Desperdício e mau uso da água é discutido em palestra no Crea-BA

Salvador, 19 de novembro de 2015.

"Especialistas debatem a gestão da água"

A 4ª Reunião do Grupo Técnico sobre Desenvolvimento Sustentável do Crea-BA foi marcada pela palestra do professor e um dos maiores especialistas em hidrologia do país, Luiz Moraes. “Gestão das Águas no Estado da Bahia e no Contexto Mundial” foi o tema da apresentação, realizada na tarde de terça-feira (18).

Pesquisador e autor de diversas publicações sobre o assunto, Luiz Moraes explicou que falta controle da água que é implotada do subterrâneo e esclareceu que o Brasil tem 12% da água doce superficial do mundo e a maior concentração está em áreas menos povoadas. Chamou atenção para a perda de água em Salvador que é de 48,82%. “Um absurdo termos uma perda desta magnitude. Se conseguíssemos reduzir a perda para 20%, conseguiríamos abastecer bem 100% da população de Salvador”, observa.

O palestrante criticou a falta de aproveitamento da água das chuvas, já que Salvador e Itaparica são as cidades com maiores precipitações pluviométricas da Bahia. “É uma estupidez buscar água no Paraguaçu. Isso interessa a quem? Os atos de corrupção que se fazem hoje em benefício de grandes empresas irão prejudicar nossos netos e bisnetos no futuro”, salienta.

"Palestrante Luiz Moraes"

Moraes mostrou-se bastante entusiasmado com a descoberta do Sistema Aquífero Amazônia com 162.520 km³, três vezes mais do que o do Aquífero do Guarani (45.000 km³). A preocupação do especialista agora é como essa água será aproveitada. “Em uma apresentação para senadores, sugeri que o direito à água estivesse na Constituição nas garantias individuais. Infelizmente o Comitê de Bacias não discutem com os municípios, ficam apenas no plano de quem entende de água. Jamais resolveremos o problema porque a água está diretamente relacionada ao uso e ocupação do solo”, revela, destacando que os recursos hídricos subterrâneos precisam ser estudados, tendo em vista à degradação dos mananciais superficiais.

Outro problema apontado pelo professor é saber o quanto se disperdiça água em atividades como agricultura, pecuária e indústria. “A mídia sempre chama a atenção para o desperdício humano, mas muitas vezes esquecem de citar os índices disperdiçados pela produção brasileira. Existe uma gestão da oferta, mas falta fazer uma gestão da demanda”, enfatiza.

Segundo a ONU, o consumo da água pela indústria é de 20%, pela irrigação 70% e humano é de 10%. No Brasil é respectivamente, 7%, 72% e 9%. “Não podemos enxergar a água como mercadoria. Acho importante o GT e o Crea abraçarem esta temática e ajudarem a melhorar a gestão dos poucos recursos de água doce e potável que temos”, finaliza.

Mais - O Grupo Técnico sobre Desenvolvimento Sustentável do Crea-BA foi criado em julho. Composto pelo Ministério Público, União dos Municípios da Bahia e Secretaria de Meio Ambiente, além do Crea-BA, o GT tem a proposta de sugerir ações para o plenário do Conselho Regional, e neste ano a meta é discutir licenciamento ambiental e recursos hídricos.


Nadja Pacheco (Ascom Crea-BA)