Brasília, 20 de maio de 2024.
Professores e estudantes de engenharia do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estão na linha de frente da coleta de amostras de água do Guaíba, que alagou a capital gaúcha e a Região Metropolitana, arrastando lixo e resíduos causadores de doenças e poluição.
A análise das amostras de água vai identificar a presença de patógenos das principais doenças de transmissão hídrica, como cólera, febre tifoide, esquistossomose, hepatite infecciosa, poliomielite, enterovírus e leptospirose. Também estão na lista contaminantes emergentes, como agrotóxicos, produtos farmacêuticos e metais, tipo chumbo, cromo e mercúrio.
As amostras foram coletadas por cinco dias consecutivos, em ao menos 80 localidades, desde o bairro Humaitá até o Lami, e em mais cinco pontos na margem oposta do Guaíba. Os locais foram registrados em GPS e as amostras, levadas para uma equipe de estudantes do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do IPH.
A colaboração com outros laboratórios da universidade resultará em dados cruciais que serão disponibilizados em um mapa digital, abrangendo desde a mancha de inundação até locais de abrigo, estações de abastecimento e casas de bombas. “É um esforço coletivo de trabalho intenso, integrado e conjunto para conseguirmos dar respostas rápidas”, explica o engenheiro ambiental e professor do IPH Maurício Paixão.
Informar a população sobre os riscos é o foco da pesquisa, como reitera a estudante de Engenharia Hídrica Nicole Ramalho. “É uma atuação necessária que gera informações que vão ter repercussões na remediação de danos e na prevenção de impactos de eventos futuros”, enfatiza a integrante do Grupo de Pesquisa de Hidrologia de Grande Escala.
Contribuição acadêmica na construção de políticas públicas
Com uma abordagem coletiva e integrada, essa iniciativa da UFRGS destaca o papel fundamental do conhecimento acadêmico para a proteção da população contra os riscos da contaminação hídrica. “Diante da tragédia que vem ocorrendo no estado, isso fica ainda mais evidente. Diversos pesquisadores da área de recursos hídricos vêm buscando agregar e divulgar informações, como os níveis do Guaíba e as manchas de inundação, de forma eficiente e de fácil entendimento para o público geral por meio de mapas interativos com informações sobre a enchente, por exemplo”, comenta Nicole, ao frisar a necessidade de o poder público valorizar e incluir especialistas na hora de elaborar planejamento urbano e ações emergenciais.
Ouvir os profissionais da engenharia, agronomia e geociências é essencial para construção de soluções que minimizem e previnam impactos de desastres climáticos, como salienta a doutoranda em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Itzayana González-Ávila. “Política pública não é uma questão somente dos gestores ou dos políticos de turno; mas é uma questão que envolve a cidadania inteira, o conhecimento técnico e o da academia. Inclusive o conhecimento local deve ser integrado. Com isso, a gente vai ter diferentes pontos de vista para discutir e escolher o que é o melhor em determinadas questões”, defende a engenheira ambiental e sanitarista colombiana que há seis anos mora no Rio Grande do Sul e tem dado sua contribuição no apoio ao povo gaúcho. “Há um sentimento de retribuição para com a sociedade, por isso eu ofereço ajuda humanitária e conhecimento também”, afirma Itzayana.
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Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea, com informações da UFRGS e da GZH
Foto: Flávio Dutra/Jornal Universitário da UFRGS