Mineração marinha: problema ambiental ou solução para um futuro de escassez?

Brasília, 30 de abril de 2024

Mineração marinha

Em janeiro deste ano, o parlamento norueguês se tornou o primeiro a regulamentar a exploração mineira, ou mineração, no fundo do mar em partes do Mar da Noruega, atendendo a demanda crescente por metais que compõem as baterias de carros elétricos, cada vez mais escassos em terra. Em um primeiro momento, as atividades permitidas se concentram em estudo e pesquisa. Um projeto de mineração em escala industrial teria de passar pelo parlamento novamente.

“Exploração é conhecer, estudar. Retirar e minerar é explotação. São duas fases distintas”, esclareceu o coordenador Nacional das Câmaras Especializadas de Geologia e Engenharia de Minas, o geólogo Éder Carlos Moreira. “Com estudos e planos de risco, não vejo problema em fazer a mineração no fundo oceânico. Precisamos do lítio e do cobalto que estão lá. De qualquer forma, o custo é muito alto. As pesquisas vão dizer se vale a pena”.

O professor de Oceanografia Geológica da Universidade de São Paulo Luigi Jovane também vê com bons olhos a regulamentação promovida na Noruega. “Mineração marinha é o futuro com certeza, recursos naturais são escassíssimos e têm um alto impacto na produção. Ou vamos para outro planeta, ou vamos para o fundo do mar. É bom começarmos a estudar agora. Cada ano que a gente atrasa é mais um pé na fossa com as mudanças climáticas. Que bom que a Noruega está fazendo uma legislação inovadora. Impacto sempre vai ter, o que precisamos é planejar para que ele seja o menor possível. Não temos dados reais sobre mineração marinha, precisamos estudar muito. Conhecemos mais a lua do que o fundo do mar. É um estudo complexo, não sabemos como funciona a formação desses minérios, não conhecemos o impacto da exploração e nada pode ser executado até sabermos, porque o risco é gigantesco”.

Mineração marinha

Jovane celebra a permissão para que empresas petrolíferas possam fazer a pesquisa, porque elas têm os recursos financeiro e logístico - portos, navios, maquinário -, além do interesse comercial, em dar continuidade nos projetos. “Seria muito difícil achar recurso”, pontua. “A grande sacada da Noruega foi criar um arcabouço de regras e permitir que as empresas petrolíferas façam a pesquisa”.

De qualquer forma, houve bastante reação nacional e internacional de comoção ambiental em relação à aprovação do projeto de lei. Ainda que o texto foque na pesquisa para uma possível atividade mineradora no futuro, a resistência da população mirou nas consequências que essa prática por ocasionar. De acordo com o Jornal da USP, os impactos mais diretos nos locais de mineração são:

  • destruição das formas naturais do solo e da vida marinha (micro e macrofauna);
  • compactação do fundo do mar;
  • criação de plumas de sedimentos que perturbam a vida aquática. O material liberado pode percorrer grandes distâncias.  Ele pode sair, por exemplo, do Atlântico Sul e chegar até a Irlanda, o mar do Norte na Europa e ter um impacto gigantesco sobre o clima, a pesca, sobre as condições da água em outro lugar do mundo, porque todas as correntes são interligadas (prof. Luigi Jovane afirma que já há tecnologia que soluciona essa questão);
  • poluição sonora, luminosa, efeitos eletromagnéticos ou interrupção de suprimento de larvas;
  • contaminação e alteração do fluxo de fluidos;
  • distúrbio na diversidade ecológica.

“Proteger o meio ambiente é caro. Mas a raça humana deveria pensar o seguinte: ‘a gente não vai destruir o planeta, não temos competência para isso. Vamos destruir o ambiente que nos permite viver. Como realizar algumas atividades sem quebrar ligações ecológicas importantes?’”, alerta o professor do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo, Cláudio Gonçalves Tiago, que se coloca contra à ideia de mineração marinha e se manifesta pessimista frente aos passos da Noruega.

Quando perguntado se há alternativas à mineração marinha para o atendimento à crescente demanda por minerais e outros recursos, brinca: “mineração em terras indígenas” e conclui: “Será que no centro de São Paulo tem ouro? Não tenho ideia. Será que houve busca suficiente? E se acharem ouro no terreno ao lado do Theatro Municipal? Vão destruir o Theatro por conta disso? O que a humanidade quer manter e o que vale derrubar?” 

Beatriz Leal Craveiro
Equipe de Comunicação do Confea
Imagens produzidas com inteligência artificial