Brasília, 9 de agosto de 2024.
As tratativas para levar para o Ceará um campus avançado do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA incluem iniciativas que uniram acadêmicos e engenheiros formados pela entidade sediada desde 1950 no município paulista de São José dos Campos. No início do ano, o lançamento da pedra fundamental do campus, que será localizado na Base Aérea de Fortaleza, demonstrou que desta vez a expectativa finalmente se tornaria realidade. Após as atividades fundamentais realizadas em São José dos Campos, a partir de 2025, o início das atividades do campus está previsto para 2027, com uma reserva de 30 vagas para cursos de Engenharia de Energia e de Engenharia de Sistemas. Há a previsão de que o campus também receba cursos de pós-graduação.
Referência na formação tecnológica brasileira há 74 anos, o ITA oferece atualmente os cursos de Engenharia Aeroespacial, Engenharia Aeronáutica, Engenharia Civil-Aeronáutica, Engenharia de Computação, Engenharia Eletrônica, Engenharia Mecânica-Aeronáutica, além dos cursos de pós-graduação. Vinculado ao ministério da Defesa, o Instituto foi criado pelo cearense Casimiro Montenegro Filho (1904-2000) com a missão de preparar engenheiros militares e civis para o desenvolvimento tecnológico do país. Os preparativos para a criação do Instituto, juntamente ao Centro Técnico de Aeronáutica – CTA se deram nos cinco anos anteriores, atribuindo-se a escolha da cidade paulista à proximidade com a rodovia Rio-São Paulo, às condições climáticas favoráveis, à topografia plana e à facilidade de comunicações.
ITA e Ceará
"Eu estou muito feliz com a instalação de uma unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica no Ceará. É o reconhecimento do talento dos jovens cearenses que vêm conseguindo uma inserção cada vez maior de aprovados no vestibular do ITA que, indiscutivelmente, é um dos mais difíceis do Brasil. O Ceará é destaque na lista de aprovados para seguir na ativa, que são aqueles que vão se engajar na carreira militar e também para a reserva que são aqueles futuros engenheiros que vão empregar seus conhecimentos nas empresas privadas e dar ênfase ao empreendedorismo. Nos últimos anos, o Ceará está sempre bem colocado no ranking de aprovações do ITA, o que mostra que o cearense tem a Engenharia correndo pelas suas veias. A vinda do ITA aqui para o estado vai fomentar ainda mais a procura dos nossos estudantes pela Engenharia. Para o Crea-CE isso é motivo de orgulho", afirma o eng. civ. Fernando Galiza, presidente do Crea-CE. "Temos que parabenizar e agradecer a todos os engenheiros que contribuíram, ao longo da história, para esse momento e também às autoridades que fizeram os esforços necessários para tornar esse sonho uma realidade", completou.
Conhecido por ser o estado que mais aprova alunos para o vestibular do Instituto, o Ceará comemora a chegada do ITA. A licitação para a escolha da empresa responsável pela elaboração do projeto e construção da primeira etapa da obra – no valor de R$ 89,5 milhões para os projetos básico e executivo e a construção de um bloco de alojamentos e um bloco com dois módulos de salas de aula – já foi aberta no início de maio. “Para nós é um orgulho que o Governo Federal tenha confiado a nós a construção desses alojamentos. A chegada do ITA ao Ceará é uma mudança do padrão de pesquisa e investimento por aqui. É algo que irá mudar o perfil do nosso estado”, comentou o governador do Estado, Elmano de Freitas.
Ex-aluno do ITA, o cearense Henrique Bessa informa que a instituição de ensino na qual ele atua como preparador para o vestibular do Instituto mantém uma média de 20% de aprovação no vestibular do ITA. “Mas a quantidade de aprovados de não cearenses aumentou muito”, considera. Anualmente, cerca de 300 alunos que estudam no Ceará, divididos em três turmas, concorrem a cerca de 180 vagas/ano. “Agora haverá essas 30 vagas para o Ceará. Eles não vão vir estudar já. Vão fazer dois anos em comum juntos, em São José. Para cá, eles viriam a partir de 2027 para fazer os três últimos anos”, diz, informando que as vagas são disponibilizadas apenas por meio do vestibular próprio do ITA.
Saudação a Telmo Bessa
O engenheiro mecânico-aeronáutico Henrique Bessa e o engenheiro mecânico Jesualdo Farias representam bem essa ligação entre o Ceará e o ITA. Neto de um grande incentivador da parceria, o engenheiro aeronáutico Telmo Bessa, Henrique diz que seu avô estimulou seu interesse pela instituição quando tinha 15 anos. “Era apaixonado pelo ITA, conheci o Instituto através dele”, comenta sobre a importância pessoal de um dos homenageados com a Láurea ao Mérito do Sistema Confea/Crea durante a 79ª Semana Oficial da Engenharia e Agronomia (Soea), a ser realizada de 7 a 10 de outubro, em Salvador.
As lembranças de Telmo motivaram a curiosidade do neto. “No tempo dele, o curso se chamava Mecânica de Aerovias, que abriga a área de materiais, bem relacionada à Engenharia Mecânica, à Metalurgia, onde meu avô atuou, quando focou em ferrovias. Ele me contava que havia muito mato e quando ele recebeu a turma de 1958 colocou os ‘bichos’ para capinar o campo de futebol. A convivência com os outros alunos foi muito boa. Se para mim foi impactante, imagina para ele”, descreve.
