Engenharia


Márcia Bina - Fábrica de Comunicação