Eficiência energética, uso de água para produção sustentável de alimentos e interligação de energia global são destaques do 1º dia da Conferência Internacional

Brasília, 27 de julho de 2016.

Iniciou-se nesta quarta-feira (27), a Conferência Internacional Água e Energia: novas abordagens sustentáveis, que acontece em Brasília até sexta-feira (29). Após palestra ministrada pela Unesco, durante a manhã, para todos os participantes, à tarde os conferencistas se dividiram entre auditórios denominados “água” e “energia”, onde palestras simultâneas abordavam os temas de forma mais especializada. Eficiência energética, interligação de energia global, uso de água para a produção sustentável de alimentos foram alguns dos destaques. Confira o resumo de cada palestra:

Confira o álbum de fotos do evento

AUDITÓRIO ENERGIA

Energia limpa para a população global
A interligação de energia global para promover o desenvolvimento limpo e verde foi tema do debate entre o público da conferência e o engenheiro eletricista chinês Qu Yang, que é vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios e Administrativo da Companhia Nacional de Rede Elétrica da China, a State Grid Brazil Holding S.A. A empresa atua no Brasil desde 2010 – com concessão de 30 anos – no ramo de transmissão de energia, adotando um modelo de fornecimento baseado na sustentabilidade.

Yang explicou que a “interligação de energia global é uma rede forte e inteligente de energia limpa em forma de rede de ultra-alta tensão” (Ultra-High Voltage, na sigla em inglês, conhecida por apresentar vantagens como maior capacidade de transmissão, menos perda de energia e menos ocupação de terra). Baseado em uma plataforma verde, o serviço de fornecimento de energia é de elevada confiabilidade e amplo alcance, similar à rede conectada da internet. “A interligação se dá a partir da soma de redes inteligentes, as smart grids, de UHV e energia limpa”, ressalta Yang lembrando que o assunto está na pauta do atual governo chinês, a fim de atender à demanda da sociedade mundial por energia limpa. Ele reforça que o conceito de interligação não é vago, mas resulta de estudos sérios e especializados. 

A partir da interligação global, a estratégia é substituir progressivamente a energia oriunda de combustíveis fósseis por aquelas de fontes renováveis. Para isso, o projeto ligaria enormes bases de geração de energia centralizadas no Polo Norte (energia eólica) e no Equador (solar), por exemplo, a fim de fornecer energia renovável a vários clientes no mundo inteiro. A estimativa, segundo Yang, é de que em 2050 isso já seja uma realidade. Veja mais detalhes na palestra.  

Aos profissionais brasileiros, Yang sinalizou com otimismo que o Brasil tem grande demanda por desenvolvimento de energia, além de apresentar recursos ricos. Por isso, segundo o engenheiro, há amplas perspectivas para que o País desempenhe importante papel no desenvolvimento do conceito de inteligação de energia global no futuro por meio de inovação tecnológica, atualização de equipamentos e cooperação energética regional e internacional.

Assista à entrevista com Qu Yang:

 

 

Diretor da Eletronuclear diz que fontes de energia são complementares

Leonam dos Santos Guimarães, diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente, da Eletrobras Eletronuclear, falou sobre “Energia nuclear e o desenvolvimento sustentável”. Para ele, o tema da energia nuclear sofre resistência em todo o mundo, “muito relacionado às armas nucleares e a questões ideológicas”. Graduado em ciências navais e em engenharia naval, Guimarães defende que “é preciso utilizar de forma eficiente os recursos não renováveis com o aproveitamento simultâneo dos recursos potencialmente não exauríveis”.

O diretor da Eletronuclear defendeu a flexibilização do modelo de negócios do setor para maior participação da iniciativa privada. “O Brasil precisa de mais quatro a oito usinas nucleares”, informou. Com o mundo consumindo 11% de energia nuclear, enquanto o Brasil consome apenas 2%, Guimarães garantiu que as usinas “são seguras e que o mesmo tsunami que destruiu Fukushima atingiu e não provocou qualquer problema em outras 11 usinas nucleares”.

