Especialistas defendem estudos para prevenção de desastres naturais

Goiânia (GO), 4 de outubro de 2022.

Na tarde desta terça-feira (4/10), os participantes da 77ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea) lotaram a sala 1 para assistir ao painel “Desastres Naturais: a importância da prevenção e da gestão de riscos”, moderada pela geol. Marjorie Cseko Nolasco, conselheira federal suplente e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia. A primeira palestra foi sobre “Responsabilidades nos desastres naturais", ministrada pelo eng. minas Regis Wellausen Dias, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros de Mineração (Abremi).

Na sua fala, Dias destacou que o Brasil hoje está muito bem em termos de informações sobre o tratamento de problemas. “No aspecto de mapeamento de informações, quase todas as variáveis dos eventos que nós temos no Brasil estão sendo tratadas. Apenas a seca não está sendo tratada como uma variável e nós recomendamos. No Brasil, a seca é tratada como problema da agricultura, mas ela é um problema sistêmico, com grandes prejuízos, e deveria ser introduzida como problemas ambientais de risco do país.”

O palestrante ainda ressaltou o descaso no uso desses dados pelos gestores públicos. “O que temos assistido ao logo dos anos é a omissão por parte das autoridades envolvidas nessas questões. Não existe falta de informação, o problema é a omissão. Mesmo sabendo das áreas de alto risco, a retirada ou substituição de moradias urbanas não é tratada. Está faltando legislação que relacione a responsabilidade civil sobre a disponibilidade da informação, não é possível que um gestor sabendo da existência daquele risco de dano, deixe simplesmente acontecer como uma oportunidade política de tratar pessoas e remanejá-las.”

Engenheiro de minas Regis Wellausen Dias

Segundo o engenheiro de minas, um caso de omissão recente é o do Capitólio, em Minas Gerais, que ocorreu no lago de uma usina de produção de energia elétrica (Furnas), e é inadmissível que a empresa responsável não tenha uma metodologia de verificação de riscos, permitindo que a população acesse o lago com a finalidade de turismo. “É inadmissível o acesso de pessoas a uma unidade industrial com aquele grau de risco, e isso nunca ter sido tratado é uma das responsabilidades escondidas mais omissas do Brasil, assim como nos parques nacionais”, comentou Regis Wellausen Dias, que completou: “Não adianta nós fazermos um mapa bonito, colorido e colocar no computador se a autoridade não vai utilizá-lo ou não vai tomar medidas pra que aquilo não se repita, já que aquilo é previsível”.

O segundo palestrante do painel foi o geol. Fábio Reis, professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e presidente da Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo), com a palestra “Riscos geológicos em áreas turísticas: caso de Capitólio”. Na apresentação o docente relatou os estudos, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp, do qual ele faz parte, e o estudo sobre Fernando de Noronha (PE). Foram apresentados de forma técnica as informações sobre os estudos, as formas de redução de danos e, por fim, uma metodologia de verificação de riscos, elaborada pelo grupo de estudos. “Não podemos fechar os cânions de Capitólio; se fizermos isso, deveríamos fechar todos os outros cânions do Brasil, várias estradas, áreas em serras e acabar com as visitações em cavernas”, observou o geólogo.

Geólogo Fábio Augusto Gomes Vieira Reis durante sua apresentação

Reis expressou ainda a importância da metodologia de riscos criada para as regiões do Capitólio e Fernando de Noronha. Nessa metodologia, os guias e turistas terão que se adequar ou não poderão seguir a excursão. “No estudo, estabelecemos várias medidas de redução de danos, entre elas: monitoramento diário de geólogos, pontos de contenção, o uso disciplinado, onde áreas foram proibidas e outras tiveram seu acesso limitando ao quantitativo de barcos e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Essa última parte, foi recebida por algumas pessoas com uma certa restrição, já que elas querem fazer o uso das embarcações com roupas de banho e sem o uso do capacete para entrar nessas áreas”, descreve Reis.

Fechando o painel, o geol. Ronaldo Malheiros Figueira, assessor técnico da Prefeitura do Município de São Paulo/Sigesp-Febrageo com a palestra “A importância da governança da gestão de riscos e de desastres”. Na apresentação, o geólogo pontuou que o risco é uma coisa que nos cerca, o importante é a percepção sobre o risco, e o trabalho que deve ser feito. Vários procedimentos já estão na Política Nacional de Segurança de Barragens, e que o que precisa ser feito é colocá-los em prática.

Geólogo Ronaldo Malheiros Figueira

Tendo como referencial a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, Figueira salientou a importância das lideranças nas cidades em ações de prevenção e não apenas de resgate e socorro. “Precisamos aumentar a responsabilidades dos gestores municipais. Em todos os últimos desastres ocorridos no Brasil, os gestores sabiam dos riscos e deixaram acontecer, para depois buscar a solução para o problema”, comentou o geólogo.

Reportagem: Daniel Lobato (Crea-AC)
Edição: Julianna Curado (Confea) Revisão: Lidiane Barbosa (Confea)
Equipe de Comunicação da 77ª Soea
Fotos: Juliana Nogueira Fotografia/Confea