Brasília, 7 de março de 2025.
No Mês da Mulher, o Confea destaca histórias inspiradoras de profissionais que fazem a diferença em suas áreas de atuação. A engenheira agrônoma Daiane Sampaio é um exemplo de dedicação ao campo e ao conhecimento. Formada pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e mestre em Recursos Genéticos Vegetais, em parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura, Daiane alia ciência e vivência prática para fortalecer a agricultura familiar e promover o progresso no meio rural. O envolvimento com a Associação de Desenvolvimento Comunitário da Boca da Mata e o trabalho com agricultores familiares, especialmente mulheres, mostram seu compromisso em impulsionar a produção local e gerar impacto positivo no setor agrário.

Além de produtora de lima ácida tahiti, a baiana de Cruz das Almas utiliza as redes sociais para compartilhar conhecimento sobre agronomia e o dia a dia no campo, tornando a informação acessível e contribuindo para a valorização da agricultura. Com uma abordagem simples e didática, ela traduz conceitos técnicos e incentiva o uso de boas práticas no cultivo, ajudando tanto pequenos produtores quanto profissionais da área. Atualmente, ela está escrevendo e-books sobre cultura de citros, com foco especial na poda. A agroinfluencer já tem mais de 90 mil seguidores no Instagram, Youtube e Tiktok, com vídeos que passam de 1 milhão de visualizações. Nesta entrevista, ela fala sobre sua trajetória, os desafios de ser mulher na agronomia e como tem usado a comunicação para transformar a relação das pessoas com o meio rural.
Site do Confea: Recentemente, você compartilhou em suas redes sociais a frase “Para mim, a felicidade começa quando o asfalto termina”. O que a conexão com o ambiente rural representa para você e como ela influenciou sua trajetória na agronomia?
A conexão com o ambiente rural representa minhas raízes, minha história e a base da minha formação. Crescer em um ambiente rural me ensinou a valorizar o trabalho árduo, a resiliência e a importância de estar em harmonia com a natureza. Sou neta e filha de produtores rurais, cresci nesse ambiente, ajudando meus avós e aprendendo desde cedo a produzir alimentos, a observar cada processo e a buscar entender cada um deles. Além do conhecimento prático que adquiri desde jovem, o campo foi e é meu maior laboratório e sempre fui curiosa, buscando compreender o porquê das coisas. Eu acredito que a agronomia já existia em mim de maneira prática, mas eu precisava complementá-la com a parte teórica, vivenciando uma graduação. E além disso, é uma profissão que me coloca no lugar que mais gosto de estar: no campo, em contato com a natureza. Minha escolha pela agronomia foi guiada pelo desejo de ajudar os produtores rurais a alcançar melhores resultados e contribuir para o desenvolvimento da agricultura, não apenas localmente, mas de forma abrangente e sustentável.
Minha motivação para cursar agronomia veio tanto da minha vivência quanto do desejo de encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos agricultores da minha região, incluindo minha própria família
Site do Confea: Como surgiu a iniciativa de compartilhar conhecimento técnico nas redes sociais? Como você faz para tornar esse conteúdo mais acessível e lúdico para os produtores rurais?
Ensinar e transmitir o que sei e aprendo sempre foi algo muito natural e espontâneo em mim. Apesar da timidez característica de uma menina da roça, aos poucos fui vencendo essa timidez e vi nas redes sociais uma oportunidade de compartilhar meu conhecimento e minha vivência com um público maior, alcançando lugares que de outra forma não alcançaria. Para tornar o conteúdo mais atrativo, transformo a linguagem técnica da pesquisa em uma linguagem mais simples e fácil, para que os produtores e pessoas de outras áreas do conhecimento possam entender, sem perder a essência do conteúdo transmitido ou a veracidade da informação. Além de transmitir conhecimento cientificamente comprovado, compartilho o que aprendi com as gerações anteriores, o que gera maior identificação do público. Uma das coisas que cativa as pessoas é me ver "colocando a mão na massa", ou seja, vivendo aquilo que falo. Também busco aprimorar meu conhecimento sobre as redes sociais, identificando tendências e adaptando-as para o contexto agronômico, o que me permite alcançar públicos diferentes de forma mais descontraída. Recentemente, tive acesso a uma iniciativa voltada à avicultura, realizada em parceria com a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), e o Consórcio do Território Recôncavo (CTR). Ao começar a compartilhar minha experiência prática com as galinhas poedeiras, o conteúdo gerou muita aceitação no público e atraiu muitos seguidores. Inicialmente, foi desafiador para mim, mas depois se tornou prazeroso e gratificante saber que tenho um segmento a mais para atuar e também para ajudar outros. Esse tem sido o conteúdo que gera mais interação, seguido pelas dicas de cultivo.

