Na era da TV Digital brasileira

Brasília, 16 de maio de 2006

“A TV Digital provocará uma verdadeira transformação social, revelando a cara do Brasil”, afirmou o deputado Walter Pinheiro, durante a abertura do seminário internacional sobre TV Digital Futuro e Cidadania  obstáculos e desafios para uma nova comunicação -, realizado na Câmara dos Deputados no dia de hoje.

Para o parlamentar, relator do Projeto TV Digital no Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica, “dos modelos existentes, o japonês é a referência por sua alta definição e  recepção através de telefones celulares, o que é um forte apelo popular, permitindo mais interatividade, característica principal do modelo brasileiro,  porque gera a inclusão digital”.

O nível de desinformação  sobre TV Digital que existe há 15 anos, com emissoras funcionando normalmente em 19 países, é fator preponderante nas discussões, alertou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que falou pouco depois de Aldo Rabelo, presidente da Câmara, que abriu oficialmente o evento.

"Ministro Hélio Costa"
Impacto econômico - Para  empresários do setor, técnicos, parlamentares, ministros, representantes de entidades e ONGs, Hélio Costa  esclareceu que o ministério “elabora uma cuidadosa  transição” da TV Analógica para a Digital a ser submetida ao Congresso, e que “o governo dará as bases de funcionamento do sistema, não imporá nada”.

Segundo ele, o processo “que resultará em  muito mais do que  melhorar a transmissão de som e imagem, envolve, entre outros aspectos, a medição do impacto que a TV Digital provocará na receita média/ano do setor de rádio difusão, que gira em torno de  R$100bi, dos quais cerca de R$10bi do conjunto de empresas de tv, rádio, internet, e R$ 90bi das companhias telefônicas”.

“Há 12 anos se discute TV Digital no Brasil e a partir de 2003 o processo deslanchou com o decreto 4901. 1.200 profissionais, entre professores, técnicos, engenheiros e cientistas; 92 instituições públicas e privadas; um consórcio de 22 empresas de pesquisa, todos  envolvidos em encontrar a melhor forma de funcionamento e interatividade para a TV Digital aberta e gratuita no Brasil”, lembrou Costa na defesa, como Pinheiro, da elaboração de um modelo brasileiro que reúna o melhor do que já existe nos modelos norte-americano, europeu e japonês”.

Serviços - O deputado Inocêncio Oliveira, presidente do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica, da Câmara, falou da adoção de um modelo que privilegie a “universalização da informação no país onde até agora apenas 15% da população tem  acesso a TV por assinatura e a internet”. Para ele, a TV Digital será parceira na promoção de políticas públicas por meio de uma programação que  preste serviços nas áreas da saúde, educação e trabalho, incentivando a interatividade”.

O parlamentar  reconhece que a tecnologia avança independente de marcos regulatórios e que o país precisa de investimentos no setor industrial de semi-condutores.

Para Vic Pires Franco, deputado que preside a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, o debate atual gira em torno de disseminar  novas tecnologias para outros países, combater as diferenças sociais e dinamizar técnicas sociais de comunicação e política. Ele diz que “precisamos saber exatamente o que queremos fazer da mídia mais popular do Brasil”.

Antagonismos - “Não se pode   cristalizar processos de exclusão ao promover processos de inclusão, como a permitida pela interatividade do modelo brasileiro de TV Digital”. Alerta Ronaldo Mota, secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação, ao falar  das novas tecnologias que às vezes geram antagonismos. 

A facilidade do brasileiro  duas vezes mais rápido que o europeu, por exemplo,  ao usar os serviços eletrônicos bancários -, mostra o quanto a TV Digital poderá melhorar a qualidade de vida da população, afirma Mota para quem “o teor educativo e a base tecnológica têm a mesma importância nas discussões sobre TV Digital. São debates concomitantes”.

Adaptação - O secretário disse da urgência em investir na formação educacional da criança brasileira que assiste TV quatro horas/dia enquanto a européia, duas h/dia. “A TV Digital pode se tornar um elemento a mais na formação incentivando a interatividade”. Mota adiantou que a nova TV pode viabilizar, de imediato, a universidade aberta em 417 municípios.

Protocolos internéticos para que as redes de TV, telefonia e radiofusão possam interagir; custos e preços finais de produtos como softwares, logística de transporte, incentivos para empresas com base em inclusão digital são alguns dos assuntos que a TV Digital coloca nas rodas de debate técnico.

As casas brasileiras, de onde vão sair os televisores de tubo  que deixam de ser produzidos ano que vem  têm 10 anos para se adaptar a nova TV. A adaptação pode ser feita através de uma espécie de transcodificador  acoplado  aos aparelhos mais modernos ou já recorrendo aos fabricados para a era da TV Digital.

Maria Helena de Carvalho
Da equipe da ACOM