“Por que os seres vivos estão onde estão?”. É para responder essa pergunta que existe um ramo da ciência chamado Biogeografia, que é o estudo das relações entre a distribuição das espécies e as características climáticas e geológicas de determinada região. Em outras palavras, é a geografia da vida, que traça receitas para a existência. Grande parte da preservação da biodiversidade do Nordeste pode ser traçada e mantida por um geógrafo da vida: Emmanuel Franco.
Entre seus 14 livros publicados, cinco são sobre os estudos do padrão de distribuição de seres vivos no Nordeste, mais especificamente nos Estados de Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Segundo seu primogênito – que compartilha o nome e a profissão do pai –, Emmanuel Franco foi uma das primeiras pessoas no Brasil a escrever sobre ecologia, climatologia, a mapear todo o ciclo da chuva no Nordeste. “E isso antes de existir satélite!”, o filho ressalta.
Sergipano de Laranjeiras, Emmanuel foi pesquisador, professor e defensor sanitário. O posto de defesa sanitária de São Luís foi fundado por ele. “Naquela época, nem formicida se usava, isso em 1940, 1950... Ele introduziu o uso de formicida no interior do Maranhão, levou os primeiros insumos e fertilizantes...”, conta orgulhoso Emmanuel Filho. “Em Sergipe, ele introduziu fertilização e controle biológico para lagarta na lavoura de cana de açúcar”, completa. Também foi Emmanuel um dos pioneiros a usar cebola na fabricação de cerveja. “Já tomei cerveja produzida por ele!”, lembra.
Internacionalmente, Emmanuel Franco é reconhecido por sua pesquisa cujo resultado erradicou uma doença – nematoide – dos coqueiros. “Não fosse isso, o Nordeste não teria coqueiro! A doença estava muito avançada e o que ele fez foi injetar arsenito de sódio no tronco”, explica Emmanuel Filho, ao ressaltar que essa pesquisa foi realizada enquanto o pai trabalhava no Ministério da Agricultura. Outro trabalho que lhe rendeu prêmio internacional foram seus estudos – com resultados práticos - sobre controle de bactérias em bananeiras no Nordeste.
Filho de senhor de engenho e pai de quatro filhos, em seu tempo livre, Emmanuel Franco escrevia sobre gramática e as origens do Português. Antes de completar 60 anos, entrou para a Academia Sergipana de Letras. “Um homem na pele dos 80, com uma mente de no máximo 30 anos de idade. Ativo, participante, lançando ideias, propondo novos caminhos para a Academia”, escreve uma de suas ex-alunas, Tânia Meneses.
Geógrafo da vida, Emmanuel parecia viver em outro mundo. “Ele conversava com o vento, e o vento respondia assanhando seus poucos cabelos. De repente, antes de chegar ao meio do jardim, o professor Emmanuel retornava com uma cara de quem havia esquecido algo importante em casa”, relembra Tânia.