Brasília, 2 de setembro de 2020.
A construção do submarino nuclear brasileiro, prevista pelo Programa de Desenvolvimento de Submarinos – Prosub, da Marinha, para ser concluída em 2022, provavelmente coroaria também a obra do engenheiro civil Pedro Carlos da Silva Telles. Formado em 1947 pela Escola Nacional de Engenharia, atual Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o pesquisador do papel da Engenharia naquela Arma, como em toda a sua história no país, era considerado um dos maiores memorialistas da engenharia brasileira, autor de obras como “História da Engenharia no Brasil – séculos XVI a XIX” (ganhadora do prêmio Jabuti, em 1985) e “Notáveis Empreendimentos da Engenharia no Brasil” (2017). No último domingo (30), Silva Telles concluiu sua jornada, iniciada em 25 de fevereiro de 1995, em Petrópolis.
A admiração pela história da engenharia brasileira se estendeu aos livros “História da Engenharia no Brasil - Século XX” (1993); “História da Construção Naval no Brasil” (2001); “Construção Naval no Brasil" (2004) e ainda “História da Engenharia Ferroviária no Brasil” (2010); “Escola Politécnica da UFRJ – A mais antiga das Américas, 1792: das origens a atualidade” (2011), “A Engenharia e os Engenheiros na Sociedade Brasileira” (2015) e “Notáveis Empreendimentos da Engenharia no Brasil” (2017), além dos inéditos “O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História 1889-1946” e “O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História 1946-2005”. Mas seu talento também esteve presente em dezenas de artigos científicos e em obras técnicas (“Tubulações industriais: materiais, projeto e desenhos”, “Vasos de Pressão”, “Tabelas e Gráficos para Projetos de Tubulações” e “Materiais para Equipamentos de Processo”). Incansável, Silva Telles organizou, em 2016, o site Engenharia no Brasil, dedicado à sua obra.
“Esses livros foram muito usados pela engenharia mecânica, e até hoje ainda são de referência. Pedro Telles era um cara da história, que marcou a formação de muitos engenheiros em todo o país. ‘Tubulações Industriais’ (1968) é uma referência ainda hoje na décima edição. Foi um papa, apresentando toda a experiência da construção da Refinaria de Duque de Caxias, onde ele criou a seção de Projetos. Ele uniu a teoria e a prática, o que é muito importante, por isso os livros dele têm muito valor”, considera o presidente da Federação Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial (Fenemi), eng. mec. Marco Aurélio Braga. A entidade emitiu nota oficial sobre o falecimento.
“Conhecia a obra do professor Silva Telles. Toda a nossa geração vibrava com a sua capacidade de trazer a história do país. Silva Telles foi um importante engenheiro responsável pela criação do curso de Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo ainda hoje um autor conhecido pelas novas gerações com seus livros técnicos sobre tubulações industriais. O país perde um de seus maiores engenheiros e memorialistas, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Brasileira de História da Ciência e membro titular da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e da Academia Brasileira de Engenharia Militar. Que saibamos honrar todo o seu conhecimento e todo o seu amor pela Engenharia do país”, aponta o presidente em exercício do Confea, eng. civ. Osmar Barros Jr.
Paixão de infância
Em entrevista à Academia Nacional de Engenharia, o ex-professor do curso de pós-graduação da Petrobras e do Instituto Militar de Engenharia (IME), comentava que sua paixão pela Engenharia surgiu ainda na infância, talvez por influência do pai, que também era engenheiro. Já as aptidões para a docência e para a autoria de livros foram descobertas ao longo da trajetória profissional. “Não saberia dizer qual me proporcionou mais alegria. Obtive êxito em todas. Sempre gostei de Engenharia e de História do Brasil, felizmente consegui unir essas duas paixões”, contava o professor aposentado. “Temos profissionais competentes que figuram entre os melhores do mundo. A nossa Engenharia é, certamente, muito qualificada e é preciso manter a qualidade dos cursos para que ela continue assim”.
Silva Telles considerava ainda à Academia Nacional de Engenharia que o legado que deixou para as futuras gerações de engenheiro o orgulhava bastante. “Sempre tive prazer em registrar os fatos. É uma forma de contribuir com o desenvolvimento dos futuros profissionais e guardar a memória de nossa atividade”, dizia, definindo a engenharia como “uma profissão que constrói, e não que tenta corrigir um erro ou defeito humano, como outras”.
“Nós nos conhecemos há muitos anos, ele foi professor da Escola de Engenharia, onde também lecionei. Muitos anos depois, nós voltamos a nos reencontrar nos lançamentos dos livros dele. Na sua última obra, ele faz um resumo dos diferentes projetos e obras do século XIX ao final do século XX, focalizando diferentes empreendimentos de engenharia no nosso país”, comenta o presidente da ANE, eng. civ. Francis Bogossian. Lembrando que Silva Telles entrou na Academia em 1996, ele considera que as obras do engenheiro são o seu maior legado. “Apesar de muito admirado, ele precisava de apoio para continuar as suas obras, que são o seu principal legado. Defendemos a Engenharia do país. O parecer dos técnicos deveria ser mais ouvido, como nos Estados Unidos”, complementa o atual presidente em exercício do Crea-RJ, citando que a Academia reunia até então 200 membros-efetivos no Brasil inteiro, seu número limite, que havia sido preenchido no ano passado.
Equipe de Comunicação do Confea
Com informações do site da Academia Nacional de Engenharia (ANE)
Fotos: Andréa Antunes/ANE