Conselheira Ana Adalgisa quer fazer comunicação integrada com o Crea-RN

Brasília, 30 de janeiro de 2024.

O sonho de ser engenheira foi desencadeado a partir de um desejo pueril de compreender e realizar uma obra, após acompanhar a construção de uma casa vizinha à sua, em Mossoró-RN, na sua infância. “Quando vi a obra, pensei em ser pedreira, mas logo entendi que meu verdadeiro sonho era o de ser engenheira civil”, conta a ex-presidente do Crea-RN e conselheira federal eleita eng. civ. Ana Adalgisa. Em seu primeiro ano de mandato, ela integrará a Comissão de Controle e Sustentabilidade do Sistema – CCSS, a Comissão Eleitoral Federal – CEF e ainda representará o plenário no Conselho de Comunicação e Marketing – CCM.

Nesta entrevista realizada durante o intervalo da sessão plenária da última sexta-feira (26/1), no Confea, ela comenta também algumas das suas realizações após dois mandatos à frente do regional, sua atuação na área e ainda expectativas de continuidade da parceria implementada com o presidente do Confea, eng. telecom. Vinicius Marchese, além da continuidade do Programa Mulher e do Programa Fortalece e ainda a realização de uma comunicação integrada com o Crea-RN e os profissionais do estado. 

A ampliação do “protagonismo” e também a atualização de normativos e de práticas do Sistema, bem como a atenção às demandas dos profissionais também estão entre as preocupações de seu mandato, compartilhado com o engenheiro civil e engenheiro de segurança do trabalho Emerson Cruz. “O WhatsApp que os profissionais procuram é o do presidente do Crea, não é o do conselheiro federal, mas a gente tem que saber o que está no WhatsApp do presidente do Crea para fazermos resoluções que atendam aos profissionais”, diz Ana Adalgisa, ao justificar a necessidade de uma aproximação maior entre o plenário do Confea e atuação dos regionais como um dos objetivos de seu mandato. 

“É muito significativo analisar essas pautas de desenvolvimento que envolvem a nossa categoria, dentro do plenário do Confea”. Com atuação como diretora executiva do Sindicato da Construção Civil do Rio Grande do Norte (Sinduscon) e  na coordenação de Relações Institucionais e de Mercado da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), Ana Adalgisa também destaca, na entrevista, a importância da ESG – padrões e boas práticas de gestão ambiental e social – na área da construção.
 

Conselheira federal eng. civ. Ana Adalgisa
Conselheira federal eng. civ. Ana Adalgisa

 

Site do Confea:  A senhora foi escolhida nas eleições de 2023, marcadas pelo avanço na representatividade dos profissionais registrados, com participação recorde de 19,17% do total de um universo de 739.428 habilitados para exercer o direito de voto. Como a senhora avalia essa participação e essa tendência de crescimento do interesse no pleito eletrônico?

Eu acho que foi um avanço significativo do Conselho, a gente se modernizou, finalmente. A eleição pela internet era algo que eu defendia desde 2020. E a gente viu o quanto ela foi necessária. Imagina um sistema de tecnologia, que representa a Engenharia, não ser com voto pela internet. Isso se mostrou com o aumento considerável do número de votantes. A gente sempre desejou que os profissionais participassem para que os eleitos tivessem mais representatividade, e o modo virtual proporcionou essa ampliação. No Rio Grande do Norte, foram quase 30%, teve um salto considerável.

Site do Confea: Fale da importância de representar a Civil no plenário federal?

A Engenharia Civil foi a primeira profissão que eu escolhi e a que eu quis direcionar toda a minha vida. E ao ser eleita conselheira federal da minha modalidade, da categoria de Engenharia Civil do meu Estado, tendo mais de 60% dos votos, isso para mim é bem significativo. Não é porque a Civil tem maior número de profissionais, mas é porque ela participa de vários setores de desenvolvimento do país. Então, a Engenharia Civil atua em questões como a redução do déficit habitacional, que é algo que esse país anseia há muito tempo; a necessidade de infraestrutura, construção de estradas, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos. Se formos imaginar a questão das energias renováveis, que é outro ponto que está se discutindo em torno do desenvolvimento nacional, e o Rio Grande do Norte tem um grande potencial energético, a Engenharia Civil também está presente. Então, é muito significativo analisar essas pautas de desenvolvimento que envolvem a nossa categoria, dentro do plenário do Confea.

Site do Confea:  Qual foi a motivação para formar chapa com o engenheiro civil Emerson Cruz Vieira, seu suplente?

