Brasília, 16 de fevereiro de 2024.
Instrumento muito mais preciso, a edição gênica conta com uma enzima – a Cas9 - que atua como uma espécie de tesoura molecular, responsável por “quebrar” o DNA do organismo, possibilitando ao cientista editá-lo da forma que melhor lhe convier. “Você consegue trocar as bases nitrogenadas, inserir novas sequências ou simplesmente desligar genes indesejáveis”, explica a eng. agr. Liliane Henning, pesquisadora da Embrapa.
Se estivéssemos falando de um livro, é como se a transgenia fosse quando mudamos uma frase inteira de lugar, e a edição gênica fosse quando alteramos as letras dentro das palavras. Assim explicaram os pesquisadores do Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), a eng. agr. Juliana Yassitepe e o biól. José Hernandes.
Com a edição gênica, consegue-se aprimorar a qualidade nutricional dos alimentos, diminuir o óleo na soja, por exemplo, e fazer com que as plantas fiquem mais resistentes às intempéries climáticas. No final do ano passado, Juliana, José e o biólogo Ricardo Dante publicaram, na revista "Frontiers in Genome Editing" um estudo sobre o novo protocolo que desenvolveram para acelerar a edição gênica do milho tropical.
Linhagens de milho tropical são normalmente menos suscetíveis à transformação genética, mas no novo protocolo da equipe do GCCRC, foi utilizado um gene regulador morfogênico, que estimula a regeneração das plantas transformadas. Os testes foram realizados com cinco linhagens de milho tropical, e três delas foram transformadas com sucesso, com taxas de eficiência de 6%. “Parece pouco, mas esse número é muito bom perto do que vinha se conseguindo”, compara Hernandes.
Já a agrônoma Liliane Henning, junto do também pesquisador da Embrapa agr. Alexandre Nepomuceno, desenvolveu uma soja tolerante à seca, por meio da tecnologia de edição gênica CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats). A espécie foi considerada “convencional” pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Isso significa que ela será comercializada como um produto não transgênico.
“A CTNBio estabelece todos os critérios, pesquisa, transporte, liberação comercial... Para garantir biossegurança de organismos geneticamente modificados, como a soja transgênica, é necessário passar por uma avaliação da CTNBio, para ver se esse organismo apresenta algum risco, e só depois dessa avaliação é que esse alimento estará apto para ser colocado no mercado. Quando se trata de um transgênico, ele precisa passar por uma avaliação de risco, apresentamos dados de diversos testes que são feitos, e isso estende prazo e custo para colocar um novo produto no mercado. Com as plantas convencionais, não é exigida toda essa análise de risco. Uma planta editada tem as mesmas características de uma planta convencional, você garante a biossegurança, mas reduz tempo e custo para colocar no mercado”, explicou Liliane.
A agrônoma e pesquisadora pensa em incluir milho, cana e feijão em suas próximas pesquisas e acredita que a edição gênica pode trazer um impacto similar ao que ocorreu com os transgênicos. “O transgênico trouxe um benefício muito grande, no manejo com insetos principalmente. O importante é que o produtor tenha opções de tecnologia para escolher aquilo que melhor se adapte à sua condição”, pontuou.
Beatriz Leal Craveiro
Equipe de Comunicação do Confea
Imagens: Divulgação GCCRC / ANteo - Arquivo Embrapa Soja