Ex-reitor da Universidade Federal do Ceará, onde Telmo Bessa deu aulas, o engenheiro mecânico Jesualdo Farias reforça o papel do engenheiro, falecido em 2007, como defensor do ITA no Ceará. “As tratativas do Telmo já eram destaque naquela época, era um discurso recorrente dele. Lamento que a memória das pessoas seja tão curta para não fazerem essa referência. Ele estaria feliz com essa conquista”, diz, destacando a importância da homenagem prestada pelo Sistema Confea/Crea ao profissional, que realizava consultorias estratégicas para o Estado até o final da sua vida.
“Tive várias vezes no ITA, conversando com os reitores. Esse processo começa no governo da presidente Dilma quando houve uma expansão do número de vagas. Houve um apoio muito grande do MEC para melhorar a infraestrutura, o orçamento da Aeronáutica. Eu era secretário de educação superior do MEC. Havia reação porque iria aumentar a quantidade de estudantes com estrutura de tempo integral. O ITA tem essa bandeira de manter a qualidade do ensino, no qual é uma referência. Mas houve uma mobilização por entidades como a Federação das Indústrias para ter esse campus para daqui a alguns anos atender à formação de doutores para atender a demanda. E o professor Telmo é uma dessas pessoas que lutaram por isso”, considera Jesualdo.
“Vovô era um grande entusiasta da vinda do ITA para cá. O primeiro ensaio de vinda do Ita para cá foi um convênio entre a UFC e o ITA que o professor Barros Neto alinhavou. Vieram professores do ITA dar aula, outros ex-iteanos. O ITA é fechado para parcerias, mas, por conta dessa iniciativa, já se falava por alto dessa possibilidade que está tendo a sua concretização agora. O (ministro da Defesa José) Múcio veio para cá e dois meses depois veio instalar. Pelo fato de o Múcio ser nordestino, Camilo (Santana, ministro da Educação) ser daqui, tudo isso pode ter ajudado”, diz.
Para Henrique, a intenção sempre foi a retenção dos alunos no Estado. “A preocupação do meu avô e de todos é de criar um ambiente de oportunidades para que o cara voltasse para Fortaleza. Esse ambiente ainda não existe com a devida valorização profissional, mas melhorou muito. Os que vinham para cá tinham que vir com a faca nos dentes para criar o próprio caminho. Diferente do que acontece em São Paulo, onde o engenheiro se torna militar ou vai para a Embraer ou para uma consultoria de negócios, aqui o cara tem que galgar seu próprio caminho. Quando se cria um ambiente empresarial para atrair o profissional a voltar, agrega muito para o Estado. Isso melhorou muito com o trabalho remoto, com profissionais trabalhando para empresas de São Paulo, assim como o mercado de educação melhorou muito. E o mercado de energia, mudou muito”, diz, citando a atuação do engenheiro e empresário cearense Mário Araripe nos setores de energia eólica, solar e de hidrogênio verde.
Iteanos unidos
Professor do colégio Farias Brito desde 2019, ele comenta que a convivência no alojamento é uma das experiências mais importantes da formação. “Sempre falo para meus alunos que o alojamento talvez seja uma das melhores partes, cria amizades muito fortes que mantenho até hoje”, diz, integrante ainda da Associação dos Engenheiros do ITA da região Nordeste – Aeita NE. Tendo feito a opção por seguir como civil, Henrique informa que “até o ano passado, você tinha que ser obrigatoriamente militar no primeiro ano, mas flexibilizaram essa regra”.
Segundo o engenheiro, a maioria dos “iteanos” ainda continua fazendo o curso, concluindo como aspirante a oficial. “No segundo ano, ainda no Fundamental, você pode continuar civil, se quiser. E no terceiro ano, os que passaram como militar vão seguir como aspirante até o final do curso”. Ele acrescenta que “não há diferença de tratamento de nota, só que o aspirante precisa ir fardado todos os dias e às segundas-feiras tem atividades militares no contraturno. A maioria tem três dias da semana à tarde ocupado. Alojamento, alimentação e plano de saúde estão inclusos, mas o civil só recebe no primeiro ano”.
Para o ex-aluno, o currículo não seria o maior diferencial do ITA. “O grande diferencial são os professores. Outra coisa que pouca gente fala é que existem poucos alunos, por isso o acesso aos professores é um diferencial, o acesso é muito fácil com pouca carga horária. Há intercâmbio para quem quiser fazer. Em São José, muitos alunos dão aula em cursos preparatórios da região para se manter. E há também estágios a partir do terceiro ano, em São Paulo”.
O engenheiro mecânico-aeronáutico sustenta que a evasão é quase nula no ITA. “Isso é uma coisa boa. A galera demora muito para passar, então pouca gente desiste. A convivência é maravilhosa, esse é o maior diferencial da faculdade. É uma libertação sair do colégio para a faculdade. São alunos tímidos e que só estudaram e lá conhecem o outro lado da vida, é uma faculdade muito inclusiva, não tem sectarismo”, descreve.
A integração entre os iteanos é medida pela atuação das associações de ex-alunos, AEITA-Brasil e Aita Ceará, que promovem de dois a três encontros por ano, discutindo temas relevantes. “No Natal, discutimos o hidrogênio verde. São sempre temas relacionados à engenharia. Agora no último dia 27 de julho, organizamos outros eventos que serão realizados ainda este ano”, diz.
Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Hiane Braun e Estácio Jr./Divulgação/Governo do Estado do Ceará e Ministério da Aeronáutica