Arquitetos se mobilizam em ONGs de solidariedade

Porto Alegre, 28 de janeiro de 2005

Mobilizar os arquitetos em apoio a populações carentes em situações de emergência ou de risco social é o objetivo da ONG Arquitetos Solidários (Arqsol), que promoveu um Encontro Mundial - com a presença também dos Arquitetos Sem Fronteiras - para troca de experiências, hoje, no Fórum Social Mundial 2005, em Porto Alegre. Essas organizações têm desenvolvido experiências práticas de solidariedade no Brasil, com a prestação de seus serviços profissionais e com a condição de não haver ônus algum para os beneficiados, salienta Valeska Pinto, secretária da Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) e integrante da diretoria executiva da Arqsol.

Ela explica que a Arqsol é uma organização com ramificações em várias partes do mundo, especialmente na Europa, onde recebe apoio oficial dos governos para suas iniciativas de solidariedade. A dirigente cita, ainda, o caso da Espanha, onde o conselho profissional de lá destina uma parte de seu orçamento para essa finalidade. "No Brasil não temos apoio do Governo, por isso buscamos patrocínios e doações para fazermos nosso trabalho", relata Valeska Pinto, acrescentando que ONGs semelhantes de médicos e engenheiros passam pelas mesmas dificuldades.

Mesmo assim, já há bastante trabalho para ser mostrado, conforme se viu no encontro. A arquiteta Ana Carmen de Oliveira, do Sindicato dos Arquitetos do Paraná e da coordenação estadual da Arqsol contou que lá, por exemplo, a ONG está apoiando uma escola que atende a 150 portadores de deficiência. A Arqsol-PR fez todo o projeto de ampliação da escola - com ginásio, administração, vestiários, jardim, horta e centro médico - e está captando a verba (R$ 250 mil) para a obra junto ao Consulado do Japão.

Além disso, em São José dos Pinhais a Arqsol paranaense está refazendo o projeto de um lar para pessoas com problemas mentais que funcionava em um local totalmente improvisado. E instalou uma "Butique Solidária" no Shopping Estação, em Curitiba, para a venda de produtos de ONGs.

Já Luiz Eduardo Costa, tesoureiro da Federação Nacional dos Arquitetos conta que a organização Arquitetos Solidários surgiu no seu estado, Mato Grosso do Sul, em 1999, e daí ganhou o país. "A nossa intenção é fazer as pessoas romperem com a forma tradicional de pensar a arquitetura, vinculada somente às grandes obras, porque arquitetura não é o que aparece nas páginas de revistas da construção civil", afirma o arquiteto, acrescentando que a meta é aproximar os profissionais da realidade social e mostrar novas formas de uso e valorização de seu trabalho.

No Mato Grosso do Sul, a Arqsol apóia instituições voltadas às pessoas carentes, como a Associação de Mães Autistas e Associação de Combate ao Câncer, e agora quer se voltar para a questão da habitação popular. A intenção, diz ele, é discutir o mobiliário para a habitação popular e a auto-construção: "Queremos debater qual mobiliário serve de mobiliário para uma casa de 40 metros quadrados", afirma Luiz Eduardo Costa.

Representando os Arquitetos Sem Fronteiras, Carlos Teixeira, presidente, e o associado Flávio Agostini contaram que, em Minas Gerais, estão trabalhando com a população que vive embaixo dos viadutos, em Belo Horizonte, em parcerias que visam a recolocação dessas pessoas e a ocupação dos viadutos com equipamentos públicos, como praças e quadras de esportes. Com a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, eles estão projetando novos presídios, "diferentes de tudo que se conhece no Brasil", relatou Flávio Agostini.

Ao final, o Encontro Mundial de Arquitetos Solidários - ocorrido numa das tendas do eixo temático Direitos Humanos e Dignidade - decidiu encaminhar uma correspondência às entidades profissionais dos arquitetos e universidades recomendando a importância desse trabalho que visa apoiar quem está totalmente desassistido na sociedade: "Não é assistencialismo, é atender a quem não tem nenhuma condição de acesso aos nossos serviços profissionais para que, a partir desse primeiro passo, as pessoas possam buscar suas próprias soluções", conclui Valeska Pinto.

Quem quiser informações sobre a Arqsol pode escrever para arqsol@arqsol.org 

Ulisses Almeida Nene
Da assessoria do Crea-RS