Brasília, 16 de fevereiro de 2022.
“Lugar de mulher é na Engenharia”. Vestindo a camisa com esse slogan, o presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, denunciou, mais uma vez, a desigualdade de gênero no Sistema Confea/Crea e Mútua, ao abrir o Painel do Programa Mulher, na tarde desta quarta (16/2), durante o 11º Encontro de Líderes Representantes do Sistema Confea/Crea e Mútua, em Brasília.
O evento foi marcado pela apresentação da composição do Comitê Gestor do Programa Mulher para 2022 e pelas palestras da Promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte, Érica Canuto, sobre “Homens e mulheres no Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar” e “O dia a dia da inclusão feminina no mercado de trabalho”, com a engenheira agrônoma Laisla de Gouveia, coordenadora de Sustentabilidade do Ifood, e por uma mesa-redonda sobre “A experiência com implantação em política de gênero nos Creas e em entidades”, conduzida pela presidente do Crea-RS, eng. amb. Nanci Walter, com as coordenadoras do Programa Mulher dos Creas Amazonas, eng. pesca Alzira Miranda, e Mato Grosso do Sul, eng. ftal. Mariana Amaral; a presidente do Crea-RN, eng. civ. Ana Adalgisa; a vice-presidente da Fisenge, eng. civ. Elaine Santana Silva, e a presidente da Associação de Mulheres Profissionais do Sistema Confea/Crea e do CAU – AMP (AM), eng. civ. Kelly Ambrosio Neto.
“Procuramos vestir a camisa, que é uma demonstração da força da mulher na Engenharia, da força da mulher na sociedade. O Programa Mulher não é só para a mulher profissional, é para a mulher na sociedade onde a mulher está inserida. O problema ocorre de maneira generalizada. Prioritariamente, é em relação à mulher profissional, mas o Programa não está isolado da sociedade”, disse, saudando todos os presentes. “Esse auditório lotado demonstra que a nossa expectativa foi plenamente atendida. Espero que no próximo ano seja em um auditório maior, e também na Soea (77ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia, a ser realizada em Goiânia, de 4 a 6 de outubro)”, comentou.
Krüger apresentou as campanhas publicitárias e um resumo da atuação junto a entidades nacionais e internacionais, convidando os participantes a engajarem-se na programação do Dia Internacional da Mulher, 8 de março. “Estarei na reunião da Federação Mundial de Organizações de Engenheiros (FMOI), na Costa Rica, levando o tema da mulher nessa atuação geral. E seria importante que a gente tivesse ações coordenadas”, disse, convidando todos a participarem de um ato de valorização da mulher, durante o lançamento da 77ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia – Soea, um pouco mais tarde, às 18h30.
Para Joel, a preocupação com a participação feminina precisa ser permanente e é necessário ocupar espaços de direito às mulheres em toda a sociedade brasileira, como em relação à crítica ao vídeo misógino que levou a uma nota de repúdio do Programa, na semana passada. “Nós nos colocamos em repúdio ao vídeo. Mas aquilo é o dia a dia. Chamou atenção porque tinha um grande acidente, porque apareceram engenheiras e porque um deputado se manifestou. Mas aquilo apenas centralizou tudo aquilo que ocorre no dia a dia. Quando começaram as notas, elas irradiaram pelos Creas, a Mútua e as entidades”, diz.
“Esse é o Programa Mulher, a força que nós temos”. Joel ressalta que o programa, criado em 2019, está hoje nos 27 Creas. “E amanhã vamos fazer uma reunião das 27 comissões estaduais. Queremos ouvir o que o Comitê deve fazer. Queremos fazer um grande coletivo, um enorme movimento. Sabemos que alguns Creas andaram um pouco mais rápido. Outros têm dificuldades estruturais e outras. Mas será a oportunidade de ajudarmos quem está tendo dificuldade para que todos possam atuar em uma linha mais igualitária em todo o Brasil”, apontou, comentando que a pandemia de covid-19 prejudicou essa organização e que em todos os grandes eventos do Sistema será obrigatória uma reunião do Programa Mulher. “Esse é o único evento paralelo do Encontro de Líderes. Procuramos alinhar o Programa Mulher ao ODS 5 da Agenda 2030 da ONU e a outros objetivos que atuam de maneira indireta”.