Emerson é um grande parceiro, a gente já trabalhou junto, nós temos uma visão voltada à questão dos profissionais, das empresas, da construção civil, e Emerson tem um diferencial que é ele ser engenheiro de segurança do trabalho. Então, a Segurança do Trabalho do Rio Grande do Norte também tem um profissional eleito conselheiro, além de ser engenheiro civil. Então, eu acho que a gente uniu a minha experiência na Engenharia Civil, na área empresarial e como presidente de Crea com a experiência de Emerson no contato direto com os profissionais, especialmente da Engenharia de Segurança do Trabalho. 

A gente vai ter um espaço alinhado com o Crea-RN para que a gente divulgue as nossas ações

Site do Confea:   Quais os principais compromissos assumidos diante dos profissionais e que serão suas metas neste mandato? 

A gente assumiu com os profissionais do Rio Grande do Norte, primeiro, ampliar esse protagonismo da nossa categoria, da Engenharia, da Agronomia e das Geociências, a nível nacional, compromisso esse que também é diretamente ligado aos compromissos do presidente Vinicius. Então, a gente quer participar das discussões nacionais que gerem desenvolvimento, mas nós também queremos, com a nossa experiência de presidente de Crea, revistar algumas resoluções, alguns normativos, que façam com que a gente caminhe para a modernidade. A gente deu um salto ao fazer a eleição pela internet, mas nós temos que dar um salto em nossos normativos. O Crea-RN foi o primeiro Crea a ter, através de uma parceria com o Serpro, uma carteira digital com todos os seus serviços vinculados. Fizemos o certificado digital, porém, os normativos do Confea não estão preparados para isso. Tem certidões que o profissional solicita que têm que ser assinadas a mão, e não com o certificado digital que o próprio Crea hoje emite. Quem sabe até o certificado seja um serviço gratuito aos profissionais, como forma de oferecer um retorno às anuidades. A gente também pode pensar a questão de ter cashbacks em normativos, pensar em uma promoção maior de capacitação, de convênios que o próprio Conselho Federal possa fazer para que o profissional possa ter uma atualização profissional, uma inserção nas novas profissões que precisam da nossa base.  Então, a gente precisa revisitar isso, deixar o nosso Sistema mais automatizado, menos burocratizado, e ter uma aproximação do conselheiro federal com os profissionais. Os profissionais precisam saber que existe um conselheiro federal, e este conselheiro federal precisa saber que ele trabalha para estes profissionais. A gente vai divulgar, vai ter um espaço alinhado com o Crea-RN para que a gente divulgue as nossas ações, além das participações na plenária, mas estando presente no dia a dia deles lá no Rio Grande do Norte. Minha base é no Rio Grande do Norte, e eu entendo que a gente precisa estar dialogando e trazendo o dia a dia do Confea para eles, para eles conhecerem o Confea e qual o nosso papel na vida profissional deles, como nós impactamos. Nós vamos fazer vídeos, eu sou bem ativa em rede social, o Crea também. Então, a gente vai fazer uma comunicação integrada com o Crea pra que as nossas ações sejam disponibilizadas e percebidas pelos profissionais. 
 

Site do Confea:  E quais são as expectativas quanto ao trâmite dessas prioridades na rotina de trabalhos no Confea? Quais esforços o senhor irá empregar para emplacar esses projetos?
 

A nossa participação vai ser sempre de parceria com a gestão do Confea, com o presidente Vinicius, dentro da linha de trabalho que ele tem porque a gente já tem essa parceria há muito tempo, quando éramos presidentes desenvolvemos várias ações conjuntas. O Confea participou, por exemplo, do lançamento da nova política industrial do Brasil como convidado de destaque. Então, a gente quer ampliar isso aí, participando de conselhos como no Conselho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), verificar quais são os espaços no governo federal para se discutir habitação, para se discutir desenvolvimento, como é que a gente pode se inserir neste papel. Essa é a linha do protagonismo, mas nós temos também a linha da inovação, que é essa modernização das resoluções. E buscar nas comissões a maior integração, e que os Creas tenham uma participação, tenham o olhar diferenciado dos conselheiros para com eles. Porque é o presidente do Crea que está na ponta. O WhatsApp que os profissionais procuram é o do presidente do Crea, não é o do conselheiro federal, mas a gente tem que saber o que está no WhatsApp do presidente do Crea para que, no nosso formato de legisladores que somos, fazermos resoluções e decisões plenárias que atendam exatamente às necessidades apontadas pelos profissionais.
 

Site do Confea:  Como a senhora tem acompanhado a atuação do Sistema Confea/Crea e Mútua nos últimos anos? Que programas e atividades a senhora acredita estarem na direção correta e quais a senhora percebe que possam ser aperfeiçoados com sua contribuição?

