Gramado, 9 de agosto de 2023.
Acessibilidade foi o assunto na tarde desta quarta-feira, 9, no auditório Entrevero, durante a 78ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia. Com apresentação da professora do Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC), eng. civ. Célia Neto Pereira da Rosa, o evento recebeu Andrea Schwarz, influencer que está entre as 500 pessoas mais influentes da América Latina, segundo a Bloomberg.
Andrea é deficiente física, e a origem de sua condição marcou o início de seu relato na 78ª Soea. Ela perdeu o movimento das pernas há 25 anos, quando sentiu uma fraqueza enquanto estava caminhando na praia com o namorado e hoje marido, Jaques. Caiu e não conseguiu mais se levantar. Após um mês internada, recebeu o diagnóstico de que tinha cavernoma intramedular (uma lesão benigna que apresenta um risco de piorar e levar a sangramentos). Passou por uma operação, mas ficou paraplégica por causa de uma lesão medular relacionada ao andamento da doença e da cirurgia.
"Ficar paraplégica não foi o fim da minha história. É uma parte da minha identidade, mas não me define." Visto que passou a viver em um mundo cheio de preconceito, a influenciadora resolveu criar o seu próprio espaço. Por isso, em 1999, fundou a iigual, uma consultoria especializada na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho que em suas quase duas décadas de atividade, já ajudou mais de 20 mil pessoas a serem contratadas. Atualmente, o banco de talentos tem mais de 100 mil currículos de profissionais com todos os tipos de deficiência, diferentes níveis de escolaridade e de todas as regiões do país.
Autora de três livros relacionados ao tema da acessibilidade, Andrea foi escolhida em 2019 como Top Voice (criador de conteúdo que merece ser seguido) do Linkedin. Andrea diz ter uma grande responsabilidade com seus seguidores nas redes sociais. "Minha exposição me custa caro, mas é necessária para que tenham referências, para que as pessoas saibam que existem horizontes."
Acessibilidade na Engenharia
Ao se dizer honrada em falar do assunto para engenheiros de todo o Brasil, Andrea enfatizou a importância da equidade, uma vez que recursos de acessibilidade são mecanismos capazes de equilibrar a convivência entre pessoas de condições diferentes. “O jogo bom é aquele que todos podem jogar da mesma forma, e acessibilidade é fator fundamental para que pessoas com deficiência possam estar integralmente inseridas na sociedade e caminhar com equidade de oportunidades. É um assunto que importa a todas as pessoas por ser tão fundamental. Fundamental para termos não apenas um evento inclusivo, mas para que vocês possam sair com ferramentas e com soluções que possam incluir e contemplar todas as pessoas”, disse emocionada.
“Mudar a mente para mudar o mundo”
Andrea prega que vive com sua deficiência, e não apesar dela. Este reflexo abre discussão em torno do pensamento capacitista, que é uma forma de preconceito, consciente ou inconsciente, em que se subestima a pessoa em função de sua deficiência. “É preciso reconhecer esse preconceito, porque as pessoas sempre entenderam deficiência como algo muito ruim, que desperta pena. Mas a partir do momento em que a gente começa a conviver com essas pessoas, quebramos muitos desses vieses”, explicou.
De acordo com Andrea, ser anticapacitista é questionar sobre como se colocar no mundo e reeducar as pessoas a fim de parar de objetificar deficiências. “Não sou uma pessoa com deficiência apenas para inspirar os outros. O que tem que inspirar é minha história, o que eu fiz com a minha deficiência — e não minha deficiência propriamente dita”.
Família
"Quando fiquei paraplégica, fiquei basicamente sem amigos porque eles se afastaram e fomos nos fortalecendo como casal", diz ela sobre a relação com o marido. E antes mesmo de se apaixonar pelo seu companheiro, a paulistana sempre sonhou em ser mãe. Quando pensou em engravidar pela primeira vez, ouviu de muitos médicos que não seria possível. Em 2006, Andrea teve seu primogênito, Guilherme. Três anos depois, teve outro menino, Leonardo.
Ela celebra como os filhos se tornaram pessoas conscientes e que respeitam todas as pessoas independentemente se têm ou não deficiência. "Meus filhos têm um olhar mais inclusivo. Inclusive eu falo nas minhas palestras que queria que a sociedade tivesse as lupas deles."
Ao redor do mundo
Desde que começaram a se relacionar, Andrea e Jaques sempre amaram viajar e não deixaram que a falta de acessibilidade os impedisse de realizar seus sonhos. Os dois já visitaram mais de 40 países juntos. Em duas décadas como cadeirante, Andrea relata que sofreu muito com falta de serviços para pessoas com deficiência, principalmente em companhias aéreas e agências de viagens. "É difícil achar roteiros e ter quartos acessíveis. Não entendem que uma pessoa com deficiência se casa e tem filhos."
Andrea relembra que chegou a viajar para lugares sem acessibilidade alguma, como Santorini, na Grécia. Nesses locais, o marido foi as suas pernas. Por outro lado, Ásia e Estados Unidos são escolhidos com frequência como destino das viagens em família, por ter mais estrutura para recebê-la.
Reportagem: Felipe Moreno (Crea-AL)
Edição: Beatriz Leal (Confea)
Equipe de Comunicação da 78ª Soea
Fotos: Studio Feijão e Lentilha e Marck Castro/Confea