Fórum discute produção de energia nuclear no Brasil

Brasília, terça-feira, 21 de maio de 2002. A energia nuclear esteve em pauta nos dias 16 e 17 de maio no Rio de Janeiro durante o Fórum Temático "A importância da Energia Nuclear e seu Futuro no Brasil", organizado pelo Confea através da Comissão de Assuntos Nacionais (CAN), Crea-RJ e Eletronuclear - empresa da Eletrobrás Termonuclear - com o apoio do Colégio de Entidades Nacionais (Cden).Durante a abertura do evento, feita pelo coordenador da CAN, eng. químico Alberto Matos Maia - representante do presidente do Confea em exercício, eng. agrônomo Jaceguáy Barros - o presidente da Eletronuclear, eng. eletricista Flávio Decat, lembrou que uma das funções do Confea é se manter informado dos assuntos relacionados ao desenvolvimento do Brasil, e energia nuclear é um deles. "A sociedade precisa saber acompanhar, fiscalizar, mas acima de tudo confiar em quem lida com a atividade nuclear" , ressaltou.Dentro do contexto de abrir-se para tornar-se conhecida e, consequentemente, confiável para a sociedade, presidente, diretores e gerentes da Eletronuclear expuseram detalhadamente todo o trabalho que desenvolvem para um público de engenheiros eletricistas, de meio ambiente, de segurança, químicos, estudantes, imprensa e pessoas em geral interessadas no assunto. O Fórum aconteceu no Centro Cultural da Justiça Federal do Rio de Janeiro e foi sucedido de uma visita às instalações da Eletronuclear."Tem que se fazer usinas dentro da economicidade e do respeito ao meio ambiente", disse o eng. eletricista Pedro José Diniz Figueiredo, diretor de Operação e Comercialização da Eletronuclear. Ele enfatizou que essa preocupação é muito grande na empresa, que não poupa recursos com treinamento de pessoal e cuidados que ele até adjetiva de "exagerados" com a segurança. "Mesmo em situações que nem existem no Brasil como terremotos, por exemplo, as usinas estarão intactas. Gastamos 60% dos nossos recursos com segurança", afirmou.Angra dos Reis - Diniz Figueiredo explicou que a proximidade aos grandes centros urbanos - que evita a construção de sistemas de linhas de transmissão caros, fator elevador do custo da energia gerada - e a eficiente complementação térmica pelo sistema hidráulico, foram alguns dos pontos fortes que somaram para eleger Angra dos Reis cidade sede da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que comporta as usinas Angras 1, 2 e 3 (em construção)."A escolha do local envolveu uma série de condicionantes, ligados às características do sistema de geração nuclear como abundância de água de refrigeração e facilidade de transporte e montagem de equipamentos pesados. A escolha foi precedida de muitos estudos desenvolvidos com apoio de empresas de consultoria internacionais com comprovada experiência no assunto", disse o diretor.Mas nem tudo foram flores. A empresa enfrentou muitas dificuldades como a necessidade de ter custos competitivos, a questão dos rejeitos e a principal delas: a aceitação pública. Esforços realizados, problemas superados, hoje a empresa tenta resolver as dificuldades para a construção de Angra 3. Enviou para o CNPE - Conselho Nacional de Política Energética, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia e com participação de mais seis ministros de Estado -, atendendo a uma solicitação do Ministério do Meio Ambiente, pedido de análise pela sociedade do projeto. "O CNPE aprovou por unanimidade", enfatizou.Com relação a um dos maiores problemas para a aceitação das usinas, o lixo nuclear, Diniz Figueiredo diz: "é o único que tem endereço e controle e todo mundo sabe onde está". O CNPE aprovou o início de atividades preliminares e hoje a empresa está no meio desse processo, tentando percorrer o caminho do licenciamento ambiental: elaboração do Estudo dos Impactos Ambientais (EIA/Rima), avaliação pelo Ibama, obtenção de licença de instalação. A expectativa é que estas questões estejam prontas em fevereiro de 2003.Usinas - Em 1968 o governo brasileiro decidiu ingressar no campo da energia nuclear para adquirir conhecimento dessa tecnologia e obter experiência visando enfrentar possíveis necessidades futuras. A construção de Angra 1 foi iniciada em 1972, realizou em 1982 a primeira reação nuclear em cadeia e começou, efetivamente, a operar comercialmente em 1985. Tem potência de 657 Mw e já produziu mais de 30 milhões de Mwh desde o início de seu funcionamento. Em 1975, o Brasil assinou com a Alemanha o Acordo sobre Cooperação para Uso Pacífico da Energia Nuclear, dentro do qual foi concretizada a aquisição das usinas Angra 2 e Angra 3 à empresa alemã Kraftwerk Union A. G. - KWU, subsidiária da Siemens. Angra 2 tem potência de 1.309 Mw e teve suas obras iniciadas em 1976, entrou em operação no início do ano 2000. Angra 3 tem potência igual, mas isto está sendo totalmente revisto em termos técnicos e comerciais. Com as três usinas em funcionamento a Eletronuclear disporá de uma capacidade instalada de 3.275 Mw, passando a produzir 50% da energia consumida no Rio de Janeiro.Bety Rita Ramos - Da equipe da ACS