Olha, o salto que a gestão do presidente Joel deu para o Confea foi esse alinhamento do Confea com o Congresso Nacional, com o poder público. A gente estava à margem e agora nós somos vistos e ouvidos. Tenho certeza de que isso ainda tem um grande caminho a ampliar, o que é inclusive um compromisso do presidente Vinicius. A linha da comunicação: nosso conselho não se comunicava, o meu conselho não se comunicava. E a comunicação é fundamental, exatamente pra que o profissional perceba os benefícios do Crea, ele seja um defensor do Crea, e não um acusador do Crea, aproximando a sociedade do Crea, aproximando os profissionais do Crea, e os Creas dos profissionais. Porque quando a gente passa a dizer o que nós fazemos, e as possibilidades que existem dentro do Sistema, a gente faz com que os profissionais percebam que ele não paga um cartório, ele paga um Conselho. E a comunicação precisa penetrar nos mais diversos rincões desse país. Nós não temos engenheiros apenas nas capitais, temos engenheiros em todo o Brasil, e essa é a função dessa comunicação que o presidente Joel iniciou e que certamente vai ficar com o presidente Vinicius. Outro programa mais interno, de fortalecimento dos Creas, é o Fortalece. Ele fez com que os Creas transformassem sua gestão, e ao melhorar sua gestão, aumenta sua receita e diminui sua dependência perante o Conselho Federal. Então, a gente pretende fazer uma análise dos números do Fortalece, que indicadores são de gestão, se esses indicadores têm que ser fixos, aquele que já evolui, qual é o próximo indicador? Como é que a gente pode construir uma evolução contínua do Crea? Eu tenho Crea que já atingiu o indicador, estava em um patamar elevado, e não atinge mais no mês seguinte, e aí ele é punido. Então, nós temos que rever isso aí, esse é um dos compromissos, inclusive eu estou na Comissão de Controle e Sustentabilidade do Sistema (CCSS) e a gente vai focar nessa questão do Fortalece. Um outro: uma aproximação com os tribunais de controle, com o TCU, CGU, nos estados os tribunais de contas, o Ministério Público. Como a gente pode fazer essa integração? Nós somos fiscalizados por eles, mas temos que entendê-los e eles nos entenderem. Então, essa conexão é fundamental e eu acredito que isso também vá ser um dos pontos de pauta que eu trago, que já foi iniciado, assim como também a questão institucional, que é o Conselho ser visto pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção e outros órgãos que podem ser parceiros importantes. Outro programa é o Programa Mulher, do qual fiz parte, criamos lá no Rio Grande do Norte, e que a gente já começa a colher os frutos. Temos hoje um número significativo de mulheres presidentes, o meu estado é o que mais teve mulheres presidentes, então a gente começa a formar novas líderes. O Crea Júnior é um programa importantíssimo nesta formação. Porque começa a despertar o interesse dos estudantes, das estudantes, dentro de um processo em que ela vê que é possível chegar lá. Então, o Programa Mulher possibilita o surgimento de novas lideranças femininas no Sistema, mas, acima de tudo, fortalecer o papel da mulher no mercado de trabalho, isso é fundamental.
 

Site do Confea:  As áreas da Engenharia, Agronomia e Geociências têm questões fundamentais tramitando no Legislativo e Executivo; por isso, nos últimos anos, a interlocução do Sistema Confea/Crea e Mútua com esses Poderes tem sido refinada. Como a senhora pretende atuar diretamente nesta frente? 

Eu já venho trabalhando isso no meu Crea, uma interlocução muito forte com a nossa bancada federal, isso é uma característica que eu implantei no Crea, inclusive, com assessoria parlamentar, institucional. Uma das questões é amplificar esse diálogo, nós temos que ser vistos no Congresso, ser propositivos ao Congresso, e não fazer algo reativo, nós temos que chegar lá com propostas. Os nossos presidentes têm uma grande capilaridade, porque todos têm contatos com suas bancadas, e o Confea pode coordenar isso aí, levando junto com os presidentes de Creas os conselheiros, tanto por região, quanto por profissão, para que a gente possa fazer essa interlocução e se aproximar cada vez mais do Congresso. A aproximação tem que ser com propostas de lei, com defesas de bandeiras e onde a gente seja visto como ente participativo técnico e político. Nós somos um Conselho com um milhão de profissionais, então nós temos uma massa crítica muito grande. Se eu falo que a Engenharia é desenvolvimento, e se o desenvolvimento do país passa pelo Congresso Nacional, o Congresso tem que nos ouvir. E pra nos ouvir a gente tem que mostrar a nossa importância. Eu acho que esse é o grande desafio.
 

Site do Confea:  No final de seu mandato de conselheiro, qual marca pretende deixar para os profissionais e para o Sistema?

