Pronto Socorro melhora, mas ainda contém graves problemas

Cuiabá (MT), quarta-feira, 20 de agosto de 2003. As irregularidades ainda são grandes no Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC). No corredor de observação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o forro cedeu e as instalações elétricas e hidráulicas estão expostas. O engenheiro eletricista Mário Marcio Ponce da Costa constata o perigo. As tomadas do condicionador de ar estão acima do forro, o que é errado. Ele explica que o local apropriado seria a uma altura acessível. "Da maneira que está, se tiver um curto circuito, a UTI pega fogo", acrescenta.Essas são algumas das falhas encontradas pela vistoria que a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) realizou no estabelecimento no início de agosto, dentro da campanha de vistoria em hospitais de Cuiabá e Várzea Grande. Houve melhoras, em comparação com visita semelhante ocorrida no ano passado, por solicitação da Promotoria da Infância e da Juventude. Mas o estado do hospital ainda está aquém do ideal.O sistema de condicionadores de ar da UTI geral e neo-natal é inadequado ao ambiente. A situação mais preocupante é do centro cirúrgico, que tem uma única casa de máquina para as cinco salas de cirurgia, com o agravo de não possuir filtro. "A contaminação transita de uma sala para a outra. O ar do ambiente está contaminado", denuncia Carlos Fernando Silva, engenheiro mecânico e consultor do Crea. Foram exigidos os planos de manutenção dos aparelhos. A direção disse estar reformando as dependências do hospital e viabilizando os projetos de manutenção. Mas Carlos Fernando Silva orienta que não adianta ter apenas o plano de manutenção, pois o sistema tem que ser compatível com o ambiente e suas atribuições. A limpeza também não é o forte do local. Os estagiários brincam com a situação: As baratinhas usam até jaleco. Só falta ajudar a empurrar a maca. Justiça seja feita, a FPI não encontrou baratas no HPSMC. O trânsito de pessoas é grande e os banheiros são fétidos. As roupas de cama, insuficientes. É comum se ver lençóis amarelados e sujos forrando as macas. A recuperação fica cada vez mais difícil e o enfermo mais enfermo.A UTI tem mais pacientes do que leitos. São cerca de 10 pacientes na fila pela internação. No dia da fiscalização havia uma vaga e cabia ao médico atestar quem tinha mais chances de viver. Nesta hora, a pressão das famílias chega a ultrapassar o limite.O médico corre para aplicar um medicamento supervisionado em um paciente que deveria estar na UTI, mas, por falta de vaga, está no Pronto Atendimento (PA). A médica Maria Cristina Fortuna, do Sindicato dos Médicos, fica estarrecida com a situação. "E, se no momento em que ele estiver no PA, um paciente da UTI precisar de cuidados urgentes? Ele não pode ficar fazendo este caminho", declara. Sem mais delongas, o médico sai às pressas pelo corredor. O doente espera.Os problemas começam na chegada - Já na recepção do Pronto Socorro, a engenheira de Segurança Marly Vasconcellos, da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), teve que repreender os responsáveis por uma reforma. Os trabalhadores estavam de chinelo, sem máscara ou demais equipamentos de segurança. A empresa que terceirizava a pintura também não exigia dos funcionários os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Dentro do hospital, a falta de esterilização das roupas dos trabalhadores é uma das questões exigidas por Marly. "As roupas sujas durante o atendimento devem ser lavadas no hospital. Caso o funcionário leve para casa, pode contaminar toda a sua família", esclarece.A terceirização de lavagem e demais serviços de roupa somente acontece na UTI. Marly cobra a terceirização também para o PA como forma de reduzir a possibilidade de contaminação hospitalar. No entanto, os administradores do hospital alegam que não encontram empresas interessadas em prestar o serviço, porque na perda de uniforme é grande, gerando prejuízo.A quantidade de trabalhadores terceirizados, estagiários, entre outros sem direitos empregatícios é um dos alvos da DRT na ação. "Não se pode deixar de contratar um profissional para se contratar um estagiário. O grande número de terceirizados pode mostrar que não há interesse da administração em se comprometer com direitos do trabalhador".Alguns funcionários não estavam com as vacinas obrigatórias em dia. As principais são as de Hepatite B e anti-tetânica. Por estar em contato direto com a doença, os trabalhadores da área de saúde devem ser mais cuidadosos com esta questão. O uso do EPI adequado também é fundamental. Os maqueiros e funcionários da limpeza, setores mais resistente ao uso do EPI dentro do hospital, têm que utilizar todo aparato exigido. A DRT solicitou cursos e orientação para os funcionários. Um dos maqueiros interrogados pela engenheira de Segurança não trabalhava com todos os EPIs e não era vacinado. Minutos após a conversa, ele já estava com todos os equipamentos de segurança exigidos. Em pouco tempo, a direção do hospital resolveu o problema. No que diz respeito ao conforto do trabalhador, a situação melhorou. Na FPI realizada em setembro de 2002, foram exigidas reformas na áreas de descanso dos profissionais. A reforma está incompleta. No entanto, os profissionais que antes dormiam em um colchão no chão, possuem quartos, com cama, banheiro e ventilador. Adriano José Furtado, agente de Fiscalização do Crea, diz que a última visita foi muito trágica. "As pessoas tomavam soro jogadas no chão. Tinha uma senhora que estava com o sol da tarde no rosto, e jogada no corredor". O agente reconhece a dificuldade que uma instituição pública tem para se adequar devido a processos burocráticos.O trânsito dentro do estabelecimento não é facilitado para o doente. Nas escadas, mais de 50% das lâmpadas estão queimadas. Andar de elevador é um perigo porque o sensor da porta é mecânico. O ideal será o sensor ótico. Caso contrário, a porta mecânica pode atingir o paciente com violência.O tenente do Corpo de Bombeiros, José Carlos da Silva Costa, se queixa da antiquada construção do prédio, que sofreu poucas adaptações durante o tempo. "Os extintores estão em dia, mas as sinalizações de saídas em caso de incêndio ou pânico deixam muito a desejar". Caroline Rodrigues - Crea-MT