DNA e conceitos
Segundo o presidente do Confea, o DNA do Programa Mulher começou a ser implantado quando ele era presidente no Crea-PR e criou o Comitê Mulher. “A primeira coordenadora foi a engenheira Célia, vice-presidente. Hoje é a Carlise. Também a Márcia Laino, conselheira suplente do conselheiro Daniel Galafassi, coordenou o Comitê Mulher”, disse, enumerando ainda que hoje o conselho conta ainda com as conselheiras federais adjuntas Alzira Miranda e Marjorie Nolasco e com as titulares Andréa Brondani e Michele Ramos. “Sempre considero que temos cinco conselheiras federais”.
Em seguida, enumerou alguns conceitos do Comitê Gestor. “Ontem e hoje, vocês observaram que nós procuramos trazer um conceito diferente para o Sistema. Não devemos falar de nós para nós mesmos o tempo todo, senão não mudaremos nada. Precisamos ter outros interlocutores falando de maneira diferenciada. E isso, a gente também quis implantar no Comitê Gestor. Não poderia ser apenas falando para as mulheres. Isso é muito salutar porque se colocamos que os problemas das mulheres estão relacionados com os homens, e se queremos mudar, precisamos colocar para os homens. Esse é um conceito que trabalhamos de maneira significativa”, descreveu.
Joel acrescentou ainda que, quando o comitê gestor foi formatado, ele disse que queria presidi-lo como sinal político “para que esse fosse um sinal estratégico da nossa gestão. Para que a gente pudesse criar não algo que fosse apenas um grupo de trabalho. Precisávamos mais do que isso. Queríamos uma grande mobilização das profissionais e das mulheres. A primeira necessidade era a organização de um grande programa com apoio fortíssimo dos 27 presidentes de Creas, que o implementaram, respeitadas as particularidades de cada um. Estamos empenhados que a Mútua também possa mobilizar suas caixas e que façam propostas ao Comitê Gestor. Quanto mais organizados, mais fácil isso se torna, para que não voltemos mais atrás, com todos os futuros presidentes incorporando essa pauta para que seja perene e não algo episódico”.
Integração e igualdade
Gerente de Relacionamentos Institucionais do Confea, o engenheiro ambiental Renato Muzzolon Júnior lembrou que o Programa Mulher está sob o escopo da gerência e que deseja “aprender com as mulheres que estão aqui e fortalecer o programa no Sistema”. Assessora da presidência do Confea, a engenheira química Simone Baía agradeceu a iniciativa, uma “ação institucional do Confea a que todos os Creas têm aderido”. Para ela, o Programa vai impactar a sociedade e a engenharia como um todo. “É importante para homens e mulheres, para ter uma sociedade justa e igualitária, valorizando a equidade de gênero”.
Também integrante do Comitê Gestor do Programa Mulher desde 2019, a exemplo de Simone Baía, a engenheira civil Flávia Roxin manifestou que, ao se despedir do Comitê, está muito feliz de ter participado e contribuído com os trabalhos. “Queria agradecer por todos os Creas terem acreditado nesse Programa, que vai ao encontro do sentimento de todas as profissionais do Sistema de buscar ter mais igualdade de direitos, como está na Constituição Federal. Estejam ativos para que os programas nos seus estados funcionem”.
Representante do Cden, a engenheira agrícola Gizele Gadotti fez uma breve prestação de contas como representante do Colégio de Entidades Nacionais – Cden. “Fizemos a ação de o Cden organizar o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, foi um sucesso. Há muito a ser feito junto a esse tema que é muito pertinente, temos um trabalho árduo a fazer. Motivem e provoquem os presidentes das suas entidades para que a gente possa ter mais mulheres nas presidências das nossas associações. Atualmente, somos apenas duas mulheres entre as 23 entidades do Cden. Nós nos colocamos à disposição para que a gente possa construir algo relacionado com isso”, disse a presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Agrícolas (Abeag).
Diretora administrativa da Mútua, a engenheira agrônoma e ex-presidente do Crea-PB, Giucélia Figueiredo comentou que a tribuna já mostrava a compreensão sobre a importância da luta da defesa do protagonismo da mulher na engenharia. “Luta de homens e mulheres. Aqui está a síntese do nosso pensamento. Com essa maturidade política estamos consolidando a maior ferramenta para nós humanizarmos o nosso Sistema Confea/Crea e Mútua, mostrando seu enraizamento”, disse, saudando as diretoras e diretores do Programa.