Para Guimarães, o fornecimento de energia para a humanidade passa por enorme desafio, com o crescimento das populações e a urbanização crescente. “A demanda de energia primária vai aumentar. A sustentabilidade pede uma transformação na geração de energia”, disse o diretor da Eletronuclear, para quem a melhor tecnologia para o abastecimento populacional “é união de todas as fontes. Elas são complementares. Todas as energias são associadas a tipos de risco. Nenhuma tecnologia de baixo carbono pode ser deixada de lado”. Veja o arquivo da palestra.

Assista à entrevista com Leonam Guimarães:

 

 

AUDITÓRIO ÁGUA

Produção sustentável de alimentos
A primeira palestra do espaço da água foi “Água e produção sustentável de alimentos”, ministrada pelo pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Lineu Neiva Rodrigues. Especialista em engenharia de irrigação e manejo da água, Lineu Rodrigues iniciou sua apresentação abordando a multifuncionalidade da agricultura. “O setor já não abrange apenas a produção de alimentos, mas também produção de energia – por meio da biomassa”, explicou, ao completar: “o Brasil é uma nação agrícola. O setor responde por 37% do PIB, utiliza 42% da mão de obra disponível no país, e integra 42% da exportação”.

Entre os desafios da produção de alimentos, Lineu destacou o crescimento populacional. “Em 2050 seremos 9.1 bilhões de pessoas. A demanda não será apenas por mais alimentos, mas por alimentos de melhor qualidade. A previsão é de que deveremos aumentar a produção mundial em 70%. E as bases do alimento são solo e água”. Outros desafios mencionados por Lineu foram o conflito sobre se o uso da água deve ser priorizado para a produção de alimentos ou para a geração de energia; e a desinformação – segundo ele, a imprensa divulga frequentemente números equivocados do setor. Veja os dados corretos e a palestra completa.

Assista à entrevista com Lineu Rodrigues:

 

Reúso potável de água
O diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água da Universidade de São Paulo, Ivanildo Hespanhol, palestrou sobre “O desafio dos poluentes emergentes ao reuso potável de água”. Ele alertou que os mananciais para abastecimento de água estão se tornando cada vez mais raros, mais distantes e mais poluídos. “O reúso potável indireto não é planejado, é prática prejudicial para o meio ambiente e para a saúde pública”, alertou. Acesse o arquivo da palestra de Hespanhol

Hespanhol ainda falou de normatização no Brasil, que hoje está limitada à Norma 2914. “Para fazermos normas precisamos de arcabouço legal, análise de aspectos ambientais e saúde pública, além do aspecto econômico. Não basta reproduzir normas internacionais, é preciso adaptá-las à nossa realidade”. Em maio, Hespanhol participou da Reunião Preparatória para a Conferência Internacional “Água e energia: novas abordagens sustentáveis”.

Assista à entrevista com Hespanhol:

 

PALESTRA FINAL



Rede Tecnológica de Eficiência Energética
Encerrando o primeiro dia de evento, às 17h, os participantes deixaram as salas divididas entre água e energia e retornaram ao auditório principal, onde participaram da conferência “Experiência sobre Rede Tecnológica Nacional de Eficiência Energética”. Luis Humberto Hernández, da Argentina, explicou que o desafio será diversificar a matriz. Em 2030, a demanda mundial crescerá em 58% e os recursos se esgotando.

Sobre a experiência em seu país, Luis Humberto defende que o país altere sua matriz energética, o que requer o aumento da utilização de energias renováveis, aumentar a eficiência energética e assumir compromissos de mitigação das mudanças climáticas regionais e globais. “Transformar uma matriz energética, como a Argentina, que depende de 86% de hidrocarbonetos, não é uma tarefa fácil ou barata. A Argentina não deve adotar uma política energética simplista e oportunista. Energia precisa de uma grande política abrangente, abordagem estratégica e com base em um consenso político”, defendeu.  Veja o conteúdo apresentado na palestra de Luis Humberto Hernández.

Assista à entrevista com Hernández:


Beatriz Leal, Fernanda Pimentel, Julianna Curado e Maria Helena de Carvalho
Equipe de Comunicação do Confea