Munbai (Índia), segunda-feira, 19 de janeiro de 2004. O Sistema Confea/Crea está participando da quarta versão do Fórum Social Mundial (FSM), em Munbai na Índia, com comitiva formada pelos conselheiros federais arquiteto Itamar Kalil, representante do presidente do Confea eng. Wilson Lang, engª Mecânica Maria José Balbabaki, coordenador do Colégio de Entidades Nacionais (CDEN) arquiteto Eduardo Bimbi, presidentes dos Creas-RS, eng. agrônomo Gustavo Lange e RN, engª civil Elequicina Maria dos Santos e pela jornalista Bety Rita Ramos.Além de participar de várias oficinas discutindo temas como pontes possíveis entre o Brasil e a Índia, ALCA, direitos das mulheres, engenharia e arquitetura solidárias, carta mundial das cidades, soberania energética, direitos sobre a água no mundo, ciência e tecnologia para a implantação de desenvolvimento nacional brasileiro, entre outros. A comitiva do Sistema Confea/Crea distribuiu duas mil camisetas e bolsas para os cerca de 10 mil participantes do evento, num ato de integração com os mesmos e divulgação das atividades do Sistema Profissional para o mundo. Para Gustavo Lange, participar pela segunda vez do FSM - dessa vez em outro país - é uma experiência extraordinária. "O Fórum neste país está mostrando a sua verdadeira importância e dimensão, todos os que aqui se encontram estão percebendo a possibilidade da existência de um mundo sem guerras, um mundo melhor, respeitadas as diferenças entre todos os povos. O FSM serve para que todos os povos se expressem sem preconceitos, sem reservas. Aqui estão representados praticamente todos os países do mundo, minorias raciais, religiosas, políticas que têm diferentes lutas, mas buscam entender-se e apoiar-se".Na avaliação de Elequicina Maria o FSM é uma idéia louvável para que seja mostrado ao mundo as condições de vida da população dos países mais pobres e em desenvolvimento, suas diferenças na saúde, educação, transporte, cultura, saneamento, lazer, enfim em todos os setores. "Participar deste Fórum na Índia me fez perceber in loco como falta vontade política para uma melhor distribuição de renda, que com certeza vai resultar no desenvolvimento de cada país. Este país foi muito bem escolhido para vermos de perto o que é o sofrimento de um povo, quantas coisas precisam ser mudadas para que os espaços urbanos da Índia sejam dignos do seu povo, ou seja, mais humano, mais prazeroso para convivência".Elequicina, que é também secretária de Transporte da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, disse que ficou surpresa com o trânsito de Mumbai, onde convivem os Ricckshaws (motoneta de três rodas que transporta até três passageiros), mais de 50 mil táxis, um grande número de ônibus e carros particulares - veículos da década de 60 - com milhares de pedestres que transitam o tempo todo nas ruas com péssimo asfalto, sem calçadas, sinalização e com poucos guardas de trânsito."Num primeiro olhar tudo parece um grande caos. É muita confusão embalada ao som de buzinas ensurdecedoras. Mas, apesar de tudo, quase não se vê registros de acidentes. Motoristas, passageiros e pedestres pouco discutem. De alguma forma eles se entendem. Porém, com certeza, essa convivência pode ser melhorada. Tanto barulho, buracos, poeira e sustos com freadas bruscas não é qualidade de vida que população nenhuma mereça. Temos consciência que essa também é a realidade das grandes cidades brasileiras, que também precisam ser mudadas", ressaltou a secretária.A estreante da comitiva no FSM, Maria José Balbaki, endossou as palavras de Elequicina com relação ao trânsito de Munbai, criticou a ausência de saneamento básico na cidade, entre outros problemas, mas enfatizou que o objetivo do Fórum é justamente proporcionar que as diferentes culturas troquem diferentes experiências de soluções de problemas iguais.Balbaki lembrou ainda que a questão da moradia - cujo déficit no Brasil é 6,5 milhões - é também um grande drama na Índia. "Em Mumbai as pessoas transitam nas ruas quase que 24 horas, muitas porque não têm onde morar. O déficit habitacional é alto e é muito comum famílias inteiras morando debaixo das pontes e dos viadutos, outras simplesmente andam nas ruas pedindo esmolas e parando para dormir onde estiverem quando chega o cansaço", contou sugerindo que os dois países troquem informações sobre o assunto para que experiências como a engenharia e a arquitetura públicas, executadas pelo Sistema Confea/Crea em várias cidades brasileiras, possa vir a ser pensada para as cidades indianas.A conselheira federal elogiou a participação ativa das mulheres no FSM, discutindo seus próprios direitos, direitos humanos e trabalhistas e buscando com veemência liberdade política e de expressão.O arq. Eduardo Bimbi, coordenador do CDEN, avalia que a realização dessa quarta edição do FSM fora do Brasil vem alcançando o objetivo de internacionalizar o Fórum trazendo novas visões e realidades ao temário de discussão. "Observamos uma predominância de delegações de países asiáticos nesse fórum, com muitas questões próprias desses povos como a luta pela liberdade do Nepal, as questões de gênero apresentadas pelo Vietnã e a reconstrução do pais como apresenta o Timor Leste. Outra novidade é a transversalidade na discussão de temas de interesse comum entre os povos asiáticos que praticamente inexiste e tem sido proporcionada e estimulada no ambiente do FSM. Esses povos, talvez por suas enormes e milenares diferenças de cultura não têm pratica em tratar temas de interesse comum, como é o caso do Brasil e dos demais países do Mercosul. O FSM tem propiciado essa pratica". Ele ressalta a grande participação brasileira nesse FSM, com a participação em inúmeras oficinas, painéis e na grande quantidade de delegados presentes como um ponto importante para o aperfeiçoamento e crescimento da participação de estrangeiros no FSM de 2005, que será realizado em Porto Alegre. "Nossa presença também vem tendo a função de interagir com as delegações de outros países, buscando formar parcerias e redes para a participação conjunta no FSM 2005. A entidade que presido, a FNA, vem participando desde 2001 do Fórum com a organização de oficinas e estandes. Aqui na Índia já acertamos a realização de inúmeros eventos em conjunto com organizações estrangeiras para Porto Alegre em 2005", disse.Na opinião do coordenador da comitiva, arquiteto Itamar Kalil, o Fórum em Mumbai repetiu positivamente o que aconteceu no Brasil nas três últimas edições. "Todo o espírito e clima do FSM, que é uma espaço para apresentação de todas as manifestações, está aqui. Acho que nasce na Índia perspectivas para que sejam apontados outros caminhos. Estamos aguardando a repercussão deste primeiro Fórum fora do Brasil, o que é muito importante para o seu caráter de evento mundial. E o que sem dúvida trará uma nova dimensão para as questões asiáticas, predominantes neste evento".Kalil entende que a grande lição que o Fórum traz é o respeito as diferenças. "Sem dúvida existem enormes diferenças entre o Brasil e a Índia. Pelo tamanho dos países, pelas populações, culturas, crenças religiosas. Isso tudo dá dimensões diferentes a problemas com muitas semelhanças, como saneamento, transporte, habitação, alimentação, desemprego, enfim setores que interferem diretamente na qualidade de vida. Com certeza, as duas nações têm muito a se ajudar e esse é um dos objetivos do Fórum". Bety Rita Ramos
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