“Estamos em um momento em que a violência contra a mulher está palpável. A violência existia, mas era colocada debaixo do tapete. Ficávamos calados. E isso se refletia no nosso Sistema”, disse, parabenizando a fala do presidente Joel Krüger, na abertura do Encontro contra a agressão sofrida pelas engenheiras da obra da linha 6 do metrô após seu desmoronamento. “Estamos construindo sim um novo tempo no nosso Sistema”, acrescentou, parabenizando as mulheres presidentes de Creas e lembrando a discriminação sofrida durante a sua gestão à frente do Crea-PB. “Estamos trilhando o protagonismo da mulher. Temos que dizer em alto e bom som: nós podemos fazer, podemos estar onde quisermos”, ressaltou, informando que a Mútua trabalha com políticas específicas que serão ofertadas oportunamente para as profissionais do Sistema.
Representação e empoderamento
Também membro do Comitê Gestor em 2022, o engenheiro químico Marino Greco considerou que acompanha o trabalho do colegiado desde o ano passado. “Tenho a honra de estar no Crea-RS na gestão da presidente Nanci e de estar no maior sistema profissional onde o presidente Joel tem feito muito nesse Comitê Gestor. Queria muito participar. Sou engenheiro químico e a engenharia química é a que mais tem mulheres presentes. Tive na minha vida profissional várias chefes e líderes, responsáveis por muito do que me tornei profissionalmente. Espero representar as coordenadorias da melhor maneira possível e contem com a nossa dedicação”, disse o ex-coordenador nacional da Coordenadoria de Câmaras Especializadas de Engenharia Química, em 2021.
Em substituição a Giucélia como representante da Mútua no Comitê, a eng. civ. Karen Daniela Miranda apontou ser um prazer representar a Caixa de Assistência aos Profissionais do Sistema, em continuidade à atuação da diretora da Mútua. “A gente tem que falar para presidentes e homens, mas não estamos aqui para disputar espaço com homens, temos o nosso espaço por competência. O empoderar-se é ocupar o nosso espaço. A gente quer passar para cada Mútua para ter esse equilíbrio na participação. Temos competência, a gente sabe o nosso espaço. Estamos aqui por todas nós”, disse, convidando as colegas para participar junto às entidades.
Presidente do Crea-RS, primeira mulher a dirigir o regional “no estado mais machista do Brasil”, a engenheira ambiental Nanci Walter considerou que “estamos acostumadas a ser poucas, mas sempre temos voz. Importante dizer isso. Atuamos com muito trabalho, muita dedicação. Os desafios são situações constrangedores que a gente tira de letra. A gente precisa ter um jogo de cintura maior”, disse, informando que sua representação do Colégio de Presidentes no Comitê Gestor do Programa Mulher será ocupada agora pela presidente do Crea-AL, eng. civ. Rosa Tenório, colocando-se à disposição para ajudá-la.
Conselheira federal, diretora do Confea e representante do plenário no Comitê, a engenheira mecânica Michele Ramos, que participa do Comitê Gestor desde 2019, lembrou o lançamento simbólico da Associação Feminina de Engenharia e Agronomia – Afeag e se disse honrada de representar o plenário do Confea. “Acho interessante que os homens estejam apoiando. É bom a gente também ter essa visão masculina em torno das nossas pautas. Percebemos que esse movimento tem ganhado força. Tendo o presidente Joel como gestor, mestre, coordenando e dando as diretrizes desse espaço que nós, mulheres, merecemos. Temos 27 coordenadoras em comitês gestores e é um prazer para que a gente tenha esse alinhamento. Temos vontade para poder fazer tudo isso”, destacou.
Convidado, o presidente da Mútua, eng. agr. Francisco Almeida, agradeceu a atuação de Giucélia no Comitê e desejou que Karen tenha o mesmo entusiasmo para levar essa bandeira em todo o país. Cumprimentando as participantes e o próprio presidente do Comitê Gestor, comentou que foi o Crea-GO o primeiro Regional a lançar o Programa Mulher, em sua gestão. “Além de chamar as nossas engenheiras e as agrônomas, chamamos todas as mulheres que estavam fazendo parte do conselho. Mais de 200 mulheres compareceram”, disse, informando que a Mútua dispõe de recursos para chamar as outras mulheres para participar dessa luta. “Precisamos ser protagonistas disso, inclusive em relação a outros conselhos profissionais. A Mútua está querendo chegar ao interior. Precisamos acolher todas essas mulheres que se dedicam e contribuem para o nosso desenvolvimento para fazer parte também desse Comitê. Para que a gente nunca mais possa ver comentários como o de duas semanas atrás”, ressaltou.
Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: André Almeida e Marck Castro/Confea