Inclusão digital para o desenvolvimento econômico

Brasília, segunda-feira, 9 de agosto de 2004.



Eng. Kamel Ayadi
Os países com as dez maiores economias do mundo são também os que mais aprimoram e utilizam as novas tecnologias. A relação, portanto, entre desenvolvimento e inclusão digital é direta. Esse foi o mote do 4º painel do seminário internacional Sociedade da Informação e do Conhecimento - Desafios e Oportunidades Estratégicas para o Desenvolvimento, promovido em Brasília nos dias 5 e 6 deste mês pelo Sistema Confea/Crea.

Neste rumo, o Sistema Profissional
firmou uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior (Mdic) que vai, justamente, usar as tecnologias digitais como ferramenta para fortalecer o desenvolvimento econômico nacional. Por meio da implantação de telecentros, o programa vai impulsionar os negócios de micro e pequenas empresas, setor que mais gera empregos formais no país.
Quem precisa comprar, vender, pesquisar condições de mercado ou mesmo se atualizar sobre as novidades tecnológicas terá, agora, suas atividades facilitadas. "Os pequenos empreendedores, que muitas vezes não têm acesso ao aparato tecnológico mais moderno, poderão utilizar terminais informatizados, com logística adequada e computadores on-line ligados a um grande banco de dados para prospectar negócios", disse Lílian Álvares, vice-diretora de articulação da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico do Mdic. Monitores e gerentes de atendimento também estarão à disposição para orientar os usuários a aproveitar o máximo do novo recurso.
O Sistema Confea/Crea, por sua vez, vai implantar, a partir deste mês, telecentros nos Creas SP, GO, SC, RJ, MT, ES, RS, MG, RN e DF. De acordo com Lília, a expectativa é, ao fim do programa, ter pelo menos um telecentro em cada município brasileiro. "Nossa idéia é inserir o pequeno empreendedor no universo tecnológico e, assim, incrementar o desenvolvimento econômico e social da indústria, do comércio e das comunidades país a fora", concluiu.
Agregar valor - O assessor Internacional do Ministério da Ciência e Tecnologia, Guilherme Patriota, lembrou da importância do conhecimento no cenário econômico que se configura. "O celular custa mais pelo serviço de telefonia e internet que agrega do que pelo bem material em si", explicou. Nesse âmbito, ele acredita que as políticas públicas têm um caráter essencial.
"O que mantém os países desenvolvidos na vanguarda é o subsídio e o suporte à pesquisa e preservação da liderança tecnológica", afirmou. Portanto, de acordo com Patriota, o Brasil deve seguir pelo mesmo rumo se pretender uma posição de destaque no mundo da tecnologia e do conhecimento. "Investimento em educação e capacitação, desta forma, são imprescindíveis", reiterou ele.
"A inclusão digital é um meio indispensável, nos dias atuais, para o desenvolvimento econômico, mas depende de da melhora de outros indicadores para que venha a surtir efeitos a contento", considerou o engenheiro José Olívio de Oliveira, da Confederação Internacional de Organizações e Sindicatos Livres. "Hoje vemos que a globalização não é exatamente a maré alta que se pensava, que elevaria todos os barcos num mesmo nível", reforçou. É necessária, segundo ele, a iniciativa de governos e sociedade no sentido da erradicação da pobreza extrema e da mortalidade infantil, estabelecimento de metas de educação, igualdade de gêneros e outras medidas sociais indispensáveis.
Adaptação - Para encerrar o circuito de painéis, o presidente eleito da Fmoi, Kamel Ayadi, elencou as categorias que precisam ser trabalhadas para o estabelecimento completo da inserção digital: infra-estrutura adequada, conhecimentos necessários, pré-requisitos qualitativos e quantitativos de redes e logística, questões culturais e de uso e preços - especialmente no tocante à aquisição de computadores. "Nada disso é viável, entretanto, se a população não estiver apta a receber as novas tecnologias", lembrou. É, assim, urgente que se invista em educação e capacitação, segundo Ayadi. "Não se pode, da mesma forma, trazer a tecnologia da forma que é vista nos países desenvolvidos. Nós, que estamos em desenvolvimento, temos características particulares e necessitamos de adaptações para usufruir ao máximo das possibilidades que o meio digital nos oferece", reforçou o engenheiro tunisiano.

Gustavo Schor - da equipe da ACOM