Site do Confea: A agronomia ainda é uma área majoritariamente masculina. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo da sua trajetória e de que forma conseguiu superar obstáculos para quebrar padrões e alcançar resultados de destaque?
No início, enfrentei resistência principalmente por parte de meu pai e irmão em aceitar novas práticas que, embora não fossem inovadoras, eram frequentemente negligenciadas, como a análise do solo e a calagem. Além disso, também encontrei resistência de outros agricultores e enfrentei desafios ao gerenciar colaboradores que relutavam em aceitar minhas orientações. No início, foi um grande desafio, mas recentemente até as redes sociais contribuíram, pois recebi feedbacks positivos. Isso foi percebido por meu pai e irmão, que passaram a reconhecer e valorizar a importância de contar com uma agrônoma na família. Hoje, aprendo muito com eles e posso contribuir com todo o conhecimento que adquiri. A superação desses obstáculos e o reconhecimento do meu trabalho são provas de que é possível quebrar padrões e alcançar resultados de destaque na agronomia, mesmo em um setor que ainda é predominantemente masculino.
Alcançar a posição de gerenciar as plantações na propriedade exigiu muito estudo, perseverança, resistência e paciência para demonstrar que o básico bem feito funciona
Site do Confea: Além de compartilhar conhecimento técnico, você mostra a rotina na roça e o papel da mulher no campo. Como tem sido a recepção do público sobre essa representatividade feminina na agricultura?
Tem sido extremamente positiva. Mostrar a rotina na roça e destacar o papel da mulher no campo tem gerado muito engajamento e apoio nas redes sociais. Muitos seguidores expressam admiração e gratidão pela representatividade feminina na agricultura, reconhecendo a importância de dar visibilidade às mulheres que atuam no setor agrícola. Compartilhar minha experiência e o dia a dia na roça, bem como os desafios e conquistas como mulher no campo, tem inspirado outras mulheres a seguirem seus sonhos e a se sentirem empoderadas para atuar na agricultura. Recebo muitos feedbacks positivos, tanto de mulheres quanto de homens, que valorizam a diversidade e a inclusão no meio rural. É gratificante saber que posso fazer a diferença e contribuir para a mudança de percepção sobre o papel da mulher na agricultura, mostrando que podemos ser protagonistas e líderes nesse setor.

Site do Confea: Que conselho daria para mulheres que desejam seguir carreira na agronomia ou empreender no campo, mas ainda enfrentam resistência ou insegurança?
Para as mulheres que desejam seguir carreira na agronomia ou empreender no campo, é essencial encontrar uma causa maior que inspire e motive sua escolha. Enfrentar resistência e insegurança faz parte do processo, mas acreditar no próprio potencial, ser resiliente e persistente são qualidades fundamentais. É importante construir uma rede de apoio, conectar-se com outras no setor e compartilhar experiências. Além disso, preparem-se tecnicamente e acreditem na importância do que fazem. Enxerguem cada pequena vitória como um passo a mais em direção ao sucesso e saibam que sua contribuição será valiosa para a agricultura e para o mundo.
Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Acervo pessoal