Mumbai (Índia), terça-feira, 20 de janeiro de 2004. O quê já existiu, o quê existe de comum entre o Brasil e a Índia? E o que é possível existir? Para tentar responder a essas perguntas, um grupo misto de pesquisadores e professores indianos e brasileiros chamado Ação Crítica, organizou no dia 19 de janeiro, dentro do IV Fórum Social Mundial (FSM), no Centro de Convenções Nesco Ground, em Mumbai na Índia, a oficina "Construindo Pontes entre o Brasil e a Índia". As engenheiras Elequicina Maria dos Santos, presidente do Crea-RN, Maria José Balbaki, conselheira federal pelo Crea-TO e o eng. Gustavo Lange, presidente do Crea-RS, integrantes da comitiva do Sistema Confea/Crea no Fórum, participaram da oficina e do acirrado debate que seguiu as palestras.De acordo Carlos Gohn, primeiro palestrante e professor de Português e Cultura Brasileira da Universidade de Nova Delhi, muitos temas ligam os dois maiores países tropicais do mundo como cultura, carnaval, futebol, tecnologia da informação, entre outros. Ele disse que muitos autores literários brasileiros já têm suas obras traduzidas na Índia, despertando muito interesse na população local. Entre eles citou Cecília Meireles e Carlos Drumond de Andrade.Mudando de cultura para saúde, Gohn disse que um desafio comum para os dois países é o enfrentamento da Aids. "Ambos estão trabalhando incansavelmente na pesquisa de remédios para a cura da doença e um acompanha o avanço do outro", informou. Ele disse também que na área da tecnologia já é fato a realização de negócios entre os dois países. A Embraer acaba de vender aviões para a força área indiana.O Secretário de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Itamaraty, Clodoaldo Hugueney, segundo palestrante da oficina, disse que o constrangimento pelo qual os países pobres e em crescimento estão passando, imposto pela nova ordem econômica mundial, está levando-os a buscar saídas, a se aproximarem uns dos outros. "Isso é basicamente o que tem unido a Índia e o Brasil. Eles têm percebido que é necessário introduzir mudanças na economia mundial. O FSM é apenas um episódio nessa longa relação", ressaltou.Hugueney deixa claro que a relação ente Brasil e Índia floresceu e está crescendo em ritmo acelerado. Os investidores indianos estão apostando no Brasil e vice-versa. Segundo ele, o Programa Brasileiro de Combate à Aids, citado pelo professor Gohn, já tem a Índia como parceira há algum tempo. Já existe uma mútua cooperação. O Brasil está importando remédios mais modernos já descobertos e fabricados pelos indianos para o combate à doença.Parceria - O secretário acredita que Índia e Brasil têm muito a ganhar com a parceria. "O Brasil tem grandes desenvolvimentos em matéria de indústria aeronáutica, siderurgia, arquitetura - que é primorosa - engenharia de reputação internacional e que podem ajudar a Índia. País, que por sua vez, tem muito a contribuir com o Brasil".Ele lembra que a Índia, que assusta pela miséria exposta nas ruas de Mumbai e outros grandes centros, é de uma complexidade imensa onde se tem níveis grandes de pobreza e uma elite científica e intelectual extremamente sofisticada, que não existe no Brasil, produzindo maravilhas em termos de softwares, indústria farmacêutica, biodiversidade e no aproveitamento de conhecimentos tradicionais, entre outros setores. "Os dois países vão se desenvolver mais a partir dessa parceria", garante.De concreto entre os dois países já existe um comércio que vem crescendo a taxas muito grandes. Cresceu 80% o ano passado com relação ao ano anterior. O Brasil vem se transformando num exportador de produtos agrícolas e manufaturados para a Índia. "Tem muita coisa de concreto no plano político também", acrescenta o secretário. "É uma relação antiga que vem se desenvolvendo, não só pela via bilateral, mas também por organismos internacionais onde os dois países sempre cooperaram muito", diz endossando ainda as palavras do professor Gohn com relação ao plano cultural.Para Hugueney o fato dos dois países terem herdado a presença dos portugueses, que descobriram o Brasil a caminho para a Índia, é muito significativo. "Éramos um ponto de passagem na grande rota portuguesa para a Índia. Tem elementos desde o século XVI unindo os dois países, que se tornam mais concretos na medida que existe mais comércio, mais investimentos, mais relações empresariais, que estão sendo solidificadas, a nível das sociedades, com o Fórum Social sendo realizado em Mumbai depois de três anos em Porto Alegre e com a visita histórica do Presidente Lula à Índia".Grupo de Três - O G3, grupo que reúne Brasil, Índia e África do Sul é uma proposta brasileira em vias de fromalização com os dois outros países durante a visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já agendada para essa região do mundo, nos próximos dias. Objetiva a inserção de representante do Grupo no Comitê Internacional das Nações Unidas e o livre comércio entre os três países.Hugueney destacou que o presidente Lula chegará à Nova Delhi, capital política, 25 de janeiro, Dia da República Indiana e que é a primeira vez que um chefe de Estado é convidado para festa nacional local. Lula deve visitar Mumbai, capital econômica, no dia seguinte.Bety Rita Ramos
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