Arquiteta questiona se espaço prisional cumpre objetivo de ressocializar

Brasília, sexta-feira, 4 de outubro de 2002. A arquiteta Suzann Cordeiro fez uma análise da evolução
"Suzann Cordeiro, arquiteta - Dalmi Rodrigues"
histórica do espaço prisional como ambiente habitável, ressaltando que teoricamente o objetivo da pena é punir e ressocializar ao mesmo tempo, e que o espaço prisional é onde essa pena e essa ressocialização deveriam acontecer.Suzann lembra que, na prática, o espaço prisional garante segurança para a população externa e punição para o delinqüente, segregando os que infringiram as regras do mundo dos "bons" num espaço destinado aos "maus", num antagonismo entre o sagrado e o profano e questiona: "onde está a ressocialização?".A partir daí, Suzann ressaltou a importância da mutação espacial, enfatizando que a Arquitetura é fundamental para os estímulos e inibições da personalidade do indivíduo, que estabelece uma relação simbiótica com o espaço reforçando suas experiências.A arquiteta defende uma transformação radical no espaço prisional, mas enfatiza que este, apesar de precisar de mudanças, não pode ser suprimido. Entre as críticas sobre os presídios existentes hoje, ela diz: "esquece-se de planejar o espaço temdo em vista o grupo ligado à dinâmica do ato criminoso". E defende: "O objetivo do espaço deve ser preventivo e não readptativo. O que temos hoje é segregatório e reforça a estigma de separar".Apresentando dados históricos, Suzann diz que inicialmente o espaço prisional servia para esperar as sanções legais (morte, suplício e etc,) configurando-se em grandes salas, onde os candidatos às sanções se aglomeravam. "Depois a igreja inovou quando criou celas para punir com penitência e orações os monges pecadores", conta.Foi na Europa, segundo Suzann, que apareceram os espaços destinados a segregar os indivíduos de má conduta social, sem no entanto serem condenados. Em 1816 foi criada a prisão celular onde havia isolamento noturno e durante o dia vida em comunidade em silêncio absoluto. E em 1818, surgiu a teoria do "Panótico", modelo compacto de dispositivo disciplinar, que evoluiu para o dos dias atuais.Bety Rita Ramos - Da equipe da ACS