Confea amplia ações do Programa Mulher em busca da diversidade

Brasília, 8 de março de 2024.

Desde sua idealização em 2018, o Programa Mulher do Sistema Confea/Crea e Mútua promove avanço significativo na consolidação da política de equidade de gênero nos ramos da engenharia, agronomia e geociências. Em 2019, apenas três Conselhos Regionais eram presididos por mulheres. Com os resultados das eleições de 2020, esse número subiu para seis e, atualmente, são oito os Regionais liderados por engenheiras que representam as 223.711 mil profissionais registradas no Sistema.     

Profissionais dos estados engajadas no Programa Mulher durante o 13º Encontro de Líderes do Sistema


O aumento da representatividade feminina é um desdobramento direto do programa lançado em 2019, cuja missão é impulsionar a participação das profissionais e estimular a criação de políticas atrativas para mulheres na área tecnológica em inúmeras entidades de classe e Creas. “A instalação do Programa Mulher permitiu com que lançássemos luz em um tema carente não apenas de debates, mas de ações concretas. Desde o início do projeto, nota-se uma ampliação da participação das mulheres no Sistema. Faço do meu um exemplo, já que fui a primeira mulher candidata e eleita presidente do Crea de Mato Grosso do Sul, em 2020. E assim tem sido em outros Regionais, que pela primeira vez têm uma mulher à frente da presidência”, analisa a engenheira agrimensora Vânia Mello reeleita para o cargo em 2023. 


Essa evolução se deu a partir do trabalho coletivo, como relata Michele Costa, engenheira mecânica e integrante do primeiro Comitê Gestor do Programa Mulher, na época representante do Colégio de Entidades Nacionais (Cden). “Inicialmente não foi fácil, pois a maioria não entendia que esse era um assunto que precisava de apoio e fortalecimento. A grande vitória foi quando todos os Creas, em 2021, entenderam a importância e implantaram os comitês nos estados, dando, assim, a capilaridade que o Comitê Gestor do Confea tinha como meta. Esse foi o pontapé, pois com novas lideranças em visibilidade e apoio dos Creas, os assuntos do programa foram empoderando muitas mulheres a abraçar o tema e elas passaram a se candidatar a diversos cargos, desde as entidades até o Confea”, lembra a engenheira que, em 2021, conquistou uma cadeira no plenário federal e, ao longo do mandato, ocupou postos de diretora institucional e coordenadora da Comissão de Ética e Exercício Profissional (Ceep). 

Michele Costa, engenheira mecânica, conselheira federal no período 2021-2023 e primeira presidente da Afeag-BA


Membro do Comitê do Programa Mulher até 2023, Michele viu de perto o progresso dessa iniciativa. “A partir do momento que as mulheres entenderam que não se travava de cada uma, mas, sim, de todas no coletivo, o programa chegou a uma maturidade incrível, inclusive com a criação da primeira entidade nacional de mulheres, a Fameag, Federação das Associações de Mulheres da Engenharia, Agronomia e Geociências. E isso se deu depois de terem sido criadas diversas entidades, como a Associação de Mulheres da Engenharia, Agronomia e das Geociências, Ameag; a Associação Feminina de Engenharia, Agronomia e Geociências, Afeag; a Associação das Mulheres Engenheiras, AME; a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas, Abea; a Associação de Mulheres Profissionais, AMP, entre outras. As mulheres estão muito mais organizadas”, conta Michele, que também fez história como a primeira mulher a presidir a Associação Feminina de Engenharia, Agronomia e Geociências da Bahia, fundada em 2019.  

Diante dos depoimentos emocionantes e resultados expressivos, o principal responsável pela implementação do Programa Mulher no Confea e por sua expansão para os Creas demonstra alegria e entusiasmo por ter contribuído diretamente para o movimento feminista. “Fico muito feliz e orgulhoso com o sucesso, a repercussão e mobilização que o programa teve no sentido de tirar da invisibilidade as demandas e os problemas enfrentados pelas mulheres no trabalho, no Sistema e na sociedade”, salienta Joel Krüger, engenheiro civil e presidente do Federal entre 2018 e 2023.

Ao analisar o andamento dos trabalhos, Krüger comemora a superação das metas. “Fizemos um levantamento de dados para ter um diagnóstico sobre a situação das mulheres dentro do Sistema e criamos comitês nos 27 Creas para dar permeabilidade nacional ao programa. Esses objetivos foram atingidos e até superados porque as mulheres perceberam a importância de ter entidades femininas dentro do Sistema. Então, elas criaram uma série de entidades, algumas até nacionais, a partir da inspiração da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas, Abea, que foi fundada em 1937 e é precursora desta causa”, comenta o engenheiro que, atualmente no cargo de conselheiro federal, segue incentivando o movimento no Confea. “Isso vai ter reflexo no médio prazo, considerando que essas entidades vão passar a ter representação feminina nos plenários dos Regionais, o que poderá motivar as mulheres a serem conselheiras e presidentes nos Creas e no Confea. Poderemos ter a primeira presidente eleita para o Federal.” 

 

Grandes debates
O programa tem pautado grandes agendas dentro e fora do Sistema. No ano passado, por exemplo, o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia (23/6) ganhou destaque na agenda da Câmara dos Deputados. Por iniciativa da deputada federal e engenheira agrônoma Marussa Boldrin (MDB-GO), a sessão solene foi palco de discursos de enfrentamento e combate à disparidade de gênero no mercado de trabalho. Também foram registradas manifestações em defesa do aumento da participação feminina em espaços de poder, abrangendo todos os níveis de tomada de decisão na esfera política, econômica e pública. “Sabemos que o caminho para a equidade de gênero é desafiador e devemos incentivar as meninas ao ingresso nas áreas de ciências, tecnologia e matemática. Não há limite para a coragem de todas as mulheres”, motivou a deputada que lidera a Frente Parlamentar Mista das Profissões do Sistema Confea/Crea e Mútua. 

