Recuperação do RS vai precisar de muita engenharia, afirma especialista

Brasília, 16 de maio de 2024.

A reconstrução das cidades afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul vai precisar muito de ajuda técnica especializada, como a de engenheiros, agrônomos e geólogos. A informação é da presidente da Federação Nacional das Associações de Engenharia Ambiental e Sanitária (Fneas), Tatiana Pinheiro. A Federação faz parte do Colégio de Entidades Nacionais do Sistema Confea/Crea (Cden), que neste momento reúne especialistas que auxiliam no esclarecimento dos fatores que levaram à tragédia no estado gaúcho. Considerada a pior catástrofe climática já vivenciada pelo estado, as fortes chuvas já afetam 449 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul. A calamidade afetou também o fornecimento de água tratada e de energia elétrica em centenas de milhares de imóveis, segundo relatório da Defesa Civil local.

Em entrevista à Rádio Universidade de Pelotas, Tatiana Pinheiro destacou um conjunto de fatores que contribuíram para a ampliação dos efeitos da catástrofe. “As chuvas intensas, a topografia do Rio Grande do Sul que influencia diretamente no escoamento das águas, o desmatamento e a urbanização, a forma como essa urbanização se dá ao redor dos rios com redução de vegetação nativa, com a redução da capacidade de absorção do solo, com o aumento do escoamento superficial. Então tudo isso causa esse risco de enchentes, essa ocupação urbana que leva à impermeabilização do solo com concreto, asfalto etc. As infraestruturas inadequadas de drenagem, sistemas de drenagem que por muitas vezes estão ultrapassados ou com bueiros obstruídos, os canais de drenagem com algum problema de engenharia, seja por insuficiência ou são mal dimensionados para este tipo de situação, e aí acaba elevando este tipo de situação além das alterações climáticas que são questões indiscutíveis”.

Engenheira ambiental Tatiana Pinheiro, presidente da Fneas 

Para a recuperação das áreas afetadas, a engenheira ambiental destaca que será preciso esperar o escoamento das águas para fazer um diagnóstico do que foi destruído e assim instituir um plano integrado de recuperação, tanto do meio ambiente quanto das áreas urbanas. Tatiana destaca o trabalho que deve ser feito para a recuperação da natureza na região. “Sobre a fauna e a flora, é necessário que se aguarde um tempo para que seja feito um diagnóstico para que se tenha a dimensão do que foi afetado e como será feito essa reconstrução. Se será de forma natural, ou se será necessário fazer uma reabilitação e replantio nas áreas que foram severamente afetadas”, afirma a especialista.

O Confea, em parceria com o Crea-RS, enviou um ofício ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, oferecendo apoio técnico para essa recuperação. Segundo Tatiana Pinheiro, a reconstrução das áreas afetadas vai precisar deste tipo de apoio especializado, primordial para os municípios. “É necessário agora, não só recuperar, mas que seja pautada com um objetivo principal uma cidade inteligente em que a natureza vai ser respeitada, mas que as pessoas possam ocupar e para isso a gente vai precisar de muita engenharia. Não só da engenharia, mas vai precisar também das geociências, vai precisar da agronomia e então juntar o conhecimento técnico neste momento será fundamental. Esse trabalho deve ser feito não apenas para a recuperação da fauna e da flora, mas das cidades como um todo. Esse planejamento urbano interligado entre as regiões será extremamente necessário”. 

A engenheira ambiental, Tatiana Pinheiro, afirma que as novas cidades devem ser pensadas com objetivo de minimizar os impactos de eventos extremos, como as chuvas no Rio Grande do Sul, que fazem parte das mudanças climáticas. “O Brasil precisa disso, o mundo precisa disso, dessa nova visão de construção e ocupação de espaço e de planejamento em que a natureza ela deve ser respeitada. Porque nós temos como fato as mudanças climáticas e nós temos também capacidade técnica suficiente para se adaptar a esse novo cenário, mitigando os impactos que nós causamos até aqui. E pensando no que vem no futuro, pensando na reconstrução das cidades como um todo, pensando nas pessoas, pensando na natureza e trazer uma nova perspectiva de vida e de ocupação”. 

Equipe de Comunicação do Confea
Foto: Acervo pessoal