Governo de Sergipe é o maior opositor da Transposição do Rio São Francisco

Brasília (DF), 28 de setembro de 2005

Contrário às obras de transposição, o governador de Sergipe, engenheiro João Alves, iniciou o debate com enfoque político sobre o abastecimento no Nordeste.

Depois de parabenizar o Confea pela iniciativa de realizar o fórum, o governador disse que “neste século, a disputa pela água será a razão de guerras, como hoje ocorre com o petróleo”.

Ele relaciona essa projeção com o número de habitantes no planeta que em cem anos passou de 1,7 bi para 6 bilhões de pessoas que consomem 7 vezes mais água. “Ouros Katrinas virão”, vaticinou.

Estudioso das características das regiões áridas e  semi-áridas do país, João Alves que já escreveu seis livros sobre o assunto, defende soluções técnicas como “a convivência com a seca, a construção de cisternas, barreiros de salvação e a ovino-caprino-cultura como recursos mais baratos e certos para melhorar a qualidade de vida da população que vive nessas regiões”.

“Nunca vi tanta incompetência, arrogância e insensatez na implantação de um projeto como estas que marcam este da transposição das águas do rio São Francisco”, afirmou.

Para ele, o projeto levará água até 400 km de distância para a irrigação e ”isso matará o rio a partir de sua foz”, garante.

João Alves criticou a mudança de posição do ministro Ciro Gomes “que antes era contrário à obra” e disse que “a ministra Marina Silva está cansada e desmotivada para o debate”.

“O rio São Francisco vive uma tragédia. Não se pode pedir a doação de sangue de um doente internado na UTI. A transposição só atenderá 5% do semi-árido e não visa o consumo humano, atende aos interesses pecuários”.

João Alves acredita que “o governo quer fazer a obra de forma truculenta, desrespeitando a lei” e afirmou que recorrerá na Justiça contra a autorga do Ibama para a concretização do projeto que considera “ilegal” .
O governador sergipano afirma que o projeto causará “o maior desastre sócio-ambiental que o país já sofreu”, e na defesa de outras soluções, propõe a “revitalização a curto e médio prazos e a construção de adutora  orçada por R$ 580 milhões  para levar água para a Paraíba”, por exemplo. Além de continuar equacionando a questão recursos hídricos x convivência com a seca.

Alves também afirma que a “transposição é lesiva aos cofres públicos e que dependerá de dotação orçamentária para sua concretização. Para ele, “o projeto é socialmente injusto porque privilegia o rico em detrimento do pobre. É ecologicamente destrutivo, politicamente desastroso e tecnicamente errado”.

Maria Helena de Carvalho
Da equipe da ACOM