Geocientistas discutem sobre causas de desastres naturais e como evitá-los

Gramado, 09 de agosto de 2023.

 

Auditório Chimarrão recebeu geocientistas que discutiram ideias de prevenção de desastres naturais em locais urbanos

 

Na tarde desta quarta-feira (09), os participantes da 78ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea) encheram o auditório Chimarrão para assistir ao painel “Gestão de Riscos para a Prevenção de Desastres Naturais”, moderado pelo professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) do campus Rio Claro, o geol. Fábio Reis. A primeira palestra trouxe o tema “Minimizando os Riscos Geológicos nos Estados Brasileiros", ministrada pelo professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o geol. Éder Carlos Moreira.

Em sua apresentação, Éder destacou que áreas de riscos geológicos muito altos geralmente estão diretamente associadas à moradia de pessoas em comunidades vulneráveis, uma vez que os terrenos não são fisicamente preparados para este tipo de uso. “Ocupação é um dos fatores que mais alteram o nosso meio, e a carência de educação ambiental nestes locais são agravantes para a queda de estabilidade do solo”, explicou.
 

Geólogo Éder Carlos Moreira defende a expansão do conhecimento ambiental às comunidades

 

Em um resgate ao lema da Defesa Civil, o palestrante ainda enfatizou a importância da corresponsabilidade entre os órgãos e a comunidade na preservação do ambiente. “Se ‘a defesa civil somos todos nós’, por que não podemos ser corresponsáveis por todo este processo de manutenção e preservação das encostas? É distribuindo o conhecimento para a comunidade que isso pode se tornar possível”.

Mitigação de catástrofes

A segunda palestra trouxe o presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e eng. civ. Francis Bogossian para falar sobre “Prevenção e Mitigação de Catástrofes”, bem como seus riscos geológicos e geotécnicos.

Grande defensor da ciência, Francis argumentou sobre a necessidade de se ter trabalho humano capacitado nos projetos de construção. “A ciência brasileira tem estudiosos, profissionais e ferramentas para, se não evitar os eventos, ao menos amenizá-los”, disse.

Francis utilizou como exemplos algumas ocorrências no Rio de Janeiro, como o desastre natural ocorrido em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro, que em 2011 sofreu a considerada maior catástrofe climática e geotécnica do Brasil. Para ele, casos como esse advêm de uma falta de manutenção da drenagem, indicador que poderia ser facilmente diagnosticado em laboratório por geocientistas capacitados.

“A ciência nos permite avaliar o nível de risco, e esses estudos são necessários a fim de manter a estabilidade através de manutenções preventivas e um adequado tratamento passivo”.

Cadastro Territorial Multifinalitário

O analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) da Bahia, eng. cart. Miguel Pedro da Silva Neto, foi o terceiro palestrante. Em sua apresentação “Georreferenciamento de Imóveis Urbanos”, Miguel mostrou um dado assombroso: nos últimos 10 anos, desastres naturais custaram cerca de R$ 400 bilhões aos cofres públicos.

Um mecanismo que poderia ajudar na prevenção dessas ocorrências seria o Cadastro Territorial Multifinalitário (CTM), inventário baseado no levantamento dos limites territoriais. De acordo com Miguel, se todos os municípios tivessem as diretrizes, instituição e atualização do CTM como obrigatórias, os planos diretores municipais seriam mais completos, claros, assertivos e principais identificadores de áreas de risco.

Miguel expressou ainda sobre a necessidade de capacitação profissional em estudos como este, e vê o Sistema como um motor em potencial. “Nunca havia participado de uma Soea, e vendo a proporção desse meio, digo com convicção que temos plena condição de assumir o protagonismo e trazer este debate para o Sistema Confea/Crea”, afirmou.

O eng. cart. Miguel Pedro da Silva Neto explicou sobre a importância do mapeamento territorial na prevenção de desastres

 

Saneamento

Fechando as apresentações, subiu ao palco o presidente da Fundação Rio Águas do Rio de Janeiro-RJ, o eng. civ. Wanderson José dos Santos, com sua palestra “Saneamento em Áreas Irregulares e Não Urbanizadas”.

Wanderson mostrou um pouco do trabalho da fundação, bem como suas atribuições e competências, que incluem o planejamento e gestão do sistema de drenagem da cidade do Rio de Janeiro, e também a promoção dos componentes de esgotamento sanitário para a garantia do saneamento básico.

Wanderson ainda salientou a importância de seguimento de projetos de médio e longo prazo. “Na época em que sediamos as Olimpíadas, tivemos uma troca de conhecimento com o governo japonês e nos foi apresentado um plano sanitário que está em execução desde os anos 70, e que vem sendo seguido à risca até os dias de hoje. Esse é um case de sucesso que nos deixa bem claro a importância que deve ser dada ao seguimento de um planejamento de longo prazo”, concluiu.

Fechando o painel, foram respondidas algumas perguntas da plateia e também foram entregues os certificados aos palestrantes pelas mãos do conselheiro da Câmara Especializada de Geologia e Engenharia de Minas do Crea-RS, geol. Adelir José Strieder.

 

Reportagem: Felipe Moreno (Crea-AL)
Edição: Fernanda Pimentel(Confea)
Equipe de Comunicação da 78ª Soea
Fotos: Studio Feijão e Lentilha