Em 2023, o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia foi celebrado em solenidade na Câmara dos Deputados


Em agosto do mesmo ano, o Painel Mulher reuniu palestrantes internacionais e lideranças dos estados em uma rodada de bate-papo durante a Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), em Gramado (RS). Na oportunidade, o então presidente Krüger recepcionou o pedido das participantes por um ambiente onde mães e filhos possam ser acolhidos. "Estamos empenhados em promover políticas inclusivas, e o conceito do ‘Crea Baby’ pode ser a oportunidade para que cuidadores, em especial as mães que muitas vezes têm sua carreira interrompida, possam participar dessa oportunidade de reciclagem e networking que a Soea oferece aos participantes”, afirmou Krüger, levando em consideração que no Brasil mais de 11 milhões de mulheres criam os filhos sozinhas.

Ações como essas colocam em prática os objetivos do projeto. Entre eles, estão ampliar e fortalecer ações parlamentares; incentivar a promoção de eventos e seminários com foco nas mulheres profissionais; motivar a valorização e o reconhecimento da contribuição das mulheres em todos os estratos do Sistema Confea/Crea e das entidades de classe. 

painel mulher na 77 Soea
Painel Mulher durante a Soea do ano passado 

 

Cultura inclusiva 
Para fortalecer ainda mais a iniciativa, outros objetivos ganham força em 2024, quando o Confea, sob a gestão do engenheiro de telecomunicações Vinicius Marchese, reforça o compromisso com a promoção da igualdade de raça e a inclusão de pessoas com deficiência. A valorização da diversidade em termos de orientação sexual e identidade de gênero também entra na lista de propósitos, como adianta a engenheira civil Carmen Petraglia, que representa o plenário federal no Comitê Gestor no atual exercício. “Nestes cinco anos, o programa foi conquistando e consolidando espaços e, conforme isso acontece, temos que avançar procurando dar um salto para o futuro. E quais são os principais problemas do futuro, segundo a Organização Internacional do Trabalho? Acessibilidade e sustentabilidade. Ora, se nos preparamos para enfrentar estes desafios hoje, amanhã estaremos na vanguarda e ao mesmo tempo cuidando do bem-estar da sociedade.”

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Atual presidente do Confea, Vinicius Marchese, e cinco das oito mulheres que estão à frente dos Creas: Vânia Mello (MS), Rosa Tenório (AL), Alzira Miranda (AM), Adriana Falconeri (PA) e Adriana Resende (DF). Completam o time de lideranças femininas: Carmem Nardino (AC), Nanci Walter (RS) e Lígia Mackey (SP) 

 

A questão da sustentabilidade passa a ter mais evidência, nesta nova fase do projeto, por estar diretamente ligada às vulnerabilidades enfrentadas pelas mulheres. Embora a mudança climática afete a todos, são elas que sofrem, de maneira desproporcional, sequelas como fome, desemprego, violência e tantos outros efeitos na saúde. Além disso, estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que aproximadamente 43% das mulheres em países em desenvolvimento atuam na agricultura, segmento suscetível a eventos climáticos extremos. Por isso, assegurar a equidade de gênero é o caminho para construir um futuro sustentável, como sublinha a Agenda 2030 da ONU, especificamente no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 13: “Promover mecanismos para a criação de capacidades para o planejamento relacionado à mudança do clima e à gestão eficaz, nos países menos desenvolvidos, inclusive com foco em mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas”.

Carmen Petraglia, engenheira civil e conselheira federal

 

Essa nova abordagem do Programa Mulher garantirá mais pluralidade, na avaliação da presidente do Crea-MS que também integra o Comitê Gestor. “A centralização na promoção de um ambiente mais inclusivo, igualitário e diversificado é fundamental para que o programa continue a evoluir, já que as necessidades e demandas da sociedade estão em constante evolução”, ressalta Vânia Mello, ao apostar no aprimoramento do projeto. “Isso inclui a avaliação contínua das estratégias, além do envolvimento de todos os atores que integram o Sistema: entidades de classe, instituições de ensino e também os Creas Juniores. É um trabalho contínuo, altamente necessário e em plena evolução”, acrescenta. 

Vânia Mello, engenheira agrimensora e primeira mulher a assumir a presidência do Crea-MS, em 40 anos de existência da instituição

 

Censo Mulher 
Outra ação que irá tornar o projeto de equidade de gênero ainda mais robusto é o Censo Mulher do Sistema Confea/Crea. “A proposta é realizar um levantamento e analisar os dados, objetivando conhecer o contexto geral do exercício profissional das engenheiras, agrônomas, geólogas, geógrafas e meteorologistas do Brasil”, explica a conselheira Carmen, que acompanhou mapeamento similar no Crea-RJ, quando estava à frente do Grupo de Trabalho Mulher.

Na pesquisa nacional, o banco de dados do Sistema será utilizado como base para serem obtidas estatísticas relacionadas a grupo etário, data de colação de grau, média de idade dos formandos, origem, estado civil e especialidade. A sondagem irá abranger os mais de 1 milhão de registrados e irá gerar análises comparativas entre os dois gêneros. “É um trabalho de grande envergadura, mas esperamos poder finalizar ainda neste ano”, sinaliza a representante do plenário federal.  


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Julianna Curado 
Equipe de Comunicação do Confea, com informações da Cartilha do Programa Mulher 2021-2023
Fotos: Confea