Que conseguimos levar a Engenharia, a Agronomia e as Geociências a serem profissões reconhecidas como profissões desenvolvimentistas. No Brasil, energias é Engenharia, o petróleo é Engenharia, o agronegócio é Engenharia, a mineração é Engenharia. Então, se a gente fizer com que a sociedade nos enxergue como o grande motor do desenvolvimento deste país, através do nosso conselho federal, eu vou estar muito bem atendida. E o segundo ponto, é que os profissionais percebam que o nosso conselho é inovador, ele chega perto deles, ele está lá como parceiro de capacitação, de inovação, com ações. A gente tem que ter ações práticas que interfiram diretamente na vida do profissional, facilitando a vida dele, e não interferindo burocraticamente. 

O grande orgulho da minha vida foi ser presidente de Crea


Site do Confea: O que, na sua história de vida, a fez optar por sua especialidade?


Eu costumo dizer, e é sério, eu antes de sonhar em ser engenheira, eu queria ser pedreira. Porque estavam construindo uma casa vizinha à minha e eu achava muito bacana aquela transformação, mas eu tenho uma tia que foi a primeira engenheira de Mossoró, então logo entendi que meu verdadeiro sonho era o de ser engenheira civil. As coisas me levaram à Engenharia. Eu sonhei ser pedreira, virei engenheira, pelas condições que a vida me deu. O grande orgulho da minha vida foi ser presidente de Crea, representar todas as categorias da profissão que eu escolhi ainda muito nova e poder transformar esta profissão, através das atividades de conselheira federal, é muito significativo. Porque eu vou estar impactando não só na vida dos profissionais do Rio Grande do Norte, mas do Brasil. E quando impacta na Engenharia, a gente gera desenvolvimento. Desenvolvimento gera emprego para o pedreiro que eu queria ser. 

Site do Confea: A senhora atua hoje na sua profissão? O que a senhora faz?

Eu tive construtora, a minha vida profissional foi no Sinduscon e hoje eu estou na Federação das Indústrias (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte – Fiern) na parte de gestão.

Site do Confea:  Com o advento do modelo de governança ESG nas empresas em todo o mundo, quais os principais desafios para o setor de construção civil?

A construção civil sempre foi uma indústria que precisava se modernizar. Você pode pensar, por exemplo, no método construtivo do Forte dos Reis Magos, em Natal, há quase 500 anos, com pedra, óleo de baleia, pedra. E se você pensar o método construtivo das casas de hoje, não é diferente, só mudou o material com tijolo, argamassa e tijolo. E a gente pergunta: qual é a evolução da construção civil? Por que a gente não faz tudo de painel, de gesso, com uma placa? Isso começa a acontecer, ainda não em grande vulto, mas ela começa a se transformar, até pela transformação do próprio mundo. E aí quando você pensa nos materiais, você está gerindo novas tecnologias, mas essas novas tecnologias também têm que ter impacto ambiental. Falam que a construção civil degrada o meio ambiente, mas ninguém vende apartamento para pedra. A gente vende uma vista, um jardim, um parque, então, o meio ambiente é fundamental dentro da construção. E essa visão, tanto ambiental, de obra, quando da venda, do entorno, do urbanismo urbano, é importante. Então, eu tenho que pensar a parte ambiental do que vai ser finalizado, mas para isso eu tenho que pensar na parte ambiental do meio e do antes. E aí envolve não só essa questão ambiental, mas social. Cada vez mais nós temos que estar pensando não só na geração de emprego, mas nas condições de trabalho, que aquelas pessoas que estão gerando riqueza, também têm que gerar riqueza para si e com satisfação. No Crea, sem ter um programa oficial de ESG, a gente fez todo um trabalho ambiental, de melhoria do entorno, criamos o Crea Sustentável, mas também fizemos a parte de acolhimento dos nossos servidores, o que é fundamental, as pessoas têm que gostar de trabalhar. Você passa mais tempo onde você trabalha do que onde você mora. Então, aquele ambiente tem que ser agradável. Então, é esta construção que precisa ser vista. A construção civil hoje passa por essa transformação e por esse desafio, melhoria dos materiais, o descarte destes materiais, o contexto dos profissionais que antigamente eram aqueles analfabetos e que hoje têm todo um trabalho de melhoria das suas condições de vida, e de trabalho, óbvio, e também na gestão disso tudo. Como você gere o seu negócio? Então, tudo isso está englobado, e a gente vai debater e dialogar para que isso avance, junto com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção e na minha área que são os Sinduscons, sempre visando a importância dos profissionais da Engenharia nessa área. 

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Foto: Yago Brito/Confea