Antônio Telmo Nogueira Bessa

Engenheiro Aeronáutico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1957; Economista pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1968

Nascimento: Maranguape (CE), 27 de outubro de 1931
Falecimento: Fortaleza (CE), 03 de junho de 2007
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE)

O anúncio de que o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) terá um campus avançado em Fortaleza concretizou um sonho do engenheiro Antônio Telmo Nogueira Bessa. Formado na primeira turma de Aerovias do célebre instituto que forma também outras engenharias, criado em São José dos Campos pelo também cearense Casimiro Montenegro Filho, em 1950, Telmo sempre lutou para ver a entidade em seu estado natal.

Três dos cinco filhos com dona Elza Tavares Bessa (Cláudio, Marcelo e Vládia) nasceram em Campinas, no período em que Telmo estudou no ITA e atuou na multinacional Clark. “Ele vinha de uma família pobre de Maranguape. Os 10 irmãos conseguiram bolsas de estudo em Fortaleza. Do colégio Castelo, tentou ir para a Universidade Nacional, no Rio de Janeiro, onde estava o advogado e irmão José Maria Cirino Bessa, mas precisou trabalhar. Quando o ITA foi criado, passou para a primeira turma”, diz Vládia. Em 2015, seu filho se formaria pelo ITA, na mesma área do avô, depois denominada Engenharia Mecânica-Aeronáutica. “Conheci o ITA por meio dele”, diz Henrique Bessa de Farias, hoje atuando na preparação de futuros alunos do instituto, em Fortaleza.

Irmã ainda da contadora Solange e de Flávia, a economista conta que Telmo sempre prezou pela formação dos filhos e por ajudar as pessoas. “Fazia projetos beneficentes. Por muitos anos, foi chefe de oficina da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), ajudava muito os empresários.  Sempre teve facilidade de passar seus conhecimentos”, cita, comentando ainda que sua morte surpreendeu todos. “Ele não dizia que tinha problema de coração e trabalhou até o último momento em assessorias”, ressalta Vládia.

O deputado federal e colega engenheiro civil Ariosto Holanda registrou seu falecimento no plenário da Câmara. “O Ceará com certeza lembrará na sua história o nome de Telmo Bessa como o do engenheiro e professor que implementou vários projetos educacionais e de engenharia que em muito beneficiaram o estado”. Entre eles, consultorias junto ao Pacto de Cooperação entre empresas e o governo do estado, em favor de obras como o Porto do Pecém e o Metrofor.

A paixão pela educação era compartilhada com o time do Ferroviário, sendo membro da diretoria, do conselho deliberativo e seu presidente em 1975. “Todos os filhos são torcedores do Ferroviário”, garante Vládia. “Ele ia para o estádio, era um torcedor ferrenho. Jogava bola e havia sido presidente do centro desportivo do ITA, sempre gostou muito de esporte”, diz.

A companhia da família nas viagens e nas batucadas em Morro Branco também alegrava o engenheiro cearense. “Mas até nesses momentos, ele sempre estudava um pouco”, acrescenta Vládia, considerando a homenagem do Sistema motivo de orgulho. “Ele viveu para isso. Não me lembro do meu pai sem um livro na mão. Essa homenagem é um reconhecimento de todo esse amor que ele tinha pela engenharia”.

Professor do curso de Engenharia Civil da UFC, o sobrinho e engenheiro civil José de Paula Barros Neto lembra que vivenciou ainda o período de aulas de Telmo na Universidade. “Tínhamos muita interação, atuamos no mesmo Centro de Tecnologia. Era uma das referências da engenharia mecânica do Estado, com projeção nacional na área de Metalurgia. Atuava com materiais voltados à solda, aço, dando consultoria para empresas locais e de fora. Na RFFSA (onde Telmo foi engenheiro e chefe do Departamento de Mecânica) ou na universidade, era sempre requisitado pelo governo do Estado para resolver problemas”.

“Apesar de não ser engenheiro mecânico, como meu primo Marcelo, ele me estimulou bastante. Depois, a universidade nos aproximou mais”, ressalta. “É uma homenagem justíssima a um profissional que exerceu a plenitude da Engenharia, com ética e esmero. Era um grande entusiasta da educação, defensor do ITA, que agora está vindo para o Ceará. Tinha uma preocupação social muito grande para Maranguape. Para lá, projetou o Trem-BUS, um ônibus para colocar na linha férrea. Homenagem mais do que justa”, diz Barros Neto.

Marcelo tem a mesma visão. “Justa e merecida. Além da Engenharia Mecânica, sou formado em Matemática. Ambas foram influenciadas pelo desempenho pessoal e profissional do meu pai. Fui seu aluno na UFC e pude beber um pouco de seu conhecimento técnico. A exemplo dele, o magistério me puxou. A preocupação com a educação e o bem-estar dos menos favorecidos sempre esteve presente em sua vida. Sua máxima era: sou aposentado, mas não inativo".

Aposentadoria marcada pelos anos na UFC, desde a coordenação dos cursos de Engenharia Química e de Química Industrial, à chefia do Departamento de Mecânica e Produção do Centro de Tecnologia ou ainda à presidência do Núcleo de Tecnologia Industrial (Nutec). E que também coroava, sobretudo, sua atuação no magistério, incluindo a participação em comissões, atividades técnicas e missões científicas. Disposição que o levava ainda a fazer parte do Conselho da Escola Técnica Federal do Ceará e do Serviço Nacional da Indústria (Senai) ou a atuar como diretor-presidente da Empresa Compromaqui; diretor da empresa Telza Engenharia e fundador e membro do Fórum de Tecnologia do Estado do Ceará e da Regional Ceará da Associação dos Engenheiros do ITA (Aeita).

Reitor da UFC (2008-2015), o engenheiro mecânico Jesualdo Farias nominou, em 2011, o bloco do departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFC em homenagem a Telmo, ao lado do então diretor do Centro de Tecnologia, Barros Neto. “Nós nos conhecemos ao fim do meu mestrado em área correlata à dele, a Metalurgia Física.  Após uma especialização no Japão, Telmo me convidou para trabalhar no laboratório de tratamentos térmicos de metais do Senai. Depois, montamos um laboratório, hoje de referência, com projetos de Metalurgia Física da Soldagem, financiados pela Petrobras. Mantivemos uma relação de amizade e profissional até a morte dele. Tínhamos muito em comum”, conta Jesualdo, companheiro de jogos do Ferroviário e também incentivador da ida do ITA ao Ceará. “Telmo estaria feliz com essa conquista”.