Perfil
O Estado do Pará ocupa em junho de 2017 o segundo lugar no ranking nacional de produção de cacau, com 40% da safra, contribuindo para o posicionamento do Brasil na quinta colocação mundial. Em 2016, o país produziu 214.065 toneladas de cacau em amêndoa, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Até dezembro próximo, a estimativa é de crescimento de 10,5%. Esse resultado é reflexo direto do trabalho de profissionais da Agronomia, grupo ao qual pertence Fernando Antonio Teixeira Mendes. O paraense estuda cacauicultura desde 1980, quando iniciou carreira na Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) sediada em Belém, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), onde é auditor federal agropecuário.
Ao longo da trajetória, Mendes percorreu caminhos da assistência técnica e extensão rural. Enveredou pelas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, concomitantemente com a atividade de magistério superior. Com participação em programas governamentais e vasta produção literária científica, coleciona mais de 130 artigos, capítulos de livros e trabalhos publicados em congressos. A obra mais recente da qual é organizador leva o título “A Cacauicultura na Amazônia: história, genética, pragas e economia” e foi lançada em 2017.
Nesse percurso, galgou o nível de doutoramento focado na questão da sustentabilidade socioeconômica das áreas cacaueiras na Transamazônica. A vida acadêmica ruma a Portugal, onde realiza em parceria com a Universidade de Coimbra o pós-doutorado sobre “O agronegócio cacau no Estado do Pará”. “Desse estudo resultará um livro acerca do papel de Portugal no desenvolvimento da produção cacaueira paraense”, adianta o pesquisador, para quem o projeto é uma homenagem aos portugueses. “Eles tiveram visão empreendedora quando em 1679, por meio da Carta Régia, autorizaram colonizadores a cultivar cacau nas terras brasileiras. Até então era apenas atividade extrativista”. Foi assim que, segundo o engenheiro agrônomo, saíram do Pará as primeiras sementes para a Bahia, onde o cacaueiro se adaptou bem ao clima e solo. “Nesse raciocínio, podemos dizer que o Pará projetou a Bahia para o topo do ranking nacional”.
De sua atuação no ramo de transferência de tecnologia, Mendes demonstra orgulho por dois trabalhos. Em 2010 levou sua experiência para a República do Congo, ao coordenar o projeto “Fortalecimento da produção de cacau”. “A transferência de conhecimento era para garantir a vida daquelas pessoas”. É nesse contexto que Mendes diz cumprir o amplo papel social da Agronomia. “Não sou um pesquisador stricto sensu. Não sou o gelo do pesquisador nem o choro do extensionista”. O outro trabalho refere-se às conquistas da Ceplac. “O banco de germoplasma da Comissão tem material genético de cerca de 25 mil variedades de cacau, obtidas a partir de 18 expedições botânicas”. A partir desse trabalho é feita a seleção das melhores qualidades de cada variedade para produção de híbridos, ou seja, um material de alta performance. “Já foram entregues 20 híbridos aos produtores”, conta.
Em reconhecimento a essa trajetória nos ramos do cacau, competitividade e economia agrícola, Mendes recebeu comenda da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Pará em 2008, Diploma do Mérito do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Pará em 2015 e neste ano é galardoado com Medalha do Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua.
Trajetória profissional
Na Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – Ceplac ingressou por concurso público na função de extensionista em Rondônia e Belém (1980), onde exerceu cargos de direção e administração, e atualmente é chefe do Centro de Pesquisa do Cacau; Trabalhou em oito projetos de pesquisa nas áreas de competitividade de agroindústrias de polpa de frutas e da indústria de móveis no Pará, consolidação de distritos industriais, previsão de safras na Transamazônica, dentre outros (1995-2017); Na Comissão Pró-Índio de São Paulo, foi consultor técnico na área econômica do projeto “Alternativas de manejo sustentado dos territórios quilombolos” (1996-1997); Consultor Técnico do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura, prestando consultoria na análise econômica do Procitrópicos, na realização do trabalho “Estudo Econômico Ex-ante das Principais Atividades Administrativas dos Subprojetos do P&DR Altamira” (1996); No British Council (Department for International Development-DFID), trabalhou na consultoria voltada para reorganização técnica e administrativa à Cooperativa dos Camponeses do Araguaia-Tocantins (1996); Professor titular da Universidade da Amazônia na área de Ciências Econômicas na graduação e mestrado (2000-2013); Revisor de periódicos técnicos (2004-2017), Coordenador do Prêmio Schuh da Sober (2010); Colaborador na Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (2010-2011); Conselheiro em Ciência e Tecnologia na Fundação Amazônia de Amparo à Pesquisa no Estado do Pará (2011-2017).