Cuiabá (MT), quarta-feira, 8 de outubro de 2003. O Anuário Estatístico de Mato Grosso indica que 208 pessoas morreram em acidentes de trânsito no ano de 2001. O número é preocupante, principalmente para os homens, já que 84,6% dessas vítimas são do sexo masculino. Não coincidentemente, em geral, os seguros para carros no país são mais baratos para as mulheres. A explicação? Elas são consideradas mais cautelosas no trânsito que os homens. Conforme indica o Anuário, o número de falecimentos de mulheres é pequeno - 12% -, se comparado ao índice masculino. O Estado peca em não saber a faixa etária de grande parte das vítimas: 31,2% - 65 pessoas - não tiveram este dado informado. Já 22,1% são vítimas entre 35 a 59 anos. O índice entre jovens, de 15 a 24 anos, também é grande, chegando a 16,8%. Já, entre 25 e 34 anos, a porcentagem é parecida com a dos jovens: 15,3%. Os acidentes também mataram 13 crianças e 17 idosos em Mato Grosso em 2001. Os dados de 2002 ainda não foram divulgados.As informações demonstram que, das vítimas de trânsito, o motorista leva a pior. Das 208 mortes, 129 eram motoristas. Após, estão os passageiros: 48 vítimas. E, por último, o pedestre, chegando a 31 mortos. Na verdade, o Anuário demonstra uma realidade conhecida dos cidadãos mato-grossenses. São poucos os engenheiros de tráfego atuando no Estado, o que prejudica o planejamento viário. Tal fato, unido à ausência de conscientização de muitos motoristas e pedestres, forma uma receita fatal.Rondonópolis, por exemplo, é um caso a ser analisado. Município com 150 mil habitantes e destaque nacional na produtividade agropecuária, tem sérios problemas no trânsito. Segundo o vice-prefeito de Rondonópolis, Marcos Antônio Ribeiro Reis, o índice de vítimas fatais na cidade chegou à média de 18,5 mortes a cada 10 mil veículos licenciados em 2002, sendo que o índice nacional normalmente é de 7 vítimas a cada 10 mil veículos licenciados. No ano, ocorreram 2610 acidentes no município: 93 pessoas morreram. O vice-prefeito participou da Conferência das Cidades de Mato Grosso, em 18 e 19 de setembro, e disse - durante o evento - que uma das prioridades para o município é justamente atuar no setor para diminuir o quadro de acidentes em Rondonópolis.Casos sem vítimas - A cena é comum: no meio de uma conversa, de repente surge uma piadinha sobre como as mulheres dirigem mal. Todos riem e elas ficam morrendo de raiva. Mas vai um aviso para os "senhores" motoristas: além de morrerem mais no trânsito, os homens estão relacionados à maior parte dos acidentes, independentemente de vítimas.Dos 3980 acidentes com vítimas não fatais que ocorreram em Mato Grosso durante 2001, mais de 76% foram com homens, o que corresponde a 2987 acidentados. Em contrapartida, as mulheres somam 23%, ou 912 vítimas. Passada a brincadeira, é importante frisar que a deficiência não está no sexo, mas na falta de planejamento no trânsito e principalmente na educação. Também é importante ressaltar que esses dados não estão relacionados ao número de carteiras de habilitação em mãos de homens e mulheres. Em tese, há mais homens portadores de CNHs.Apesar das restrições para conseguir a Carteira Nacional de Habilitação, falta ainda conscientização dos jovens sobre os riscos que os motoristas correm no trânsito. De acordo com o Anuário Estatístico de Mato Grosso, somente em 2001, a faixa etária entre 15 e 24 anos foi a que mais sofreu acidentes, o que corresponde a 945 vítimas. Entretanto, os adultos também precisam tomar cuidado. Eles somam 787 acidentes, na faixa etária de 25 a 34 anos. Logo após, pessoas com 35 a 59 anos representam 658 vítimas não fatais. Um dado interessante diz respeito ao número de vítimas com faixa etária ignorada: são 1.064 pessoas sem identificação de idade, uma omissão do Estado. Idosos, crianças e adolescentes também aparecem com proporção relevante. Ao todo, são 80 crianças com até 4 anos, 284 entre 5 e 14 anos e, 102 com mais de 60 anos que sofreram acidentes.Assim como nos acidentes fatais, a vulnerabilidade maior é de quem está no volante: 2295 vítimas não fatais. Depois, vêm os passageiros: 1044 acidentados. Os pedestres representam 581 vítimas. Boa parte das vítimas entre pedestres se relaciona a motoristas que abusam na direção. Basta permanecer cinco minutos em frente a qualquer faixa de trânsito para observar esta realidade. Em Cuiabá, semáforos que são acionados por pedestres não raro são desrespeitados e o resultado, muitas vezes, gera aumento nas estatísticas de acidentes. Dos 581 acidentes envolvendo pedestres em Mato Grosso, 430 ocorreram na capital mato-grossense, mais de 74%.Os acidentes de trânsito em Cuiabá superam ao somatório dos casos nos municípios do interior. Na capital, em 2001, foram 2.805 acidentes, contra 1.115 nas demais cidades, ou seja, mais que o dobro. Na verdade, Cuiabá vive o drama de cidades que tiveram crescimento demográfico acelerado, sem a devida contrapartida em investimentos sociais e de infra-estrutura. Se Cuiabá sofre o resultado de uma explosão populacional nos anos 70 e 80 na oferta de água, esgoto, vagas hospitalares e educacionais, também percebe o inchaço em suas ruas, que já acomodam mais de 153 mil veículos, cerca de 1/3 da frota no Estado. Graciele Leite- Crea-MT
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