Brasília, 15 de fevereiro de 2024
Um espaço onde é possível plantar muito mais do que em uma fazenda comum e onde não se sujam as galochas ao colher as plantas. Aqui é possível gastar 95% menos água, 60% menos fertilizante e absolutamente nada de defensivo agrícola. Com total controle das pragas e das adversidades climáticas, não é necessário nem higienizar os produtos após a colheita. Parece sonho, mas essa já é a realidade das fazendas verticais urbanas.
“Hoje produzimos comercialmente seis tipos de alface, dez tipos de microverdes, oito tipos de cogumelos (shimeji branco e preto, paris, portobello, etc), oito flores comestíveis... Daqui um ano teremos toda a parte de folhas – rúcula, agrião, toda a parte de ervas. Em três a cinco anos queremos colocar toda a linha de berries, morango e os outros que não achamos no Brasil, tomate, pimentões”, compartilha o CEO da Pink Farms (a primeira e maior fazenda vertical da América Latina), eng. prod. Geraldo Maia.
Localizada em uma das principais vias de São Paulo (a Marginal Tietê), a Pink Farms hoje conta com três galpões que somam cerca de 16 mil m2, com 6 mil m2 de área produtiva (cada metro quadrado pode chegar a ser 350 vezes mais produtivo que o metro quadrado de uma fazenda tradicional). Os galpões têm entre 10 e 18 andares, e têm de 7 a 12 metros de altura. São 200 pontos venda e, até o fim de 2024, o grupo pretende chegar a 500 pontos.
“A gente transforma metro quadrado e passa a trabalhar com metro cúbico”, pontua o eng. agric. Vitor Gonçalves. A agricultura vertical, além das diversas vantagens já pontuadas, traz em si o caráter urbano, o que facilita o transporte: tanto o custo financeiro quanto o ambiental são drasticamente reduzidos nessa modalidade. Além disso, os agricultores não ficam expostos a riscos relacionados a equipamentos agrícolas pesados, doenças e produtos químicos, além de a prática não perturbar animais e árvores.
Uma desvantagem da agricultura vertical, no entanto, é o alto consumo de energia. Para que as operações funcionem, a fazenda tem que manter acionadas, o tempo todo, sobre as plantas, luzes de led vermelhas e azuis, para que os organismos façam a fotossíntese (o vermelho e o azul juntos causam o efeito cor-de-rosa e, por isso, pink farms). Além disso, existem os sistemas de manutenção da temperatura e da umidade. Sem contar os sistemas de internet das coisas e de machine learning envolvidos em todo o processo. As fazendas têm que ter gerador, pois não podem correr o risco de ficar sem energia.
“No caso da Pink Farms, a própria bandeja de cultivo tem um backup de água. Se falta energia, o sistema se mantém estável por um tempo. As plantas já se mantêm estáveis, pois elas têm aclimatação e capacidade de adaptabilidade”, lembra o eng. eletric. especialista em agricultura espacial Davi Souza, que já estagiou na Pink Farms. “Estamos migrando todas as unidades para o mercado livre e compramos energia direto de usinas solares”, comentou eng. prod. Geraldo Maia, CEO da Pink Farms, quando perguntado sobre o plano de prevenção e também sobre a preocupação com o futuro do planeta.
Internet das coisas em uma fazenda vertical
“Se você verticaliza um sistema agrícola, você não vai ter a luz do sol chegando em todas as camadas, então a primeira coisa a se pensar é na luz de led. A Internet das Coisas (IoT) entra para deixar sistemas de automação inteligentes – sensores de temperatura e umidade, por exemplo, para que liguem e desliguem sozinhos; sistemas de iluminação e irrigação que levem em consideração o quanto de luz e água a planta precisa, o sensor monitora o nível de água do tanque. Esse é o ciclo de inteligência de uma fazenda vertical”, explica Davi Souza que também se especializou em IoT na agricultura.
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Beatriz Leal Craveiro
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Dan Mangatti/Pink Farms e acervo pessoal dos entrevistados