Gestão da água é assunto de painel que discute futuro hídrico no Brasil

Gramado, 10 de agosto de 2023.
 

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Auditório Chimarrão comportou grande público para discussões técnicas sobre água

 

Participação ativa e descentralização foram os termos-chave que conduziram o painel “Política Nacional de Recursos Hídricos”, atração realizada no lotado auditório Chimarrão, na tarde desta quinta-feira (10), penúltimo dia da 78ª Soea.

A primeira palestra do painel, de tema homônimo, trouxe o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro), eng. civ. Cristovão Vicente Scapulatempo Fernandes, para dissertar sobre as características que acompanham a Política Nacional de Recursos Hídricos, a PNRH.

Instituída em 1997, a PNRH definiu novos mecanismos para a gestão de recursos hídricos no Brasil, adotando um caráter descentralizador ao instalar comitês de bacias hidrográficas que une poderes públicos das três instâncias, além da integração do governo federal com os estaduais.

Apesar da política pública implantada há 26 anos, Cristóvão dissertou de forma muito bem-humorada como ainda há tanto para se avançar culturalmente no assunto. “Ninguém presta atenção na água, a não ser em eventos negativos quando se falta ou quando surgem enchentes. Isso precisar mudar porque a água, como recurso, precisa ser monitorada assim como monitoro meu genro ao redor da minha filha”, brincou, levando o auditório aos risos.

“Sempre resumo a hidrologia à incerteza”, definiu Cristóvão ao argumentar sobre a necessidade do monitoramento adequado dos processos que envolvem o uso da água. “Vivemos um momento de insegurança hídrica, e se não inovarmos, vamos acirrar os conflitos que tangem a forma como utilizamos a água”, disse.

Cristóvão concluiu urgindo por mais união dos responsáveis e a promoção da chama ciência cidadã. “Todos nós precisamos nos envolver com as questões da água e os atores convergir nos comitês das bacias hidrográficas para pensarem em consenso”.

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Cristóvão trouxe a Política Nacional de Recursos Hídricos para discussão na 78ª Soea

Desafios da irrigação

Na sequência, apresentou-se no palco o eng. civ. Cylon Rosa Neto, presidente do Fórum de Infraestrutura do Rio Grande do Sul. Com o tema “Segurança Hídrica: Soluções para Irrigação em Períodos de Estiagem no Rio Grande do Sul”, Cylon expôs os entraves que impactam a reserva de água no estado gaúcho.

“Nosso grande problema é a sazonalidade, e por isso teremos que executar um projeto de irrigação de longo prazo, em algum momento”, propôs. “Todos os países prósperos têm seus projetos de irrigação porque eles têm noção da ciência da sobrevivência, coisa que também precisamos cultivar no Brasil”.

Cylon também convocou os participantes a serem mais protagonistas em busca de uma resolução adequada ao problema. “Nós, engenheiros, somos a solução. É preciso traçar um plano de segurança hídrica, e somos nós quem devemos fazer pois temos iniciativa e capacidade técnica para executar”, incitou.

 

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Dificuldades em projetos de irrigação no Rio Grande do Sul foi o foco da palestra do eng. civ. Cylon Rosa Neto

Hidrogeologia

Concluindo a sequência de palestras, foi a vez do presidente do núcleo mineiro da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas-MG), geol. Maurício Bertachini, com sua apresentação “Pesquisa Hidrogeológica para Segurança Hídrica”.

Apesar de a segurança hídrica estar de volta numa nova palestra, agora o tema foi explanado da perspectiva das águas subterrâneas e toda ciência hidrogeológica em seu entorno. Ao contrário da hidrologia, que propõe o estudo das águas superficiais, a hidrogeologia tende a analisar o comportamento e impactos da água presente abaixo do solo e pelo ambiente geológico.

“Entendemos que a água subterrânea também faz parte de um ciclo de processos que afetam a nossa vida, e a pesquisa hidrogeológica até conta com uma máxima da hidrofísica que se propõe a ‘tornar o invisível, visível”, explicou.

Maurício ainda mostrou rapidamente algumas ferramentas e inovações que podem, e devem, ser usadas como instrumentos de forma a se aprimorar o monitoramento dessas águas, e assim, obter análises e resultados mais assertivos.

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Maurício explicou algumas características da hidrogeologia e como ela pode ajudar na gestão dos recursos hídricos

Ao fim do painel, foi proporcionado um espaço para sanar algumas dúvidas da plateia, bem como uma maior discussão sobre o assunto entre os painelistas, com a mediação do conselheiro federal, eng. amb. Vinícius Ribeiro. Os palestrantes também foram agraciados com seus respectivos certificados pela participação no evento, entregues pelas mãos do conselheiro Vinícius.

Reportagem: Felipe Moreno (Crea-AL)
Edição: Fernanda Pimentel (Confea)
Equipe de Comunicação da 78ª Soea
Fotos: Studio Feijão e Lentilha e Marck Castro/Confea