Emílio Façanha Mamede Neto

Ele chegava com sua moto, tirava a bengala dobrável do bagageiro e seguia seu caminho. Essa é uma das lembranças que seus amigos e sua esposa guardam de Emílio Mamede. A história do engenheiro é composta por vitória atrás de vitória: de recuperações de complicações na válvula do coração e dissecções de aorta a voltar a andar depois de ficar três meses com as pernas dormentes. “Era um guerreiro”, define a esposa, Maria Alice Mamede.

A história da carreira de Emílio começa pelo pai - engenheiro de Minas e Energia - e por seu entusiasmo com números e ciências exatas. “Ele era apaixonado por Engenharia”, conta Maria Alice. Emílio foi o responsável pelas obras civis da implantação de redes telefônicas em Brasília, ainda na década de 1970, com a Telebrasília. Também na capital do país sua construtora – Navarro Mamede - acompanhou a construção de escolas, embaixadas e obras para a Caixa Econômica Federal. 

Concursado do Banco Central, foi Emílio o responsável pela construção das sedes do Bacen em Belo Horizonte e Fortaleza. “Ele ainda recebeu convite para construir as sedes de Curitiba e Belém, mas à época, com três filhos, resolvemos nos estabelecer em Brasília, onde estava nosso núcleo familiar”, conta a esposa. Entre uma obra e outra, os filhos nasceram, dois – Frederico Emílio e Ana Carolina - em Belo Horizonte e a caçula – Elissa - em Fortaleza. Na década de 1990, ainda funcionário do Banco Central, Emílio coordenou o comitê que antecipou, equacionou e propôs soluções e adequações do Sistema Financeiro Nacional ao Bug do Milênio. 

Por conta de uma dissecção da aorta abdominal, Emílio chegou a ficar três meses sem conseguir andar. Após tratamento em São Paulo, o engenheiro retomou os movimentos das pernas. “Choramos de alegria!”, relata Maria Alice. Ela conta que ele ainda carregava sequela, chegando a utilizar andador e, posteriormente, bengala. No entanto, isso não o impediu de praticar seus hobbies. “Ele gostava de sentir o vento no rosto. Apesar das dificuldades, velejava e andava de moto”, lembra Maria Alice.

Sempre se atualizando, em 2010, Emílio adquiriu duas certificações em acessibilidade. “O hospital era perto da nossa casa e ele não conseguia chegar lá, por falta de acessibilidade”, diz a esposa, ao contar que quando eles viajavam, ele tirava foto das soluções de acessibilidade que via, dizendo: “temos que levar isso ao Brasil!”. Na década de 2000, Emílio participou de um encontro sobre o assunto em Recife e, de lá, trouxe uma ideia: mandou imprimir mil cartões que pediam respeito a quem tem limitações de movimento. “Cada vez que ele via algum carro sem o adesivo de portador de necessidades especiais estacionado nas vagas especiais, ele colocava o cartãozinho. Era um tapa com luva de pelica. Hoje, continuo espalhando esses avisos e entrego punhados de cartão para minhas amigas fazerem o mesmo”, completa Maria Alice.

Orgulhosa, a esposa conta que Emílio não parava de estudar. “Estava sempre fazendo uma pós, querendo aprender mais e mais”, e lamenta a morte precoce do marido: “que desperdício... Mas ele deixou, sim, um legado”. Maria Alice garante que além de engenheiro, Emílio Mamede foi um pai exemplar, um marido maravilhoso e um modelo de caráter e unicidade. “Você deve estar pensando ‘que mulher orgulhosa do marido’, mas ele foi, sim, muito correto - um exemplo para os filhos e para quem teve o prazer de conviver com ele”.

Por Beatriz Leal
Equipe de Comunicação do Confea