Nascimento: São Bento do Sul (SC), 10/12/1951
Falecimento: Itajaí (SC), 25/02/2020
Engenheiro Metalurgista pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), em 1976; mestre (1983) e doutor (1993) em Engenharia Metalúrgica pela USP e MBA em Gestão Industrial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2003
Indicação: Centro de Engenheiros e Arquitetos de Joinville (Ceaj) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Santa Catarina (Crea-SC)
Fazer o percurso entre São Paulo e São Bento do Sul era a rotina do engenheiro industrial Wilson Luiz Guesser aos finais de semana, durante seu bacharelado e mestrado. Nos dois últimos anos da graduação, ao lado da esposa, Mariângela Guesser, que cursava Serviço Social na capital paulista.
O casal se conhecera na cidade natal de ambos e logo voltaria a se estabelecer entre São Bento do Sul e a também catarinense Joinville, a 80 quilômetros de distância, também percorridos com o devido cuidado. Joinville, adotada por praticamente toda a vida, desde que Wilson foi para a Escola Técnica Tupy e depois atuando na Fundição Tupy S.A. “O namoro começou no último ano da Escola. O casamento aconteceu no último ano de graduação de Wilson”.
Fundadora da Escola, a Tupy S.A, homenageada pela Láurea ao Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua em 2021, seria outra companheira de toda a vida, a não ser por um ano na General Motors da cidade, após a conclusão do curso técnico.
“Pelo fato de a escola técnica ter excelentes professores, na Fundição Tupy, Wilson se encaminhou para a Metalurgia e foi para a Poli, uma das melhores faculdades da área no país. Na Tupy, ele reconhecia vários professores. No Centro de Pesquisas, o diretor Adolar Piske o auxiliou e foi seu professor na Poli. Ele saiu com compromisso de prestar serviço por um tempo na Tupy, quando se formasse. E acabou ficando a vida toda”, conta a viúva do homenageado.
Durante a graduação, a empresa industrial forneceu uma ajuda de custo que ajudava nas despesas. “Não cobria tudo, mas nos laboratórios da Tupy Wilson desenvolvia trabalhos técnicos que ajudavam na academia”, acrescenta Mariângela, que deixaria o curso de Serviço Social ao voltar para Joinville, já com a filha Sílvia, nascida em São Paulo. “Não havia o curso em Joinville”. Alguns anos depois, já na cidade, nasceria Guilherme. Sílvia, hoje médica. Ele, técnico em agrimensura.
Filho do alfaiate José Guesser e de dona Irma Guesser, e com cinco irmãos, Wilson mantinha uma página na internet dedicada à história da família, de origem alemã, radicada em Santa Catarina desde a segunda década do século XIX. “Como perdi minha mãe muito cedo, era com dona Irma e a família que a gente passava mais tempo”, lembra Mariângela.
Fernando Guesser, um dos irmãos, ressalta a ligação de Wilson com a família, desde os pais, até os filhos e a esposa. “Na juventude, fazia teatro. Escrevia para o jornal Tribuna da Serra, em São Bento do Sul”, conta. Outra paixão era a música. “Tocava samba e MPB no violão, conhecia os rancheiros do interior de São Paulo, música nativista de Minas. No dia que ele faleceu, estávamos tocando samba. A gente adorava conhecer novos lugares. Tomar uma cerveja diferente. Wilson era extremamente bondoso e exigente. E muito brincalhão, com uma extroversão que contrastava com a vida certinha de engenheiro”.
Mariângela conta que Wilson Guesser foi ainda escoteiro “e sempre foi ligado em leitura, gostava muito de história, inclusive de onde visitava. Ele não fazia atividades esportivas, mas descobriu a bicicleta a partir de 40 anos, fazendo passeios noturnos aos finais de semana. A bicicleta ia com a gente nas viagens. Chegou a fazer Mendoza a Santiago, subindo os Andes”, diz, contando que Wilson também gostava de conviver com os colegas da Tupy.
“O que ele abraçava era pra valer. Assim ele fez com a engenharia também”, diz o engenheiro mecânico Walmor Krause. Colega por 40 anos, ele conta que Wilson foi contratado dois meses depois que ele e que, junto ao engenheiro metalurgista Pedro Duran, conduziram o Centro de Pesquisas, revezando-se entre diretorias e gerências da Tupy.
“Estávamos sempre juntos, viajamos muito pelo mundo em congressos e visitas a centros de pesquisa. Convivi intensamente com ele, era um grande profissional, engenheiro de mão cheia, muito inteligente, estudioso, que muito contribuiu para que a Tupy se tornasse a maior fundição da América Latina, hoje talvez a maior do mundo”, diz.
Guesser, lembra Walmor, era mestre em Argilas e doutor em Propriedades Mecânicas de Ferros Fundidos e foi o primeiro brasileiro a participar, em 2017, da produção do livro ASM “Handbook Cast Iron Science and Technology” (Ciência e Tecnologia dos Ferros Fundidos) que reúne os maiores especialistas da Engenharia de Materiais e Metalúrgica.
Na área de fundição, atuava principalmente com ferro fundido vermicular, usinabilidade, ferro fundido cinzento, ferro nodular, entre outras atividades, introduzindo a produção de blocos e cabeçotes em ferro vermicular no Brasil.
Detentor de nove patentes, complementou sua formação em diversos cursos no Brasil e na Inglaterra. Organizou e participou de diversos eventos técnicos. Participou e orientou dezenas de bancas de avaliação de graduação e pós-graduação. Publicou várias obras em parceria, além de um livro individualmente. “Era muito estudioso. Viajava muito para se especializar e acabava ‘vendendo’ o trabalho da Tupy”, reforça o filho, Guilherme. “Ele nunca pensou em outra engenharia”, acrescenta Mariângela.
A partir de 2017, Wilson Guesser atuou como consultor de P&D da Tupy S.A, desenvolvendo projetos da Tupy junto a institutos e universidades no Brasil, México, Estados Unidos, França e Suécia, além de consultor em outras empresas do setor de fundição (Urussanga Minérios, Companhia Brasileira de Bentonita) no desenvolvimento de produtos para fundição.
“Recebemos a homenagem do Crea-SC e foi muito bom. É sempre gratificante para uma pessoa que se esforçou a vida inteira fazendo o que acreditava que podia ajudar as pessoas, o país, viajando muito junto a empresas que poderiam ajudar no desenvolvimento das tecnologias que trabalhava. Ele ficaria emocionado com essa homenagem”, relata Mariângela.
Trajetória profissional
Na Fundição Tupy S.A, engenheiro com diferentes cargos técnicos (1977-2017) e consultor de P&D (2017-2020). Professor voluntário do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia dos Materiais da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC-CCT (1977-2020); Homenageado com 15 prêmios entre 1975 e 2019; Autor do livro “Propriedades Mecânicas dos Ferros Fundidos” (2009). Inscrito no Livro do Mérito Catarinense do Crea-SC (2023).