Jorge Simplício de Holanda

Engenheiro Agrônomo, pela Universidade Federal Rural do Semiárido, em 1975; Mestre em Solos e Nutrição de Plantas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1981; Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, pela Universidade de São Paulo, em 1996.


Nascimento: Severiano Melo, Rio Grande do Norte, 2 de março de 1952
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Norte (Crea-RN) 

Conhecer a biografia do engenheiro agrônomo José Simplício de Holanda demanda inevitavelmente saber da cajucultura do Rio Grande do Norte. Numa conversa sobre a diversificada carreira, o doutor em Solos e Nutrição de Plantas se anima mesmo diante da pergunta: “E a pesquisa sobre caju, como é?”.

A resposta é devolvida com entusiasmo: “Chegamos à história do caju!”.   E se em algum momento a prosa avança para outro tema, Simplício logo corrige o rumo: “Vamos voltar para o caju que é mais importante, vamos?”. Daí a conversa segue por horas desvendando a curiosa questão: como a carne de caju pode ser transformada em carne de cordeiro?

O Anacardium occidentale, mais conhecido como caju, é originário do Norte-Nordeste do Brasil e se caracteriza por ser dividido em dois pedaços: castanha, que é o fruto propriamente dito, e o pedúnculo ou pseudofruto, a parte principal desta história. Por seu elevado valor nutritivo, o pedúnculo ganha espaço nas fábricas de sucos e doces. No entanto, estima-se que somente no Nordeste o desperdício chegue a 60%. Aqui está a origem da inquietação de Simplício: “Estranhava ver aqueles produtos jogados na margem das estradas. Aquilo chamava atenção porque eu achava que o pedúnculo tinha valor. Foi por aí que enveredei a pesquisa”.   

Ampliar o percentual de aproveitamento do pedúnculo passou a ser o desafio. Atento ao potencial proteico da matéria-prima e sabendo que a safra coincide com a estação de escassez de pastagens no Semiárido, Simplício não hesitou em agregar o bagaço do caju à alimentação de ruminantes. “Foi um achado, considerando que os resíduos de pedúnculos podem conter até 17% de proteína bruta, conforme o tipo de processamento do bagaço”, comenta o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lotado na Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). Apesar do potencial para suplementação, ainda assim o pedúnculo demandava intervenção tecnológica. “Corrigimos o caju para atender a alimentação animal”, conta ao explicar que as deficiências minerais, especialmente de fósforo e cálcio, foram reparadas a fim de balancear a ração e melhorar a palatabilidade.

“Vou terminar meus dias vendo uns carneirinhos e produzindo caju”

Os experimentos foram iniciados e, logo, os resultados surpreenderam. Nas unidades demonstrativas com terrenos secos e em condições adversas de forragem, o manejo sem suplementação ocasionou aos ruminantes perda diária de 10 gramas de peso, e em algumas localidades chegou a 30 gramas por dia. Já aqueles que receberam ração enriquecida com bagaço de caju tiveram ganho médio de peso de 92 gramas por dia. “Houve um caso campeão no município Severiano Melo em que o carneiro ganhou 250 gramas de carne por dia, ou seja, a cada quatro dias ele ganhava um quilo”.

Em testes comparativos entre ração convencional e de caju não foi registrada diferença de taxas de engorda. Entretanto, houve redução de 23% nos custos. “Esse foi o ganho social da pesquisa”, comenta ressaltando a viabilidade financeira da tecnologia, especialmente quando se pensa que o preço da alimentação animal é uma preocupação para os criadores. “Em um levantamento na Serra do Mel, identificou-se que 45% dos produtores usam bagaço de caju na ração, sendo que no tempo seco 100% utilizam”, relata com a satisfação de escrever uma trajetória em que ele atua como incentivador da sustentabilidade por meio do reaproveitamento da matéria-prima, além de ser agente direto do desenvolvimento da economia local e da melhora da qualidade de vida da população.

E se depender do encantamento do engenheiro agrônomo pela cajucultura, esta história continuará em tantas outras páginas, onde será registrado o êxito de pesquisas com clones de cajueiros mais produtivos e guardadas lembranças de momentos desfrutados no sossego da vida interiorana. “Vou terminar meus dias vendo uns carneirinhos e produzindo caju”, planeja Simplício. 


Trajetória Profissional
Chefe da Unidade Regional de Pesquisa da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte – Emparn de Mossoró (1981-1986) e de Caicó (1987-1990); Destaque Agronômico Adubos Trevo (1985); Assessor técnico científico dos comitês das publicações Embrapa Semiárido (desde 1989), Revista Brasileira de Engenharia Agrícola (desde 1999) e Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira (desde 2000); Prêmio Associação Norte-Rio-Grandense de Engenheiros Agrônomos (1991); Professor visitante do curso de pós-graduação na área de geociências na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (1996-2004); Chefe de Gabinete da Presidência da Emparn (1997-1998); Responsável técnico da Emparn junto ao Crea-RN (desde 2004); Secretário adjunto de Agricultura do Rio Grande do Norte (2011-2013); Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Emparn (desde 2014); Produção científica de mais de 100 artigos, livros, textos em jornais, trabalhos publicados em anais de congressos, cartilhas, além de orientação de dissertação e tese e participação de bancas de mestrado e doutorado.