Brasília, 13 de julho de 2012
Enquanto os franceses celebram em 14 de julho sua data nacional mais importante, por lá também conhecida como “18 de Brumário”, engenheiros aquicultores brasileiros buscam ampliar e ainda difundir melhor sua atividade, cuja data de referência acontece neste dia. Embora associada a um setor que já envolve quase 40% da produção de pescado do país, mobilizando cerca de 800 mil profissionais, entre pescadores e aquicultores, além de gerar 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos, a Engenharia de Aquicultura ainda está sendo estruturada no país, como a aquicultura em geral. Seu primeiro curso foi criado em 2003, na Universidade Federal de Santa Catarina. No Sistema Confea/Crea, eles registram 116 profissionais, junto a 114 técnicos e 48 tecnólogos em aquicultura.
Hoje, a carcinicultura (cultivo de crustáceos) é a modalidade mais difundida de aquicultura, entendida como a criação em cativeiro de peixes, mariscos, algas, rãs, jacarés, além de crustáceos, entre os quais sobressaem os camarões. Bom lembrar que a tilápia também tem produção cada vez mais representativa , ao lado da carpa, entre as espécies de pescado não nativas. Entre as nativas, tambaqui, pacu e pintado são as mais cultivadas. Oficialmente, segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, relaciona-se com o “cultivo de organismos cujo ciclo de vida em condições naturais se dá total ou parcialmente em meio aquático”. Afinal, plantamos, criamos diversas espécies de animais e, também, cultivamos pescado. Há milhares de anos. No mar (maricultura) ou em água doce (aquicultura continental). Mesmo assim, a atividade continua encontrando dificuldades para se estruturar no país. Diferente de países como Chile, Japão e Noruega, por exemplo.
Segundo o coordenador geral de Aquicultura Continental em Estabelecimentos Rurais e Urbanos do Ministério da Pesca e Aquicultura, Jackson Luiz Pinelli, o setor de aquicultura gera atualmente cinco bilhões de reais/ano, crescendo 35% entre 2003 e 2009, passando de 278 mil toneladas para 415 mil, direcionadas praticamente para o mercado interno. “Temos ótimas condições naturais do país, mas ainda somos emergentes perto de outros países. O principal problema está na falta de produtores. Temos potencial para incrementar bastante o nosso mercado”. Mesmo assim, ele ressalta que há muito espaço para os pesquisadores da área levarem seu conhecimento aos aquicultores. O MPA foi criado em 2003, inicialmente como secretaria. Jackson Luiz informa que as atividades de psicultura já acontecem no país desde os anos 30 e que a atividade reúne conhecimentos técnicos de outras atividades, além da engenharia de aquicultura: engenheiros agrônomos, engenheiros de pesca, técnicos de nível médio, biólogos e zootecnistas. “O Brasil precisa demais de assistência técnica de pesquisadores, de pessoas formadas para poder levar esse conhecimento aos produtores rurais, aos aquicultores para que eles realmente consigam desempenhar as suas atividades. Então, o espaço para essa profissão é muito grande em todos os estados, a falta é muito grande”.
Deficiências
Os limites atuais da atividade refletem, em parte, a falta de investimento de décadas passadas. Engenheiro de pesca formado pela UFRPE, com experiência na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além de ex-superintendente substituto da Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (Sudepe), Odilon Juvino de Araújo, diretor técnico da Associação Brasileira de Aquicultura (Abraq), fala hoje também com a experiência de criador de tilápia. Ele conta que, junto à Embrapa, a psicultura sempre era colocada como última prioridade. “Não existe uma mentalidade de valorização desta área. Enfrentamos problemas ambientais que interferem na produção e outros riscos difíceis de resolver”, diz, manifestando-se estarrecido com o fato de o Centro de Aquicultura Marinha da Embrapa estar sendo criado hoje em Palmas.
Com 4.600 associados, entre profissionais de diversas áreas científicas, tecnológicas, a Abraq, criada em 1978, busca atualmente maior proximidade com o setor empresarial. “No início, se falava em Tecnologia em Aquicultura. Há poucos anos, as universidades entraram neste processo e a transformaram em Engenharia de Aquicultura, curso que tem uma grade próxima à da Engenharia de Pesca, que é mais ampla. Hoje, a aquicultura é desempenhada mais por engenheiros de pesca, biólogos e zootecnistas. Vivemos em dois planetas: água e terra. O planeta terra está super explorado, como vimos na Rio+20. Já o planeta água, é inexplorado, exploramos menos de um por cento da costa marinha. Não temos no Brasil, a não ser na área de camarão, o aproveitamento da área marinha, como acontece em outros países. A gente praticamente não explora nada, apenas uns mexilhões em Santa Catarina e no Espírito Santo e a carcinicultura. Então, o Brasil hoje está inexplorado. Em água doce, muito pequeno. Só produzimos 380 mil toneladas em cativeiro”, comenta o diretor da Abraq, informando que a carcinicultura possui sua própria entidade, a Associação Brasileira de Criadores de Camarão.
Odilon aumenta o tom das críticas. “Importamos 60% do que consumimos, é uma área que ainda tem muito a crescer, mas continuo escutando a mesma conversa de há 40 anos. Continuamos no ‘potencial’. Carcinicultura hoje é mais expressiva, em termos de mundo. Tilápia e camarão estão crescendo de modo expressivo. Agora, as outras áreas são muito pontuais, inexpressivas. Tanto é, que o ministério é considerado inexpressivo diante do seu potencial. A gente vive em um país com uma área enorme. O açude Castanhão, no Ceará, tem uma produção anual de 25 mil toneladas, enquanto Sobradinho, com área seis vezes maior, tem uma produção praticamente zero. Não existe estímulo. Faltam créditos, temos apenas créditos agrícolas que não têm nada a ver com a pesca e aquicultura. Enfim, é todo um processo que tem que ser revisto”.
Henrique Nunes e Augusto Viana
Assessoria de Comunicação e Marketing do Confea e Agência do Rádio Brasileiro
Fotos: Ministério da Pesca e Aquicultura