Brasília, 26 de maio de 2021.
Um anúncio feito pelo governo federal comunicou sobre o cancelamento do Censo 2021. Tal decisão é proveniente da falta de verba após o corte de 96% do orçamento. Porém, pode refletir negativamente nos investimentos e no crescimento das áreas tecnológicas.
Entenda como funciona:
- O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) se constitui como principal provedor de dados e informações do País e é o responsável pelo Censo. O Censo é a pesquisa que visita as casas dos brasileiros, medindo o tamanho da população e dezenas de outras características. São mais de 60 milhões de residências, espalhadas por 5.570 municípios e 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
Ele é o procedimento de quantificação da população habitacional de cada município que viabiliza a qualificação de representantes nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. O Censo Demográfico também revela as taxas de desemprego, as características dos domicílios e das famílias, informações sobre frequência à escola e à universidade (e quais disciplinas estão sendo cursadas), taxa de analfabetismo, saneamento, sustento da família, raça, mortalidade, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica, entre outros dados.
Impactos da falta do Censo nas áreas tecnológicas
Dados sobre a distribuição, renda e demandas reprimidas da população ajudam gestores públicos a identificar áreas que necessitam de transporte público ou a localização adequada para moradias populares ou para a passagem de grandes obras viárias, indicando até mesmo a quantidade de desapropriações necessárias e quantidade de veículos que transitarão por tais obras, distribuição de pontos de ônibus embasada em quanta gente eles vão atender.
Embora muitos outros critérios (desde ambientais até políticos) influenciem essas decisões, quando o aspecto censitário não é levado em conta, geralmente essas obras acabam perdendo em eficiência. Com tais informações o poder público pode identificar áreas de investimento prioritárias em saúde, educação, habitação, saneamento básico, transporte, energia, programas de assistências e outros. Inclusive os dados (para as variáveis relevantes) do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), definidos, coletados e processados de maneira uniforme para todos os municípios brasileiros são aqueles provenientes dos Censos Demográficos do IBGE. Portanto, para garantir a homogeneidade do cálculo dos índices, todos os indicadores têm que ser extraídos, direta ou indiretamente, dos censos.
O presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, destaca que o Brasil necessita de ações de investimentos pós-pandemia que dependem de tais dados. “Estamos em meio a uma pandemia, em que o Brasil registrou uma taxa de desemprego de 13,9% no quarto trimestre de 2020, ano marcado pela maior taxa de desemprego média anual desde 2012. Vimos a importância dos investimentos em ciência e tecnologia, e precisamos retomar os investimentos em saúde, saneamento e habitação, entre outras políticas sociais que sofreram forte retração de investimentos públicos. As ações governamentais pós-pandemia serão fragilizadas pela ausência das informações que alicerçam os estudos para políticas públicas e investimentos”, destaca Krüger.
O conselheiro federal eng. agr. Annibal Lacerda Margon destaca os impactos nas áreas agronômicas. “Do ponto de vista do setor produtivo agrícola, a falta de dados atualizados e consistentes sobre a população brasileira implica não se conhecer a realidade de como se estruturam os lares e famílias de nosso país. Essa fotografia nacional se faz importante para dimensionar as necessidades de produção e consumo dos produtos agropecuários para a sustentabilidade básica de toda a sociedade,” alerta Margon.
Para o ex-vice-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), professor eng. civ. Darc da Luz Costa, qualquer intervenção humana para ser eficiente necessita de planejamento. “A engenharia para ser operada de forma eficiente necessita de uma previsibilidade, de um planejamento, e esse está basicamente ligado à coleta de informações. O Censo provê informações, de posse desses dados é que se dá um planejamento eficiente, o que está extremamente ligado às obras de engenharia. Sem o Censo, logo se compromete toda a possibilidade de investimento público e privado eficiente, perdendo a capacidade de avaliar os impactos de ação em todo o território nacional”, defende Darc.
Letícia Rodrigues de Almeida
Da Assessoria do Gabinete do Confea
Imagens: Agência IBGE Notícias/IBGE