Arlindo Coelho Fragoso

Cerca de seis mil pessoas transitam na Escola Politécnica da Bahia e outros milhares passam diariamente pela Avenida 7 de Setembro, em Salvador. O que esses transeuntes têm em comum são as mãos visionárias e criadoras de um engenheiro chamado Arlindo Coelho Fragoso, nascido no século retrasado e vivido até a década de 1920.

Baiano da cidade de Santo Amaro da Purificação, Arlindo passou sua infância e adolescência entre as cidades portuguesas de Porto e Lisboa. Quando regressou ao Brasil, estudou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, então capital do Império. De volta à Bahia, em 1896 Arlindo começou a articulação entre colegas de profissão para a criação do Instituto Politécnico da Bahia, que viria a se transformar, um ano depois, na Escola Politécnica da Bahia.

A partir de então,  a Politécnica começou a funcionar num velho sobrado do centro da cidade, a poucas quadras da Escola de Medicina, cujos estudantes, instalados no suntuoso edifício do Terreiro de Jesus, caçoavam da vizinha pobre, chamando-a de “Colégio do Arlindo”. Antes de chegar ao novo edifício, a Escola passou por maus bocados quando, em 1904, o Governo do Estado suspendeu os subsídios, momento em que Arlindo Coelho Fragoso provou sua paixão pela instituição.

Sem pagamentos por conta da falta de recursos, os docentes resolveram não mais dar aulas. Ex-aluno de Arlindo, o engenheiro Cornélio Daltro de Azevedo, em discurso proferido ainda em 1942, contou que após as saídas dos demais professores, Arlindo contava apenas com outros dois colegas que se dispuseram a permanecer, pelo bem da Escola. Na ocasião, Arlindo reuniu seus estudantes e foi transparente: esclareceu que se a Escola ficasse sem aulas durante 20 dias, seria fechada. Dispôs-se a ministrar todas as cadeiras que aqueles outros dois professores não pudessem ministrar e pediu compromisso dos estudantes para comparecerem às aulas. 

De acordo com Azevedo, no dia seguinte, todos os alunos se fizeram presentes e, a partir de então, Arlindo deu diariamente aulas de todas as cadeiras do curso - cumprindo à risca o programa - entre 7h da manhã e 17h da tarde, durante uns 10 dias. Azevedo definiu a atuação de Arlindo como “uma demonstração hercúlea de um devotamento sem igual, até que começaram os nossos lentes a voltar à Escola, retomando suas cadeiras”. 

A primeira turma de engenheiros da Escola Politécnica da Bahia - cinco engenheiros geógrafos e três engenheiros civis – formou-se antes desse incidente, em 1903. Atualmente a Escola possui seis cursos de graduação, cinco linhas de mestrado, 16 cursos de especialização, diversos cursos de extensão e 40 grupos de pesquisa, sendo a maior unidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o maior centro de ensino de Engenharia da Bahia.

Casado e pai de dois filhos, Arlindo também se engajou politicamente e no cenário literário, setores em que professava ideias republicanas na virada do século XX para o XXI, quando o Brasil saía do Império. Foi secretário de Agricultura do primeiro governo eleito no seu Estado e deputado federal por dois mandatos pelo Partido Republicano Democrata da Bahia. No Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, onde assumiu o cargo de diretor, trabalhou ao lado de Machado de Assis, no setor que cuidava da edição do boletim do Ministério.

Como jornalista, colaborou no Jornal de Notícias, escrevendo crônicas. No início do século XX, tinha, ainda, um jornal próprio, em que publicava textos que combatiam o governo. Há também referências sobre Arlindo ter escrito peças de teatro. Além disso, o engenheiro foi o idealizador e organizador da Academia de Letras da Bahia, fundada em 1917. Hoje, a ALB concede homenagens com uma medalha que leva o nome de seu fundador.

Referência na Engenharia, na Administração Pública, na Economia, no Jornalismo, no trabalho legislativo e na ação política, o homem público, discípulo, mestre, amigo e criador Arlindo Coelho Fragoso faleceu em janeiro de 1926, deixando um legado, cuja pedra fundamental foi estabelecida em 1889: quando construiu e fundou a Biblioteca Municipal de Santo Amaro da Purificação (BA), sua cidade natal, de onde foi prefeito antes de se mudar para Salvador e revolucionar a engenharia baiana.

Por Beatriz Leal

Equipe de Comunicação do Confea