Água: recurso corre risco, mas ganha novos profissionais para cuidá-lo

Brasília, 21 de março de 2006

"Augusto Machado"
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPS) cada ser humano necessita de 189 litros diários de água para atender as suas necessidades básicas como consumo, higiene e preparo de alimentos. Uma notícia ruim e outra boa sobre este recurso tão imprescindível a existência humana e que tem seu dia internacional comemorado amanhã, 22 de março: sua vida corre perigo e, em conseqüência, toda a raça humana também; ganhou, nos últimos anos, mais uma categoria profissional em sua defesa, o engenheiro de recursos hídricos.

Sobre o risco de vida, um estudo divulgado pelo Instituto de Gerenciamento da Água, um Centro de Pesquisa do Grupo Consultivo em Pesquisa Internacional da Agricultura, calcula que cerca de um terço da população mundial vai experimentar os efeitos da escassez de água nos próximos 25 anos. O trabalho projetou o suprimento e a demanda de água para 118 países no período de 1990 a 2025.

O trabalho dividiu os países em três categorias. A primeira é dos países que já vêm sofrendo escassez e que dificilmente manterão o mesmo nível de abastecimento de 1990 em 2025. Existem 17 países do Oriente Médio, Sul da África, regiões seca da índia e da China nessa situação. Eles somavam um bilhão de habitantes no início do período projetado e as expectativas do estudo é que cheguem a 1,8 bilhão em 2025.

Na segunda categoria estão os países que têm recursos potencialmente suficientes, mas que terão que redobrar os esforços para acessar esses mananciais. Neste grupo estão 24 nações da África, compreendendo 348 milhões de pessoas em 1990 e projetados para serem 894 milhões em 20025.

Na terceira categoria estão os países com reserva que permitem uma certa tranqüilidade como o Brasil, a América do Norte e a Europa.

Do total dos recursos hídricos do planeta 97% são de água salgada. Dos 3% restantes de água doce, 2,3% estão armazenadas nas geleiras e calotas polares e somente 0,7% estão contidos no subsolo, lagos, rios e são passíveis de exploração.

A crise da água no planeta é causada por inúmeros fatores como crescimento populacional desenfreado, a poluição por falta de saneamento, o desmatamento, a construção de hidrelétricas - capazes de mudar o curso original dos rios - o desperdício e as mudanças climáticas que fazem chover onde já é úmido, enquanto aumenta a seca dos desertos. O crescimento populacional particularmente nos países em desenvolvimento e a maior demanda de água para usos agrícola e industrial, provocaram o aumento do consumo global de água de 1.060 Km3/ano para 4.130 Km3/ano nos últimos 50 anos.

Reversão  “O Brasil possui uma das maiores reservas do mundo de água doce, mais apta para o consumo. Porém, o nosso desenvolvimento seguiu a mesma trilha de outros países, isto é, sem grandes preocupações em cuidar deste recurso tão importante e, principalmente, finito. E aí vem a degradação e o estado que nos encontramos hoje no mundo. Um dos principais papéis do engenheiro hídrico é fazer a gestão deste recurso e somar para a reversão deste quadro preocupante”, diz o eng. hídrico Augusto Machado, formado em 2002, na primeira turma de Engenharia Hídricade Recursos Hídricos da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), em Itajubá, Minas Gerais, a primeira no país a oferecer o curso que forma o que se pode chamar de profissionais especialistas em água.

Machado, que está cursando mestrado, com tese voltada às pequenas centrais hidrelétricas e é Coordenador-Geral de Fontes Alternativas do Ministério de Minas e Energia, explica que o curso tem duração de cinco anos, uma carga horária de mais de quatro mil horas, oferece formação em obras civis hidráulicas como barragens, comportas e desvios, entre outras e tem cadeira forte em hidráulica, hidrologia, mecânica de fluidos (combustíveis e derivados) e gestão ambiental dos recursos hídricos, entre outros. “Enfim, tudo que diz respeito às obras hidráulicas urbanas como saneamento e esgotos e obras de grande porte”, ressalta.

De acordo com Machado o mercado de atuação deste novo profissional é bastante amplo. “Somos um misto do engenheiro civil com o mecânico, o eletricista e o ambiental, porém focado nos recursos hídricos. Mas não somos uma área da engenharia que veio tomar o lugar de outros profissionais, viemos sim apresentar um trabalho mais especializado numa área específica e fundamental”, justifica.

Entre as opções de mercado para essa nova profissão o engenheiro cita empresas de prospecção de petróleo em águas profundas, institutos de gestão de águas, empresas que trabalhem na fabricação de bombas de água, o ensino, a pesquisa, produtoras independentes de energia, concessionárias de serviço público de eletricidade e saneamento entre outras. “Têm engenheiro hídrico, por exemplo, que criou uma empresa de monitoramento ambiental de recursos hídricos e trabalha na recuperação de lençóis freáticos poluídos. Outros que atuam em produtoras independentes de energia elétrica ”, acrescenta.

A UNIFEI iniciou o curso em 1998. De lá pra cá, já são quatro turmas disponibilizadas para o mercado, somando cerca de 80 profissionais. O curso foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) no dia 21 de maio de 2004 por meio da portaria 1.446.

Antes da UNIFEI este curso só existia na França. Hoje, além de Itajubá, a Universidade Vale do Rio Verde (Unincor), em São Gonçalo de Sapucaí, também em Minas Gerais, oferece o curso e já formou a primeira turma. Teve seu reconhecimento pelo Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais em 19 de agosto de 2005.

Hoje estes novos profissionais estão aguardando a definição oficial de suas atribuições profissionais pelo Confea. Devido ao fato de não existir este título na tabela de títulos profissionais, o Conselho elaborou um projeto de resolução específico para definir o título profissional e as atribuições dos egressos deste curso.

Atualmente o projeto de resolução está disponível para manifestação dos interessados no www.confea.org.br/normativos. Depois do cumprimento de todos os trâmites necessários, o projeto será levado a apreciação do plenário na reunião de junho próximo.

Bety Rita Ramos
Da equipe da ACOM