Seminário internacional destaca diferenças entre excluídos e inseridos

"Se o mundo pretendesse atingir o nível
norte-americano, teríamos que ter três planetas", enfatizou o ex-presidente da Federação Mundial de Associações de Engenheiros (Fmoi), José Medem, numa referência aos padrões de consumo e renda dos Estados Unidos. No tocante ao acesso aos novos recursos informáticos e de comunicações, ele relatou mais uma vez a imensa discrepância: "um em cada três norte-americanos está conectado à internet, quando, na África, a proporção é de um para 160 e, na América Latina, de um para cada 20 pessoas em rede".

Foi ponto pacífico entre os painelistas que a redução da exclusão digital está diretamente relacionada com a melhora dos níveis de pobreza. "As tecnologias da Informação estão promovendo mudanças muito profundas nas estruturas econômicas e sociais e, com boa parte da população mundial à margem dessas inovações, a distância entre quem tem e quem não tem conhecimento tende a aumentar", reforçou Medem. O engenheiro espanhol afirmou que existem muitas possibilidades para o uso das novas tecnologias para a solução de questões da sociedade moderna, mas precisam ser usadas de forma coerente. " A telemedicina e o comércio de produtos em âmbito mundial, por exemplo, ganham com as redes digitais e podem, assim, contribuir para abrandar problemas nos países em desenvolvimento", disse.

Para Marcos Dantas Loureiro, secretário de Educação à Distância do Ministério da Educação (MEC), vivemos um momento de transformação que, como tal, demanda organização política para ser assimilado. "O mundo já inventou o trem, quando o transporte terrestre era feito apenas por cavalos; veio também o telégrafo, o carro. Todos esses adventos causaram choques. Hoje, temos, pelo menos, uma cultura propensa a adaptações", explicou. "Precisamos apenas lembrar que - apesar de parecer que o mundo foi inventado depois do Windows - outras coisas são também muito urgentes".

Conhecimento é dinheiro - O gerente do Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Zuhair Warwar, também foi no mesmo rumo. Segundo ele, uma sociedade pautada no conhecimento depende de educação, estruturas de competitividade e população e governos aptos a assimilar novas tecnologias. Warwar exemplifica a importância de se ter o conhecimento como linha-mestra para o desenvolvimento: "Já em 1999, mais de 50% da riqueza de todo o mundo era gerada pelo mercado de produtos intangíveis, frutos apenas do conhecimento, sem forma material".

Quem controla esse mercado, inevitavelmente, são os países ricos. "97% do conhecimento gerado no mundo vem do grupo do G-8, que representam apenas 15% da população mundial", reforçou Warwar. Segundo ele, esse deve ser o foco dos trabalhos de qualquer economia em desenvolvimento, já que tais produtos têm um grande valore agregado. "O fruto do conhecimento não acaba, pode ser vendido infinitas vezes", contou. A tecnologia, especialmente a digital, está inserida nesse contexto. Porém, para agregar os benefícios da produção de conhecimentos e do uso da tecnologia como bem de produção é preciso discussão maior. "A sociedade é o fim deste processo, mas, para que chegue até ela, é necessária uma mudança cultural radical e isso ainda não se discute por aqui", argumentou ele. De acordo com Warwar, "dividir" é o conceito-chave. "Não temos a cultura de compartilhar porque, no Brasil, aprendemos que informação é poder. O que esquecemos é que, se disseminado, esse conhecimento poderia ser muito mais amplificado", afirmou.

O seminário internacional Sociedade da Informação e do Conhecimento - Desafios e Oportunidades Estratégicas para o Desenvolvimento, organizado pelo Sistema Confea/Crea, em parceria com a Federação Brasileira de Engenheiros (Febrae) e Fmoi, termina hoje em Brasília.

Gustavo Schor - da equipe da ACOM