Eberhard Wernick

Geólogo pela Universidade de São Paulo (USP), em 1963; Doutor em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1967; Pós-Doutor em Microtectônica  pela Christían AIbrecht Universltãt Kie, Alemanha, em 1969


Nascimento: Berlim, Alemanha, 12 de junho de 1940
Falecimento: Maringá (PR), 29 de dezembro de 2017
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP)


O alemão naturalizado brasileiro Eberhard Wernick vem de uma família de engenheiros em que ele, ousadamente, optou por seguir pela profissão que lhe fazia brilhar os olhos: a Geologia. A viúva Anne Wernick recorda os 53 anos de convivência em que testemunhou a relevância que a profissão tinha em sua vida. “Ele conversava com as rochas e elas respondiam. Havia na relação dele com a geologia algo mágico”. 


No dia de sua morte, a neta Bruna Bontempi Wernick compartilhou um texto sobre a sua trajetória como profissional, ser humano e, certamente, um dos papéis mais importantes que desempenhou, como avô. Confira essa declaração de amor póstuma e as palavras de adeus ao querido “vô Wernick” por Bruna Bontempi Wernick. 


“Muitos o conheceram como o Dr. Eberhard Wernick, o professor com um gênio difícil, mas sempre um grande amigo e conselheiro. Falar dele como professor é fácil, se pegar seu “Lattes” para darmos uma olhada (que nunca mais foi atualizado desde sua aposentadoria em 2006) vamos encontrar uma carreira brilhante, “imortal” da Academia Brasileira de Ciências. Foi agraciado com a Medalha CNPq por sua contribuição à Ciência Nacional, com o Prêmio Martelo de Prata pela Sociedade Brasileira de Geologia e várias vezes como melhor professor do ano no Brasil, sem falar por volta das 150 publicações e seus resumos.


Autor de vários livros e mapas geológicos, foi também fundador do curso de Geologia da  Universidade Estadual Paulista (Unesp), introduziu novos métodos de pesquisa, criou o projeto de uma universidade virtual para o Mercosul, do qual resultou a criação da Universidade da América Latina em Foz de Iguaçu, começou um projeto parecido na Amazônia, visando à integração de todas as Universidades e algumas Organizações Não Governamentais (ONGs). Encontramos seu nome em projetos da National Aeronautics and Space Administration (NASA) e The European Space Agency (ESA), além de todos os trabalhos realizados após sua aposentadoria pelo Brasil inteiro, e sua presença anual no Encontro Nacional dos Estudantes de Geologia (EneGeo), pelo qual tinha tanto carinho, principalmente por seus alunos. Ah, os alunos eram sua paixão e o que sempre o motivou. Conheço tantos só de ouvi-lo contar incríveis histórias. A vocês, colegas geólogos e alunos, meu muito obrigada, vocês fizeram a vida dele ainda mais incrível. 


Eu tive a oportunidade de o conhecer como avô, e por isso sou eternamente grata. Que homem!  Desculpem-me os outros avós, mas o meu foi o melhor que já existiu. Minha mente agora é pura nostalgia.  Nossas viagens pelo Brasil sempre guiados pelo Dicionário Tupi-Guarani, as incansáveis brincadeiras, os ensinamentos sobre meditação, os passeios pelo Parque do Ingá, a mágica imaginação capaz de criar castelos e fortes, monstros e guerreiros no meio de um quintal, uma floresta tropical cheia de perigos em um carro cercado de trânsito, as aulas, as conversas, a boa culinária e sempre os bons drinks. Ele me tornou quem sou hoje. Os passeios pela sua absolutamente maravilhosa casa museu me fizeram apaixonada por História e curiosa pelo mundo. Seu entusiasmo pela leitura e conhecimento me fez viciada em livros e viagens, e talvez o que considero mais importante, com suas longas análises sociais e filosóficas, foi ele que me ensinou o pensamento crítico a tudo, tudo que nos envolve. Impossível não se apaixonar pela vida do jeito que ele falava.


Não tem muito o que dizer agora, as memórias guardo para mim em meu coração. Do vovô Einstein, meu dragão, maluco, carinhoso e Super-homem, “conosco não tinha enrosco”. 


A pessoa que já foi careca pela subnutrição durante a guerra e cruzou a Alemanha inteira a pé quando criança venceu todos os obstáculos – que tenho certeza de que vários de vocês conhecem a história –, para se tornar o aventureiro que fugiu de rinocerontes no meio da África, pulou de abismos em geleiras na Finlândia para poder sobreviver à noite e ser um dos geólogos mais reconhecidos do mundo.

Ele descansou. Tenho certeza de que agora está tendo uma boa discussão com Deus sobre todos os mistérios e perguntas que ainda não tinha descoberto. Deixo a vocês uma das últimas frases do Dr. Eberhard Wernick:

‘A minha convicção é de que na minha vida, eu represento, apenas, um elo finito numa evolução, uma cadeia biológica infinita. Ao ter esta noção eu passo a ter noções específicas sobre a beleza da vida, sobre o valor da vida e sobre a finalidade da vida. Só se eu evoluir como ser humano através da ligação humana, de investimento humano, que há chance de ser lembrado pelos dois próximos elos desta cadeia. Apenas! O resto? O resto, nós surgimos, viemos do infinito e vamos para o infinito’.”

Dessa forma, e endossando as palavras de Bruna, de centenas de alunos, de colegas de profissão, por meio das Honrarias do Sistema Confea/Crea 2021, o brilhantismo e a contribuição de Eberhard Wernick para a Geologia brasileira e mundial recebem mais um reconhecimento por sua marcante trajetória. 

Trajetória profissional 


Cofundador do curso de Geologia da Universidade Estadual Paulista – Unesp (1969); Medalha Martelo de Prata por sua contribuição à Geologia Nacional, concedida pela Sociedade Brasileira de Geologia (1972); Professor Titular da  Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1977-2017); Membro do Colegiado Superior – Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro – Departamento de Petrologia e Metalogenia (1977-1985);  Medalha Cientista do Ano de Rio Claro-SP (1979); Membro Titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (1980); Coordenador adjunto do Mapa Geológico do Estado de São Paulo (1983-1986);  Chefe de Departamento (1984-1985) e Membro de Comissão Permanente (1988-1990) (1991-1998) do  Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro – Departamento de Petrologia e Metalogenia; Cofundador do Curso de Pós-Graduação do IGCE/Unesp, tendo exercido a coordenação (1985-1988); Coordenador do curso de pós-graduação em Geociências da Unesp (1985-1988); Diploma por sua contribuição ao desenvolvimento da Geologia do Brasil Central, concedida pela Sociedade Brasileira de Geologia (1987); Coordenador Científico do Grupo Acadêmico Rochas Granitoides da Unesp (1991); Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências (1993); Presidente da Comissão Técnica-Científica Granitoides e Mineralizações Associadas da Sociedade Brasileira de Geologia; Membro da Commission on Granues da International Association of Volcanology and Chemistry of the Earth Interior;  Membro do National Leader (Brasil) do projeto IGCP Archaean Geochemistry; Membro do Regional Leader (Brasil, Uruguai, Paraguai) do projeto CCGM Metamorphic Map of South America; Membro do Continental Leader (América do Sul) do projeto IGCP-IWGC Igneous and Metamorphic Processes.