São Paulo realiza Ética na Prática


 

Uma palestra magna e um painel compuseram a programação da abertura do Ética na Prática, evento que reúne, nesta semana em São Paulo, os coordenadores das Comissões de Ética dos Creas das regiões Sul e Sudeste. Aberta ao público e transmitida online, a solenidade de abertura, também foi realizada na capital paulista. "Hoje vemos, nos processos que chegam, que a ética não é como era antes. É fundamental falarmos sobre ela. Para a gente é um prazer recebê- los, que possamos trocar muita experiência, que seja um evento bacana", aspirou a presidente do Crea-SP, Lígia Mackey, anfitriã do evento e na ocasião também representando o presidente do Confea, Vinicius Marchese.

Presidente do Crea-SP, Lígia Mackey

"A ética é um dos pilares das nossas profissões, então precisamos honrar essas iniciativas que a contemplam. Teremos um grande evento com certeza˜, pontuou o conselheiro federal Sérgio Cardoso, que coordena a Comissão de Ética e Exercício Profissional (Ceep). Ao final do evento ele esclareceu que quem edita o Código de Ética é o Colégio de Entidades Nacionais.

Já o conselheiro federal Nielsen Christianni, integrante da Ceep, entende que o Ética na Prática está relacionado com inserir mais a ética no Sistema Confea/Crea e Mútua. "A ética não pode ser um apêndice no Sistema. Ela tem que estar intrinsecamente ligada a todas as áreas de desenvolvimento dos nossos municípios e à qualidade de vida da nossa população. Os alimentos precisam ser produzidos de forma sustentável e saudável. Queremos sair do conceito de ética profissional para a prática de ética profissional, de forma que venha a reverberar na vida das pessoas", disse durante a abertura do evento.

Também integrante da Ceep, o conselheiro federal Lucas Carneiro ressaltou que a gravação da palestra ficará registrada no Youtube servirá como referência para qualquer profissional ou estudante buscar no futuro. O conselheiro federal Domingos Sahib, por sua vez, celebra que o Sistema tem conseguido crescer e fazer diferente. "Não é só transcrever a resolução, a profissão está evoluindo. Sem ética na profissão é muito difícil manter uma relação com a sociedade", ponderou. "Este Ética na Prática abre nossas cabeças", completou Janeth Fernandes, coordenadora nacional das Comissões de Ética.

Frederico Cesarino, engenheiro industrial mecânico, Ph.D e professor, palestrante magno


Palestra magna

"Os sistemas éticos são variáveis", ou seja, a cultura, o espaço-tempo, os códigos de ética são diferentes para cada situação local, cultura, profissão. Assim se iniciou a palestra "Ética na prática: desafios, sensibilização e colaboração", ministrada por Frederico Cesarino, engenheiro industrial mecânico, Ph.D e professor. Frederico apresentou quatro casos reais de ações antiéticas de engenheiros para debater com público e, na sequência, pontuar as dificuldades.

"As situações éticas são muito complexas. E ainda há os desafios da falta de recurso, o cargo de conselheiro é honorífico (ou seja, ele tem outros empregos), a coleta de evidências é árdua, nem sempre as testemunhas colaboram etc". Entre as soluções apontadas por Frederico está a aproximação do Sistema Confea/Crea das universidades e do Poder Judiciário.

Conselheiro federal Lucas Carneiro mediou o painel


Painel

Em seguida, os participantes do Ética na Prática puderam acompanhar o painel Recém-formados X Ética: Como as universidades podem preparar profissionais para o mercado de trabalho?, mediado pelo conselheiro Lucas Carneiro. "Ética e segurança nos baliza na sociedade. Na minha universidade a ética era tratada de maneira bem geral, nada específico para engenharia", refletiu, passando a palavra para a debatedora Margot Cardoso, historiadora, jornalista e especialista em ética na Universidade de São Paulo.

 Margot Cardoso, historiadora, jornalista e especialista em ética, participou de maneira remota

"Não importa formar tecnocratas. A formação do sujeito ético leva muito tempo, é processo, o sujeito ético tem que transformar esses valores e absorvê-los", disse Margot, antes de mencionar Adolf Eichmann, tecnocrata da equipe de Hitler, que não enxergava o mal que fazia ao obedecer suas tarefas logísticas. "Penso que a ética tinha que ser transversal a todos os anos da formação. Hoje somos menos éticos do que 20, 30 anos atrás. A tecnologia traz mais complexidades para as decisões e o engenheiro tem que dominar a parte técnica mas também tem que ser bem informado, saber o impacto de sua decisão na saúde das pessoas. E tem a questão do capitalismo, que se espalhou muito e com o dinheiro, a ética diminui. Antes as pessoas se chocavam com certo nível de crueldade, hoje não. Outra coisa é o excesso de individualismo, que compromete muito o sujeito ético".

Autora do livro "Manual de Ética Profissional", Juliana Casadei

A autora do livro "Manual de Ética Profissional", Juliana Casadei, contou como que se começa a pensar um código de ética. "A gente precisa saber o que se quer. A partir do fim último, determina-se como a gente vai - para se determinar quais são as condutas desejadas. Tem que ser sempre uma relação de ganha-ganha: o profissional ganha, e a sociedade também ganha", explicou. Nada disso vem sem a educação. É o que defende a Janeth, a coordenadora nacional das Comissões de Ética. "Como vamos fazer tecnologia com princípios éticos? Só conscientizando. Educação continua sendo a base de tudo. Os princípios éticos têm que vir junto com tudo isso que está chegando da inteligência artificial".

 Janeth Fernandes, coordenadora nacional das Comissões de Ética

Na terça-feira (11/6), o evento continua, quando os participantes farão atividades com análise de processos, entre outras práxis.

 

Beatriz Leal
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Marco Flávio