A indicação de Telmo Silva de Araújo para o Livro do Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua faz justiça a um verdadeiro empreendedor da ciência e da tecnologia brasileira. A trajetória deste recifense traduz a garra do pesquisador brasileiro. O visionário engenheiro eletricista proporcionou um legado de valorização do pensamento, que engrandeceu o Nordeste e o país como um todo.
O apreço por pensadores ocidentais como Althusser, Sartre e Voltaire e ainda pela poesia de Pablo Neruda e a filosofia de Confúcio, assim como a aproximação com Dom Helder Câmara na Ação Católica e Comunidades Eclesiais de Base, representam a versatilidade deste cientista que deixou seus conhecimentos até mesmo no Extremo Oriente, como representante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de uma empresa própria, na China. Com direito ao aprendizado do mandarim, considerado um dos idiomas mais ásperos.
Máquinas elétricas, conversão eletromecânica e energética foram as disciplinas conduzidas por Telmo ao longo de três décadas, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em parte deste período, também se dedicou à pós-graduação em Engenharia Elétrica, cuja implantação se deve bastante a ele. Isto, entre inúmeros projetos, como a criação da atual Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e cargos administrativos em entidades como o Sebrae e, sobretudo, na “Rainha da Borborema”, Campina Grande.
Nessa mesma cidade onde contribuíra também para a exitosa Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, hoje conduzida, a exemplo da Anprotec, por sua viúva, Francilene Procópio Garcia, Telmo Silva de Araújo transformou sua trajetória em uma verdadeira legenda da ciência brasileira. Filhos, enteados, netos, alunos e demais amigos reconhecem as expectativas ainda amplas de um cidadão do mundo e do seu país, reservado na intimidade e generoso em suas contribuições.
“Era muito acessível, foi o que constatei já nos primeiros seis meses de contato com ele, em um curso da escolinha de formação de monitores de Eletricidade do Departamento de Águas e Energia de Pernambuco, no qual Telmo iniciava sua trajetória profissional. No mestrado, em Campina Grande, já era professor do Departamento e fazia mestrado também. Eu fiz Eletrônica e ele, Elétrica. Fomos juntos para o doutorado, eu na Inglaterra, ele na França. Depois, nos encontramos em Recife e trabalhamos no departamento de Engenharia Elétrica de Campina Grande, em 1975”, lembra o engenheiro eletricista Ivan Rocha Neto.
O colega também repassou informações da trajetória intelectual do homenageado, como sua chefia ao Núcleo de Estudos em Política (Nempo), na UFPB. “Sempre apostou, com um otimismo consciente, na regionalização”, diz Ivan, contando ter sido o responsável pelo projeto organizacional do Centro de Inovação e Tecnologia Telmo Araújo (Citta), inaugurado em 2013, em Campina Grande. “A proposta é a inovação no Nordeste como um todo. Como o Parque (Tecnológico da Paraíba), ele continua sendo uma referência e repercute para o Brasil todo”.
Ivan considera o amigo “uma cabeça excepcional. E de coração maior ainda do que a cabeça. Um cara de muitas qualidades”. E a homenagem do Sistema Confea/Crea e Mútua, “muito justa”. “Ele recebeu várias homenagens. Acredito que ele contribuiu para a vida de muita gente, por intermédio da tecnologia. Tanto, que, no enterro dele, tivemos uma multidão de pessoas, do governador ao caseiro. Fico feliz com esta homenagem do Confea. Papai não era ávido por prêmios, mas foi um homem que trabalhou muito pela cidade e pelas pessoas”, complementa uma das filhas, a desenhista industrial Germana Araújo.
Ela também destaca outras qualidades de Telmo Silva de Araújo. “Era muito reservado. Ao mesmo tempo, aberto a qualquer tipo de diálogo, uma pessoa extremamente humana e sem preconceitos. Papai me estimulou o tempo todo, ele abriu o primeiro programa de Design do Brasil, no Parque Tecnológico da Paraíba, na sua gestão. Era uma pessoa com uma visão ampla, uma pessoa ‘banda-larga’, com uma noção muito humana das coisas. Ele se envolvia com muitas atividades, mas foi um pai muito presente. Viajamos muito, ele gostava de conhecer novas culturas e escrevia poesias também. Após sua morte, lançamos um livro de poesias que ele escreveu a vida toda”.
Por Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea