
Brasília, 17 de março de 2025.
Stéphane Domeneghini é uma das principais referências na engenharia de supertall no Brasil, especializada na construção de edifícios altos e icônicos. À frente da área de prédios superaltos da FG Empreendimentos e diretora executiva da Talls Solutions, a única empresa da América Latina com credenciais para consultoria de edifícios altos, Stéphane acumula mais de 15 anos de experiência em grandes projetos, como o Epic Tower, One Tower e Ed. Boreal Tower.
Atualmente, o nome de Stéphane está ainda mais evidenciado no cenário da engenharia civil. Como responsável técnica pelo projeto do Senna Tower, ela lidera a execução daquele que se tornará o edifício residencial mais alto do mundo. Localizado em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, o empreendimento simboliza um marco para a engenharia brasileira, reunindo inovação, tecnologia e soluções estruturais de ponta. A edificação será erguida sobre um maciço rochoso classificado como um dos mais rígidos do mundo. Para isso, foram necessários quatro anos de intensos estudos, que envolveram a busca por soluções técnicas inovadoras, equipamentos e fornecedores especializados para atender aos rigorosos requisitos de segurança, sustentabilidade e impacto mínimo para a vizinhança. Com seu trabalho, Stéphane não apenas transforma a paisagem urbana do país, mas também coloca o Brasil no centro das discussões sobre tecnologia, ao trazer soluções construtivas avançadas para edifícios de grande altura.
A trajetória de Stéphane se destaca também por sua posição como mulher em um campo historicamente dominado por homens. “A engenharia civil, especialmente a de prédios altos e supertalls, ainda tem uma representatividade feminina acanhada”, afirma na entrevista a seguir. Ela compartilha que, no início de sua carreira, teve que provar sua capacidade em ambientes predominantemente masculinos, mas sempre acreditou que o talento e a competência não têm gênero. Para ela, a presença feminina na engenharia traz uma perspectiva diferenciada, impulsionando a inovação no setor. “A diversidade de pensamento e a forma de abordagem dos problemas nos tornam ainda mais preparadas para liderar”, acrescenta, incentivando outras mulheres a mostrar seu potencial no setor.

Site do Confea: Quais inovações e sistemas avançados de engenharia são aplicados na construção do Senna Tower para viabilizar sua altura recorde como o edifício residencial mais alto do mundo?
O Senna Tower é muito mais que um marco arquitetônico, é um símbolo de engenharia de ponta, contando com muita inovação, tecnologia e excelência. Estamos trazendo ao Brasil os melhores profissionais do mundo e as soluções mais avançadas para entregar um empreendimento que reflete o legado de Ayrton Senna: precisão, superação de desafios através da determinação inabalável. Este projeto elevará o patamar da construção civil no país e será uma referência global. O Senna Tower é muito mais que um marco arquitetônico, é um símbolo do avanço do homem na engenharia. O Senna Tower foi concebido com premissas técnicas fundamentadas em primeiro lugar em segurança, e então em inovação, tecnologia e sustentabilidade. Será o primeiro edifício da América Latina a implementar o Tuned Mass Damper (TMD), que cumpre a função de auxiliar na estabilização para conforto dos ocupantes dos andares mais altos, mitigando os efeitos adversos dos ventos. Contando com alta expertise de engenharia de nível mundial permitirá a chegada ao Brasil dessa solução, esse sistema, o TMD, é hoje um dos mais avançados e reflete a engenharia mais refinada e de ponta no mundo. Atualmente o empreendimento será o primeiro residencial supertall do mundo a receber o selo LEED Platinum, sigla para Leadership in Energy and Environmental Design (Liderança em Design Ambiental e de Energia), o maior nível de classificação de construções sustentáveis do mundo. Além disso, conta com um sistema de fundação inédito no mundo, liderado pela Talls Solutions e FG Empreendimentos através dos estudos dos engenheiros Ricardo Born e Harry Poulos.
Site do Confea: Especialistas dizem que o futuro é a verticalização das cidades. Quais são as abordagens mais adequadas da engenharia em relação a essa proposta, em termos ambientais, econômicos e de segurança?
A ascensão dos gigantes de concreto no Brasil consolida um novo capítulo na construção civil do país, impulsionado pela verticalização e pela busca por soluções inovadoras e sustentáveis. O Brasil vive um momento transformador na construção civil. A verticalização das cidades não é apenas uma resposta ao crescimento populacional, mas também uma oportunidade de criar edifícios icônicos que redefinem o conceito de habitação e trabalho. A Talls Solutions está na vanguarda desse movimento, oferecendo soluções que transformam o skyline das cidades. A melhor abordagem é essencialmente a que conduz ao esclarecimento técnico desde o princípio do projeto arquitetônico, integrando a equipe de arquitetos com a equipe de engenharia, especialmente o engenheiro estrutural especialista em edifícios mais altos, pois o grande primeiro impacto está na estrutura de prédios que são mais altos. Normalmente são mais robustas pois sofrem muita interferência dos ventos, e isso configura uma dramática mudança em todo nosso processo tradicional de engenharia estrutural e abordagem arquitetônica no Brasil: os prédios passam a se tornar elementos flexíveis, e isso traz profundas consequências e mudanças de abordagens em todas as instâncias, não somente estrutura, mas também sistemas de abastecimento, elevadores, vedações internas e externas. É como aprender a andar novamente, o processo pode ser desafiador e exaustivo pois não há sempre uma lógica bem explícita de como se resolve um edifício flexível como são os prédios altos, estamos entrando numa seara nova de abordagem técnica. No entanto, para que seja sustentável e eficiente, é essencial adotar soluções que equilibrem engenharia, meio ambiente e qualidade de vida como eficiência no uso do solo e infraestrutura inteligente: prédios mais altos permitem um melhor aproveitamento das áreas urbanas, reduzindo a expansão horizontal descontrolada e preservando áreas verdes; mobilidade urbana integrada: o crescimento vertical deve ser acompanhado por soluções de transporte público eficiente, acessibilidade e criação de áreas de convivência para garantir harmonia entre os espaços; segurança estrutural: prédios altos exigem engenharia avançada para lidar com ações do vento, sismos e cargas verticais, além de sistemas de segurança contra incêndios e evacuação planejada.
A engenharia moderna permite que a verticalização aconteça de forma segura e sustentável, proporcionando cidades mais compactas, inteligentes e eficientes
Site do Confea: Como a sua formação e experiência em engenharia civil contribuíram para sua atuação em projetos de grande escala, como o Senna Tower, e quais aprendizados você destacaria dessa trajetória?
A engenharia é uma vocação e o trabalho que realizo hoje é um propósito de vida. Desde pequena eu tinha um objetivo: construir elementos que contribuam para a história, que sejam legado e impactem positivamente na vida das pessoas. Assim, a engenharia civil é este meio que me possibilita transformar aquele sonho de criança em uma realidade cada vez mais palpável. A construção de arranha-céus nunca foi sobre altura e sim sobre construir soluções para um mundo mais resiliente e inovador. Minha formação e experiência na engenharia civil me proporcionaram não apenas conhecimento técnico, mas uma visão estratégica sobre como os grandes projetos podem aliar inovação, eficiência e sustentabilidade. O Senna Tower sintetiza essa visão. Cada etapa do projeto, desde os estudos estruturais até a aplicação de tecnologias avançadas, exige um olhar multidisciplinar, a capacidade de antecipar desafios e a coragem de inovar. O maior aprendizado dessa trajetória é que a engenharia não é apenas cálculo e precisão — é a arte de transformar possibilidades em realidade, criando estruturas que contarão a história do futuro.

Site do Confea: Você foi a única brasileira a integrar, em 2024, o júri da premiação das Américas no maior congresso mundial sobre edifícios altos, o Congresso do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) 2024. Comente o que essa experiência representou para você em termos de responsabilidade técnica e visibilidade internacional.
Estar entre as maiores autoridades do segmento reforça o legado que estamos construindo, posicionando o país cada vez mais entre os maiores mercados do segmento. Participar do júri da premiação das Américas no CTBUH 2024 foi um reconhecimento não apenas profissional, mas também da capacidade técnica do Brasil em engenharia de edifícios altos. O CTBUH é referência mundial em pesquisa, inovação e aplicação de novas tecnologias para construções de grande altura. Fazer parte desse grupo de especialistas me permitiu analisar e discutir projetos que estão redefinindo a construção civil globalmente, além de fortalecer conexões estratégicas com profissionais que estão moldando o futuro do setor. Ter uma brasileira nesse seleto grupo mostra que o Brasil não apenas acompanha as tendências internacionais, mas também exporta conhecimento e inovação. Foi uma experiência enriquecedora que reforçou minha missão de continuar elevando os padrões da engenharia.
Trabalhar com arranha-céus nunca foi apenas sobre desafiar alturas, mas sim sobre desafiar limites e encontrar soluções para um mundo mais resiliente, tecnológico e integrado
Site do Confea: Sendo uma referência mundial na construção de prédios altos, você ocupa um espaço que ainda é predominantemente masculino na engenharia civil. Quais foram os principais desafios que enfrentou ao longo da sua trajetória e como superou possíveis barreiras para desafiar o convencional e promover resultados surpreendentes?
A engenharia civil, especialmente a de prédios altos e supertalls, ainda tem uma representatividade feminina acanhada. No início da carreira, percebi que, para ser ouvida e respeitada, eu precisava dominar absolutamente todos os aspectos técnicos e me destacar pelo meu conhecimento. Os desafios foram muitos, desde quebrar estereótipos até provar minha capacidade em ambientes majoritariamente masculinos. No entanto, acredito que o talento e a competência não têm gênero – têm determinação, resiliência e entrega de resultados. Hoje, vejo que ser mulher na engenharia é um diferencial. Por isso, sigo incentivando outras mulheres a se posicionarem, conquistarem espaço e mostrarem seu potencial no setor.

Site do Confea: Que conselhos você daria para jovens engenheiras que desejam atuar em grandes obras e assumir posições de liderança, desafiando o convencional e promovendo resultados notáveis?
O futuro da construção civil é plural e precisa de iniciativas. Ao pensar em proposições para jovens que desejem fazer a diferença, o primeiro passo é ousar, ir além do que se tem convencionado. Busquem conhecimento e, quando este se esgotar, transformem a curiosidade em novas informações, sejam pioneiras, os desafios são oportunidades para crescimento. E, acima de tudo, sejam protagonistas da própria jornada. Não esperem reconhecimento, construam seu espaço com competência e iniciativa. Liderança e inovação são conquistadas com trabalho e dedicação.
Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Divulgação